São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

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Congresso vetaria plano do governo

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), coordenou o cerco do Congresso contra a idéia de aumentar de 20% para 20,6% a contribuição previdenciária das empresas para cobrir a correção dos aposentados.
Seu argumento era que a tentativa de aumento seria "um desastre", porque o governo teria o ônus político sem o bônus econômico. O setor empresarial não engoliria a medida. O Congresso não a aprovaria, avisou.
Ontem, o ministro Guido Mantega (Planejamento) admitiu: "Nós sentimos a reação do presidente da Câmara, levamos, evidentemente, em consideração as possibilidades de aprovação e chegamos à conclusão de que valia à pena retirar a medida".
João Paulo agiu em três frentes: pressionou a cúpula do governo, articulou uma reação em cadeia dentro do PT e também nos partidos aliados e deu fortes declarações à imprensa. Os vice-líderes do PT e do governo saíram em campo, telefonando para os ministros e condenando a medida em entrevistas. Os líderes aliados vieram em seguida, especialmente José Múcio (PTB-PE) e Pedro Henry (PP-MT).
A primeira tentativa de João Paulo, ainda no sábado, dia seguinte ao anúncio do aumento, foi um telefonema para o ministro José Dirceu (Casa Civil). Mas Dirceu tirou o corpo fora: "Isso é com o Palocci [Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda]".
A pressão passou, então, para Palocci e diretamente para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro, que é deputado federal, soube da possibilidade do aumento quando se dirigia ao Planalto para uma audiência com Lula, na sexta-feira, às 15h.
Ele estava entrando no elevador da CNI quando foi avisado por um assessor da reunião de Dirceu com outros ministros e com representantes dos aposentados em que o aumento foi discutido. Sua agenda no Planalto mudou.
Ele foi convidar Lula para uma solenidade do Sesi em Belo Horizonte no dia 6 de agosto (Lula, aliás, aceitou), mas passou a fazer uma longa exposição sobre todos os malefícios da medida. Seria, em resumo, aumento de uma carga tributária já altíssima e um estímulo à informalidade.
Lula se declarou "preocupado" e avisou que Palocci entraria em contato por telefone. De fato, o ministro ligou para o presidente da CNI na segunda-feira.
Na terça-feira, Lula reuniu os ministros, inclusive Dirceu e Palocci, e telefonou para deputados. Foi o presidente quem bateu o martelo a favor do recuo. Ele se convenceu de que o aumento não passaria no Congresso.


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