São Paulo, quarta-feira, 22 de agosto de 2001

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VIZINHO EM CRISE
Decisão do Tesouro americano, em conjunto com o novo pacote, visa recolocar país no comércio exterior
EUA anunciam negociação com Mercosul

DE WASHINGTON

O governo norte-americano convidou ontem o Mercosul a iniciar negociações formais em setembro para discutir discutir temas gerais de comércio e, se possível, alcançar um acordo de livre comércio entre os quatro países do bloco sul-americano e os EUA.
O convite foi divulgado simultaneamente ao anúncio de um novo pacote do FMI para a Argentina.
"O representante comercial dos EUA, Robert Zoellick, anunciou, em conjunto com o apoio dos EUA ao acordo do FMI com a Argentina, seu desejo de encontrar-se com os ministros responsáveis por comércio da Argentina, do Brasil, do Paraguai e do Uruguai", informou nota do USTr (o escritório comercial dos EUA). "O objetivo do encontro será alcançar nosso interesse comum em comério livre como um motor do crescimento econômico global, regional e bilateral."
As conversas incluiriam a possibilidade de uma nova rodada mundial de comércio, a Alca e "outras possibilidades" no âmbito dos EUA e do Mercosul.
Uma hora antes, do lobby do FMI, de onde acabara de anunciar a obtenção de um novo empréstimo para a Argentina, o vice-ministro da Economia do país, Daniel Marx, dissera que os EUA estavam convidando o Mercosul para negociar a formação de um bloco de livre comércio. "O convite não tem relação direta com as negociações entre a Argentina e o FMI, mas representa um novo caminho para a recuperação econômica do país." O convite sinaliza "uma nova oportunidade de comércio aos países do Mercosul".
Não se sabe se o Brasil, com quem os EUA e a Argentina travam constantes disputas comerciais, foi informado do anúncio.
A Folha apurou que tal convite foi a forma encontrada pela Argentina para aumentar ainda mais o impacto do novo pacote de ajuda do FMI ao país.
Em conversas informais com o FMI e com o Tesouro dos EUA, bancos privados disseram que a única coisa que poderia mudar definitivamente a percepção sobre a capacidade de a Argentina gerar dólares seria sua inserção em um novo contexto comercial -a exemplo do que fez o México com o Nafta.
Desse conversa, o Fundo e os EUA entenderam que não interessa prever, agora, o futuro dessas negociações. Eles avaliam que só o anúncio de conversas formais poderia servir de estímulo adicional para o país sair da crise.
Os EUA sugeriram que se anunciasse o início de conversas bilaterais (Argentina-EUA), mas os argentinos rejeitaram a idéia com medo de irritar o Brasil.
Aos EUA, o convite serve também como maneira de desfazer a impressão de que a Casa Branca boicotou desde o início o sucesso do novo pacote argentino. Após revelar que os cofres do Tesouro americano e do FMI estão cada vez mais fechados, o presidente George W. Bush mostraria que o mercado dos EUA abre-se para produtos latino-americanos.
O chanceler argentino, Adalberto Rodríguez Giavarini, salientou ontem a ênfase dada no acordo com o FMI ao comércio exterior. Giavarini disse que a negociação conjunta dos países do Mercosul com os EUA no esquema denominado "quatro mais um" permitirá maior abertura comercial.
O "quatro mais um" significa a negociação de um acordo com os EUA para a abertura comercial e para a formação da Alca pelos quatro membros do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) de forma conjunta.
(MARCIO AITH)


Colaborou Rogerio Wassermann, de Buenos Aires



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