São Paulo, quarta-feira, 22 de agosto de 2001

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DESACELERAÇÃO

Números do BC mostram que total de novos empréstimos concedidos em julho caiu 7,3% em relação a junho

Freada brusca derruba a oferta de crédito

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A forte desaceleração da economia, provocada pela alta dos juros, câmbio e pela crise de energia, brecou a expansão da oferta de crédito no mês passado. O total de novos empréstimos concedidos em julho, no valor de R$ 1,7 bilhão, caiu 7,3% em relação ao mês anterior.
"Pela primeira vez, em muitos meses, dá para olhar no volume de crédito o desaquecimento da economia", disse à Folha o consultor do Banco Central Eduardo Lundberg, responsável pela pesquisa mensal de juros bancários feita pelo BC. O levantamento de julho foi divulgado ontem.
Dados divulgados pelo IBGE na semana passada mostraram que o crescimento de 0,79% do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2000 ficou abaixo do esperado. Com relação ao primeiro trimestre do ano, houve queda de 0,99%.
Em julho, as pessoas físicas tomaram R$ 801 milhões de novos empréstimos, volume 7,7% menor que os R$ 868 milhões verificados em junho. As empresas obtiveram R$ 914 milhões de novos créditos no mês passado, ante R$ 983 milhões no mês anterior -queda de 7,3%.
Tanto no caso das empresas quanto dos consumidores, os novos financiamentos para a aquisição de bens foram os que mais caíram. No caso das pessoas jurídicas, a queda dos empréstimos para a compra de bens caiu 29,17%. De R$ 24 milhões em junho, foram para R$ 17 milhões no mês passado.

Compra de veículos
O crédito obtido pelas pessoas físicas para a compra de veículos recuou 15,2%. De R$ 85 milhões em junho, as novas linhas para esses bens despencaram para R$ 72 milhões.
Em períodos de crise e juros altos, as vendas de bens duráveis, como carros e equipamentos eletrônicos, são as primeiras a cair. As empresas, por sua vez, investem menos na compra de equipamentos voltados para a produção, diante da queda na demanda por parte dos consumidores.
"Na comparação mês contra mês, acredito que seja a primeira queda, neste ano, na concessão de novos empréstimos. O esperado desaquecimento da economia finalmente chegou", disse Lundberg.
Ele ressalta, no entanto, que o saldo total das operações de crédito cresceu 2% de junho para julho, quando totalizaram R$ 187,9 bilhões. Isso se deve basicamente à renovação de empréstimos e à incorporação dos juros pagos sobre os empréstimos às carteiras de crédito dos bancos.
Outro dado que demonstra o desaquecimento da economia é a retração das linhas de financiamento associadas à venda de produtos, como os descontos de notas promissórias e de duplicatas.

Parcelas
As empresas trocam nos bancos notas referentes a vendas a prazo. Elas cedem às instituições financeiras o direito ao recebimento das parcelas futuras em troca de dinheiro à vista. Pelo crédito concedido, os bancos cobram juros.
Os descontos de duplicatas caíram 5,3%. Os de notas promissórias recuaram 5,1%. Isso demonstra a queda nas vendas a prazo, que sofrem o efeito direto da alta dos juros.
Descontada a variação do dólar em relação ao real, os repasses às empresas de empréstimos externos obtidos pelos bancos recuou 5,2% entre junho e julho.
Associado à queda do desconto de duplicatas e de notas promissórias, isso explica o aumento no saldo das operações para capital de giro -dinheiro de curto prazo usado pelas empresas para cobrir gastos operacionais.
O saldo das linhas de capital de giro subiu de R$ 17,21 bilhões para R$ 18,66 bilhões -crescimento de 8,5%. Isso significa que, diante da redução da oferta de outras modalidades de crédito, as empresas tiveram de renovar as linhas de curto prazo, que têm custo mais alto.
De acordo com os dados do BC, os níveis de atraso nas operações de crédito aumentaram em julho. O percentual das operações sem atraso, com pagamento em dia, nas carteiras dos bancos passou de 92% em junho para 91,4% em julho. Em dezembro do ano passado, esse percentual estava em 93,2%.



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