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Congresso vetaria plano do governo
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), coordenou
o cerco do Congresso contra a
idéia de aumentar de 20% para
20,6% a contribuição previdenciária das empresas para cobrir a
correção dos aposentados.
Seu argumento era que a tentativa de aumento seria "um desastre", porque o governo teria o
ônus político sem o bônus econômico. O setor empresarial não engoliria a medida. O Congresso
não a aprovaria, avisou.
Ontem, o ministro Guido Mantega (Planejamento) admitiu:
"Nós sentimos a reação do presidente da Câmara, levamos, evidentemente, em consideração as
possibilidades de aprovação e
chegamos à conclusão de que valia à pena retirar a medida".
João Paulo agiu em três frentes:
pressionou a cúpula do governo,
articulou uma reação em cadeia
dentro do PT e também nos partidos aliados e deu fortes declarações à imprensa. Os vice-líderes
do PT e do governo saíram em
campo, telefonando para os ministros e condenando a medida
em entrevistas. Os líderes aliados
vieram em seguida, especialmente José Múcio (PTB-PE) e Pedro
Henry (PP-MT).
A primeira tentativa de João
Paulo, ainda no sábado, dia seguinte ao anúncio do aumento,
foi um telefonema para o ministro José Dirceu (Casa Civil). Mas
Dirceu tirou o corpo fora: "Isso é
com o Palocci [Antonio Palocci
Filho, ministro da Fazenda]".
A pressão passou, então, para
Palocci e diretamente para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro, que é deputado
federal, soube da possibilidade do
aumento quando se dirigia ao
Planalto para uma audiência com
Lula, na sexta-feira, às 15h.
Ele estava entrando no elevador
da CNI quando foi avisado por
um assessor da reunião de Dirceu
com outros ministros e com representantes dos aposentados em
que o aumento foi discutido. Sua
agenda no Planalto mudou.
Ele foi convidar Lula para uma
solenidade do Sesi em Belo Horizonte no dia 6 de agosto (Lula,
aliás, aceitou), mas passou a fazer
uma longa exposição sobre todos
os malefícios da medida. Seria,
em resumo, aumento de uma carga tributária já altíssima e um estímulo à informalidade.
Lula se declarou "preocupado"
e avisou que Palocci entraria em
contato por telefone. De fato, o
ministro ligou para o presidente
da CNI na segunda-feira.
Na terça-feira, Lula reuniu os
ministros, inclusive Dirceu e Palocci, e telefonou para deputados.
Foi o presidente quem bateu o
martelo a favor do recuo. Ele se
convenceu de que o aumento não
passaria no Congresso.
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