São Paulo, Quinta-feira, 22 de Julho de 1999
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LUÍS NASSIF

Governo mais focado

Embora tenha decepcionado pela pouca ousadia, aos poucos o remanejamento ministerial vai tornando mais nítido o formato do segundo governo FHC. O governo ficou mais lógico, tanto em relação a sua "missão" como em relação ao funcionamento interno.
Em empresas ou governos, um dos pontos centrais para o aumento da eficiência é saber "focar" o negócio -ou seja, definir os objetivos principais, sem se dispersar com ações paralelas.
No primeiro governo, o foco único era a estabilização da moeda a qualquer preço. No segundo, havia um discurso vago em favor do desenvolvimento, mas sem que se conseguisse enxergar ações objetivas em torno da proposta. Nos discursos de posse dos novos ministros, já é possível identificar três objetivos nítidos: o estímulo às exportações, os chamados projetos estruturantes (de integração nacional) e o aumento da eficácia gerencial do setor público.
Quando as prioridades ficam claras, é mais fácil organizar as atividades em torno dos objetivos propostos e melhorar a percepção da opinião pública e do público interno sobre o que está sendo feito, o que ajuda a alcançar as metas propostas. À medida que esses objetivos passam a ser percebidos pela máquina pública como um todo, cria-se uma cultura que faz o barco andar sozinho. Daí a importância de um discurso político claro e uniforme.
Em relação à política industrial, ao fixar seu objetivo na promoção das exportações, o novo ministro do Desenvolvimento, Clóvis Carvalho, em lugar de restringir a ação do ministério, tornou-a mais clara. A reestruturação permitiu colocar embaixo do mesmo guarda-chuva -o Ministério do Desenvolvimento- uma série de ações dispersas entre diversos ministérios, como a Câmara do Comércio Exterior (Camex), antes subordinada à Casa Civil, e a Agência de Promoção das Exportações (Apex).
Ao mesmo tempo, as idas de Andrea Calabi para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de Paolo Zaghen para o Banco do Brasil podem permitir uma operação conjunta complementar de ambas as instituições -já que ambas se conhecem de longa data. Ultimamente, até por problemas de portfólio, o BNDES vinha concentrando toda sua energia no financiamento de multinacionais -seja para operações de privatização ou instalação no país. Em torno do objetivo final de promover as exportações, as ações podem ser mais centradas e eficazes.
Em geral, considerou-se muito centralizante a ação da Casa Civil, na gestão Clóvis Carvalho. É possível, mas havia um acúmulo exagerado de funções atribuídas a ela. Mesmo assim, nesse período, houve uma espécie de treinamento para uma nova forma de gestão dos ministérios: o chamado gerenciamento por processos. Define-se um tema, juntam-se os ministros que têm alguma relação com ele e definem-se formas de coordenar as ações de todos eles. Essa experiência -coordenada por Clóvis na Casa Civil- será importante nesse trabalho de coordenação das ações pró-exportação, infinitamente menos complexo do que a barafunda de atribuições da antiga Casa Civil.
Um segundo foco importante é o do chamado gerenciamento do Estado, que ficará mais nítido com a apresentação do novo Plano Plurianual, em agosto. A importância dessa forma de gerenciamento não foi suficientemente avaliada, principalmente porque se conferiu um tratamento marqueteiro ao primeiro projeto -o "Brasil em Ação".
Finalmente, ao separar as questões administrativas políticas -antes, ambas concentradas na Casa Civil-, resolveu-se um dos principais nós gerenciais do governo. Agora, tem-se especialistas, como Aloysio Nunes Ferreira, tratando da questão política, e Pedro Parente, tratando das questões administrativas.
O governo ficou melhor, mas vai demorar para a opinião pública se dar conta disso.


E-mail: lnassif@uol.com.br



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