São Paulo, Quinta-feira, 22 de Julho de 1999
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"Soluço de preços" não muda a política de juros, diz Fraga

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O governo não vai mudar sua política de redução da taxa de juros só por causa do que Armínio Fraga, o presidente do Banco Central, chama de "soluços de preços".
É uma alusão aos índices mais recentemente divulgados que apontam saltos na inflação tanto no IGP-10 (Fundação Getúlio Vargas) como no índice da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
O IGP-10, calculado entre 11 de junho e 10 de julho, registrou variação de 1,39% contra uma deflação de 0,06% no período imediatamente anterior. Idêntico salto deu o índice da Fipe, que, para os 30 dias terminados dia 15, foi de 0,53%, contra apenas 0,29% na quadrissemana anterior.
Para Armínio, esses "soluços" decorrem exclusivamente de aumentos dos preços públicos e/ou administrados pelo governo, como é o caso dos combustíveis e das tarifas públicas.
"As condições básicas indicam, ao contrário, uma queda da inflação, na trajetória que traçamos há algum tempo", diz o presidente do BC.
É uma alusão à nova âncora econômica, as "metas de inflação", que substitui a âncora cambial para assegurar a estabilidade dos preços.
A meta, para este ano, é de 8% de inflação, admitindo-se variação de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Ou seja, a inflação poderá ser, ao terminar 1999, tanto de 6% como de 10% que, ainda assim, as metas terão sido atingidas.
Armínio garante que o intervalo de dois pontos percentuais não se destina a "ficar passeando dentro da banda". Ou seja, o objetivo é ficar o mais próximo possível dos 8% este ano. "Dá para atingir essa meta sem susto", aposta Armínio.
Ele acha, pelos dados até agora disponíveis, que a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) não irá além de 8,3% este ano. O IPCA é o balizador escolhido pelo BC para a política de "inflation targeting" ("metas de inflação").
A margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo serve apenas como amortecedor para eventuais choques internos ou externos que possam pressionar a inflação.
No que se refere à taxa de juros, Armínio diz o seguinte:
"A política monetária do BC será pautada exclusivamente pelas nossas expectativas de inflação".
Como a expectativa é de queda, não de aumento, não há razão, portanto, para que se interrompa a trajetória declinante das taxas de juros.
Não obstante, o presidente do BC, como era previsível, diz que o BC está "vigilante" para evitar que o que chama de "soluço de preços" não se transforme em inflação de fato.


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