São Paulo, Quinta-feira, 22 de Julho de 1999
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MERCADO FINANCEIRO
Volume no pregão está 34% menor do que em junho; causas seriam recesso político e tributo
CPMF e pessimismo esvaziam Bolsa

MARCELO DIEGO
da Reportagem Local

A incidência da CPMF (Cobrança Provisória sobre Movimentação Financeira) e a falta de novidades políticas estão afugentando o investidor da Bolsa de Valores de São Paulo neste mês.
A Bovespa é a principal Bolsa brasileira, respondendo a 87,2% do mercado acionário no país.
Neste mês, o volume financeiro registrado diariamente tem sido de R$ 470,857 milhões, na média e até ontem. No mês passado, também até o dia 21, a média era de R$ 718,314 milhões (queda de 34,45%).
Julho só não tem sido pior do que janeiro (média de R$ 453,078 milhões) no ano.
Analistas apontam fatores sazonais como um dos responsáveis pela queda do giro na Bolsa. Como são férias no Hemisfério Norte (onde ficam EUA e Europa), o fluxo de capital de investidores estrangeiros diminuiu.
Nos dez primeiros dias deste mês, houve entrada (por meio de compra de ações) de R$ 815,687 milhões dos estrangeiros. Nos dez primeiros dias de junho, a entrada somava R$ 1,313 bilhão.
Mas o principal fato inibidor da compra de ações seria a CPMF. O tributo de 0,38% sobre qualquer operação financeira, aliada à taxa média de corretagem de 0,50%, torna mais caro o movimento de compra e venda de ações.
"A CPMF está transferindo liquidez para a Bolsa norte-americana. Embora os preços dos papéis estejam mais atrativos no Brasil, o risco local é maior, pois a economia brasileira ainda apresenta números preocupantes", afirmou Alberto Alves Sobrinho, analista de renda variável da Fair Corretora.
A maioria das ações brasileiras são comercializadas na Bolsa de Valores de Nova York, por meio de ADRs (American Depositary Receipts).
Negociando diretamente no exterior, o investidor não precisa pagar a CPMF e não corre o risco de uma desvalorização cambial.
O volume de ADRs brasileiros negociados em Nova York passou de US$ 60 milhões (antes da cobrança do tributo) para US$ 300 milhões.
"Para a Bovespa, a CPMF é um tributo perverso. Ela coloca os corretores brasileiros em desvantagem em relação aos estrangeiros e vai provocando o esvaziamento do mercado", disse Nicolas Balafas, do Banco BNP.
Mas, além da CPMF -que entrou em vigor no mês passado-, o fato de ser recesso parlamentar no Brasil atrapalha os negócios.
O investidor, preferencialmente o estrangeiro, está esperando do governo uma definição sobre as reformas necessárias para garantir a estabilidade fiscal.
"Faltam notícias e uma tendência clara para a Bolsa", disse Gabriel Coutinho Jafet, analista da Oryx Asset Management.
Com volume menor, a Bolsa fica mais suscetível a oscilações. Todas as grandes operações de compra e venda acabam influenciando o índice Bovespa.
"Sem investidor estrangeiro, fica difícil para a Bolsa ter uma variação grande", disse Jafet.
Embora a sazonalidade seja apontada como um dos fatores da queda do volume financeiro, isso não aconteceu no ano passado.
Nos 21 primeiros dias de julho, houve um aumento de giro de 4,35% em relação ao mesmo período de junho.
Em julho de 1998, porém, a CPMF cobrada era de 0,2%, o câmbio era semifixo e a crise russa (que provocou falta de confiança nos países emergentes) ainda não havia estourado.


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