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LUÍS NASSIF
Governo mais focado
Embora tenha decepcionado
pela pouca ousadia, aos poucos
o remanejamento ministerial
vai tornando mais nítido o formato do segundo governo FHC.
O governo ficou mais lógico,
tanto em relação a sua "missão" como em relação ao funcionamento interno.
Em empresas ou governos, um
dos pontos centrais para o aumento da eficiência é saber "focar" o negócio -ou seja, definir
os objetivos principais, sem se
dispersar com ações paralelas.
No primeiro governo, o foco
único era a estabilização da
moeda a qualquer preço. No segundo, havia um discurso vago
em favor do desenvolvimento,
mas sem que se conseguisse enxergar ações objetivas em torno
da proposta. Nos discursos de
posse dos novos ministros, já é
possível identificar três objetivos nítidos: o estímulo às exportações, os chamados projetos estruturantes (de integração nacional) e o aumento da eficácia
gerencial do setor público.
Quando as prioridades ficam
claras, é mais fácil organizar as
atividades em torno dos objetivos propostos e melhorar a percepção da opinião pública e do
público interno sobre o que está
sendo feito, o que ajuda a alcançar as metas propostas. À medida que esses objetivos passam a
ser percebidos pela máquina
pública como um todo, cria-se
uma cultura que faz o barco andar sozinho. Daí a importância
de um discurso político claro e
uniforme.
Em relação à política industrial, ao fixar seu objetivo na
promoção das exportações, o
novo ministro do Desenvolvimento, Clóvis Carvalho, em lugar de restringir a ação do ministério, tornou-a mais clara. A
reestruturação permitiu colocar
embaixo do mesmo guarda-chuva -o Ministério do Desenvolvimento- uma série de
ações dispersas entre diversos
ministérios, como a Câmara do
Comércio Exterior (Camex),
antes subordinada à Casa Civil,
e a Agência de Promoção das
Exportações (Apex).
Ao mesmo tempo, as idas de
Andrea Calabi para o Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) e
de Paolo Zaghen para o Banco
do Brasil podem permitir uma
operação conjunta complementar de ambas as instituições
-já que ambas se conhecem de
longa data. Ultimamente, até
por problemas de portfólio, o
BNDES vinha concentrando toda sua energia no financiamento de multinacionais -seja para operações de privatização ou
instalação no país. Em torno do
objetivo final de promover as
exportações, as ações podem ser
mais centradas e eficazes.
Em geral, considerou-se muito centralizante a ação da Casa
Civil, na gestão Clóvis Carvalho. É possível, mas havia um
acúmulo exagerado de funções
atribuídas a ela. Mesmo assim,
nesse período, houve uma espécie de treinamento para uma
nova forma de gestão dos ministérios: o chamado gerenciamento por processos. Define-se
um tema, juntam-se os ministros que têm alguma relação
com ele e definem-se formas de
coordenar as ações de todos
eles. Essa experiência -coordenada por Clóvis na Casa Civil- será importante nesse trabalho de coordenação das ações
pró-exportação, infinitamente
menos complexo do que a barafunda de atribuições da antiga
Casa Civil.
Um segundo foco importante
é o do chamado gerenciamento
do Estado, que ficará mais nítido com a apresentação do novo
Plano Plurianual, em agosto. A
importância dessa forma de gerenciamento não foi suficientemente avaliada, principalmente porque se conferiu um tratamento marqueteiro ao primeiro
projeto -o "Brasil em Ação".
Finalmente, ao separar as
questões administrativas políticas -antes, ambas concentradas na Casa Civil-, resolveu-se
um dos principais nós gerenciais do governo. Agora, tem-se
especialistas, como Aloysio Nunes Ferreira, tratando da questão política, e Pedro Parente,
tratando das questões administrativas.
O governo ficou melhor, mas
vai demorar para a opinião pública se dar conta disso.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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