São Paulo, quarta-feira, 22 de agosto de 2001

Próximo Texto | Índice

VIZINHO EM CRISE

País poderá sacar US$ 5 bi assim que acordo for oficializado; desembolso dos outros US$ 3 bi será escalonado

FMI socorre Argentina com mais US$ 8 bi

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Depois de 12 dias de negociações difíceis, o FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou ontem à noite um novo pacote de ajuda financeira à Argentina, no valor de US$ 8 bilhões.
Não se sabe, no entanto, se a nova injeção de recursos será suficiente para acalmar os mercados, já que a fuga de depósitos do sistema financeiro argentino chegou a US$ 9 bilhões entre abril e agosto.
Para neutralizar essa sensação de insuficiência, o governo dos EUA apelou para a integração comercial a fim de tentar melhorar a percepção dos mercados com relação ao futuro da Argentina.
Após combinar com o ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O'Neill, convidou o Mercosul a dar início a uma negociação direta com o país para a formação de uma zona de livre comércio (leia à pág. B4).
O novo pacote irá se somar aos US$ 7 bilhões que a Argentina ainda tem a sacar do Fundo e deverá ser aprovado formalmente pelo FMI em setembro, com o mais novo programa do Brasil.
O país já esperava receber nas próximas semanas US$ 1,2 bilhão do pacote anterior. Portanto somam US$ 6,2 bilhões os recursos que poderão ser acrescidos às reservas argentinas em setembro.
Segundo nota divulgada pelo Fundo, US$ 5 bilhões dos US$ 8 bilhões que compõem o novo pacote poderão ser sacados pela Argentina assim que o novo programa for oficializado. Eles serão concedidos pela linha mais cara e rápida de que dispõe o FMI.
Os US$ 3 bilhões restantes do novo pacote serão desembolsados à Argentina de forma escalonada. No entanto o Fundo autoriza a Argentina a antecipar o saque desses recursos se o país usá-los em novas medidas para reestruturar amigavelmente a dívida, que chega a US$ 130 bilhões.
"As autoridades [argentinas" também estão considerando a possibilidade de uma operação voluntária e baseada nos mercados para aumentar a viabilidade do perfil da dívida argentina", informa a nota divulgada pelo FMI. Na visão do Fundo, reestruturação amigável de uma dívida significa trocas parciais de títulos curtos por papéis de prazos mais longos. "Esse dinheiro será usado para estimular os mercados a participar das novas operações de troca de títulos", disse o vice-ministro da Economia da Argentina, Daniel Marx.
A menção à reestruturação da dívida privada esconde um dos maiores fracassos da negociação: o FMI e o governo norte-americano não foram capazes de empurrar ao setor privado parte do custo de salvação da Argentina. O governo argentino nem mesmo obteve dos bancos privados o compromisso de concessão de uma linha preventiva de crédito de US$ 4,5 bilhões que fora contratada em 1997, mas nunca foi usada.
A missão argentina e o FMI ainda não divulgaram as condições impostas pela instituição ao país para que o novo pacote seja inteiramente executado.
Sabe-se apenas que a Argentina se comprometeu a aprovar um novo acordo de distribuição de recursos tributários às Províncias. O FMI quer que o governo obtenha autorização para reduzir os valores mensais de repasses de impostos às Províncias. A atual lei impõe um valor mínimo de repasses e restringe o desempenho orçamentário da Argentina. A nota divulgada pelo FMI chama a atual lei de "fonte de rigidez e ineficiência das finanças públicas".

Dia tenso
O clima de incerteza sobre as negociações da Argentina com o FMI (o socorro foi anunciado após o fechamento dos mercados) voltou a provocar ontem um forte movimento de venda de títulos da dívida do país.
O índice de risco-país, calculado a partir das cotações dos títulos da dívida, subiu 96 pontos em relação ao dia anterior, para chegar a 1.651 pontos, o segundo mais alto nível histórico. O índice é o principal termômetro da desconfiança dos investidores e indica a sobretaxa paga pelo país ao tomar empréstimos em relação ao que pagam os EUA.
O Global 2008, principal título da dívida argentina negociado no exterior, caiu 5,5%. A Bolsa de Buenos Aires recuou 3,5%.


Colaborou Rogerio Wassermann, de Buenos Aires


Próximo Texto: EUA anunciam negociação com Mercosul
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.