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VIZINHO EM CRISE
País poderá sacar US$ 5 bi assim que acordo for oficializado; desembolso dos outros US$ 3 bi será escalonado
FMI socorre Argentina com mais US$ 8 bi
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Depois de 12 dias de negociações difíceis, o FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou
ontem à noite um novo pacote de
ajuda financeira à Argentina, no
valor de US$ 8 bilhões.
Não se sabe, no entanto, se a nova injeção de recursos será suficiente para acalmar os mercados,
já que a fuga de depósitos do sistema financeiro argentino chegou a
US$ 9 bilhões entre abril e agosto.
Para neutralizar essa sensação
de insuficiência, o governo dos
EUA apelou para a integração comercial a fim de tentar melhorar a
percepção dos mercados com relação ao futuro da Argentina.
Após combinar com o ministro
da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, o secretário do
Tesouro dos EUA, Paul O'Neill,
convidou o Mercosul a dar início
a uma negociação direta com o
país para a formação de uma zona
de livre comércio (leia à pág. B4).
O novo pacote irá se somar aos
US$ 7 bilhões que a Argentina
ainda tem a sacar do Fundo e deverá ser aprovado formalmente
pelo FMI em setembro, com o
mais novo programa do Brasil.
O país já esperava receber nas
próximas semanas US$ 1,2 bilhão
do pacote anterior. Portanto somam US$ 6,2 bilhões os recursos
que poderão ser acrescidos às reservas argentinas em setembro.
Segundo nota divulgada pelo
Fundo, US$ 5 bilhões dos US$ 8
bilhões que compõem o novo pacote poderão ser sacados pela Argentina assim que o novo programa for oficializado. Eles serão
concedidos pela linha mais cara e
rápida de que dispõe o FMI.
Os US$ 3 bilhões restantes do
novo pacote serão desembolsados à Argentina de forma escalonada. No entanto o Fundo autoriza a Argentina a antecipar o saque
desses recursos se o país usá-los
em novas medidas para reestruturar amigavelmente a dívida,
que chega a US$ 130 bilhões.
"As autoridades [argentinas"
também estão considerando a
possibilidade de uma operação
voluntária e baseada nos mercados para aumentar a viabilidade
do perfil da dívida argentina", informa a nota divulgada pelo FMI.
Na visão do Fundo, reestruturação amigável de uma dívida significa trocas parciais de títulos curtos por papéis de prazos mais longos. "Esse dinheiro será usado para estimular os mercados a participar das novas operações de troca de títulos", disse o vice-ministro da Economia da Argentina,
Daniel Marx.
A menção à reestruturação da
dívida privada esconde um dos
maiores fracassos da negociação:
o FMI e o governo norte-americano não foram capazes de empurrar ao setor privado parte do custo de salvação da Argentina. O governo argentino nem mesmo obteve dos bancos privados o compromisso de concessão de uma linha preventiva de crédito de US$
4,5 bilhões que fora contratada
em 1997, mas nunca foi usada.
A missão argentina e o FMI ainda não divulgaram as condições
impostas pela instituição ao país
para que o novo pacote seja inteiramente executado.
Sabe-se apenas que a Argentina
se comprometeu a aprovar um
novo acordo de distribuição de
recursos tributários às Províncias.
O FMI quer que o governo obtenha autorização para reduzir os
valores mensais de repasses de
impostos às Províncias. A atual lei
impõe um valor mínimo de repasses e restringe o desempenho
orçamentário da Argentina. A nota divulgada pelo FMI chama a
atual lei de "fonte de rigidez e ineficiência das finanças públicas".
Dia tenso
O clima de incerteza sobre as
negociações da Argentina com o
FMI (o socorro foi anunciado
após o fechamento dos mercados) voltou a provocar ontem um
forte movimento de venda de títulos da dívida do país.
O índice de risco-país, calculado
a partir das cotações dos títulos da
dívida, subiu 96 pontos em relação ao dia anterior, para chegar a
1.651 pontos, o segundo mais alto
nível histórico. O índice é o principal termômetro da desconfiança dos investidores e indica a sobretaxa paga pelo país ao tomar
empréstimos em relação ao que
pagam os EUA.
O Global 2008, principal título
da dívida argentina negociado no
exterior, caiu 5,5%. A Bolsa de
Buenos Aires recuou 3,5%.
Colaborou Rogerio Wassermann, de
Buenos Aires
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