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DESACELERAÇÃO
Números do BC mostram que total de novos empréstimos concedidos em julho caiu 7,3% em relação a junho
Freada brusca derruba a oferta de crédito
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A forte desaceleração da economia, provocada pela alta dos juros, câmbio e pela crise de energia, brecou a expansão da oferta
de crédito no mês passado. O total
de novos empréstimos concedidos em julho, no valor de R$ 1,7
bilhão, caiu 7,3% em relação ao
mês anterior.
"Pela primeira vez, em muitos
meses, dá para olhar no volume
de crédito o desaquecimento da
economia", disse à Folha o consultor do Banco Central Eduardo
Lundberg, responsável pela pesquisa mensal de juros bancários
feita pelo BC. O levantamento de
julho foi divulgado ontem.
Dados divulgados pelo IBGE na
semana passada mostraram que o
crescimento de 0,79% do PIB
(Produto Interno Bruto) no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2000
ficou abaixo do esperado. Com
relação ao primeiro trimestre do
ano, houve queda de 0,99%.
Em julho, as pessoas físicas tomaram R$ 801 milhões de novos
empréstimos, volume 7,7% menor que os R$ 868 milhões verificados em junho. As empresas obtiveram R$ 914 milhões de novos
créditos no mês passado, ante R$
983 milhões no mês anterior
-queda de 7,3%.
Tanto no caso das empresas
quanto dos consumidores, os novos financiamentos para a aquisição de bens foram os que mais
caíram. No caso das pessoas jurídicas, a queda dos empréstimos
para a compra de bens caiu
29,17%. De R$ 24 milhões em junho, foram para R$ 17 milhões no
mês passado.
Compra de veículos
O crédito obtido pelas pessoas
físicas para a compra de veículos
recuou 15,2%. De R$ 85 milhões
em junho, as novas linhas para esses bens despencaram para R$ 72
milhões.
Em períodos de crise e juros altos, as vendas de bens duráveis,
como carros e equipamentos eletrônicos, são as primeiras a cair.
As empresas, por sua vez, investem menos na compra de equipamentos voltados para a produção,
diante da queda na demanda por
parte dos consumidores.
"Na comparação mês contra
mês, acredito que seja a primeira
queda, neste ano, na concessão de
novos empréstimos. O esperado
desaquecimento da economia finalmente chegou", disse Lundberg.
Ele ressalta, no entanto, que o
saldo total das operações de crédito cresceu 2% de junho para julho, quando totalizaram R$ 187,9
bilhões. Isso se deve basicamente
à renovação de empréstimos e à
incorporação dos juros pagos sobre os empréstimos às carteiras
de crédito dos bancos.
Outro dado que demonstra o
desaquecimento da economia é a
retração das linhas de financiamento associadas à venda de produtos, como os descontos de notas promissórias e de duplicatas.
Parcelas
As empresas trocam nos bancos
notas referentes a vendas a prazo.
Elas cedem às instituições financeiras o direito ao recebimento
das parcelas futuras em troca de
dinheiro à vista. Pelo crédito concedido, os bancos cobram juros.
Os descontos de duplicatas caíram 5,3%. Os de notas promissórias recuaram 5,1%. Isso demonstra a queda nas vendas a prazo,
que sofrem o efeito direto da alta
dos juros.
Descontada a variação do dólar
em relação ao real, os repasses às
empresas de empréstimos externos obtidos pelos bancos recuou
5,2% entre junho e julho.
Associado à queda do desconto
de duplicatas e de notas promissórias, isso explica o aumento no
saldo das operações para capital
de giro -dinheiro de curto prazo
usado pelas empresas para cobrir
gastos operacionais.
O saldo das linhas de capital de
giro subiu de R$ 17,21 bilhões para R$ 18,66 bilhões -crescimento
de 8,5%. Isso significa que, diante
da redução da oferta de outras
modalidades de crédito, as empresas tiveram de renovar as linhas de curto prazo, que têm custo mais alto.
De acordo com os dados do BC,
os níveis de atraso nas operações
de crédito aumentaram em julho.
O percentual das operações sem
atraso, com pagamento em dia,
nas carteiras dos bancos passou
de 92% em junho para 91,4% em
julho. Em dezembro do ano passado, esse percentual estava em
93,2%.
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