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FIM DO SUFOCO?
Produção de bens duráveis subiu 2,6% em relação a maio; Pastore aposta em recuperação a partir de agora
Dados indicam tímida reação econômica
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar do pessimismo que imperava antes do último corte da
taxa de juros, na quarta-feira, a
economia brasileira já dava tímidos sinais de reação. Depois do
fundo do poço que foi o segundo
trimestre do ano, alguns indicadores começaram a melhorar no
fim desse período, entre eles o número de horas trabalhadas, a fabricação de bens duráveis e a produção e a venda de carros.
Dados preliminares indicam
que a tendência pode se acentuar
neste mês, principalmente depois
da queda de 2,5 pontos percentuais nos juros básicos da economia. Com o corte mais acentuado
do que estimava o mercado, alguns analistas acreditam que a
reativação esperada para o quarto
trimestre poderá ser antecipada
para o terceiro.
"Em julho houve um indício de
recuperação em relação a junho e,
em agosto, também há uma recuperação diante de julho", diz Cezar Rochele, economista da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), que,
a cada mês, faz uma sondagem informal com cerca de 30 empresas
filiadas à entidade. Os números
oficiais da Abinee são trimestrais
e só serão divulgados em outubro.
Estudo do economista Andrei
Spacov, do Unibanco, indica que
setores específicos da economia
começaram a reagir em junho,
depois de forte desaceleração no
período de janeiro a maio. Os números agregados mostram que
houve elevação no número de horas trabalhadas e das vendas no
varejo, enquanto a produção industrial e a renda média do trabalhador continuaram a cair.
Mas, se forem isolados certos
componentes desses dados agregados, a tendência de reação é
mais evidente. O principal indício, para Spacov, é o aumento de
2,6% na produção de bens duráveis em relação a maio. O indicador foi negativo em todo o período de janeiro a maio, mês em que
registrou queda de 5,3%.
Segundo o economista, o setor
de bens duráveis reage com maior
rapidez que o restante da indústria à queda dos juros reais. Apesar de a Selic só ter caído de forma
expressiva na quarta-feira, de
24,5% para 22%, Spacov observa
que a taxa de juros de longo prazo
(um ano) registra queda desde fevereiro. Estava em 30% e agora
encolheu para 21%. É essa taxa,
descontada a expectativa de inflação futura, que é levada em conta
pelos empresários em suas decisões de investimentos, e não a Selic, afirma. O efeito da queda,
acrescenta, logo deverá ter impacto sobre os demais setores.
O economista José Affonso Pastore aposta na reação imediata da
economia. "A recuperação econômica vai começar a partir de
agora. Os chamados bens duráveis devem sofrer forte aceleração
de demanda. Isso ocorrerá não
apenas por conta da queda de 2,5
pontos percentuais na taxa Selic,
mas por causa das reduções anteriores na taxa e da queda na alíquota do compulsório ocorrida
neste mês", disse ele. O governo já
promoveu três cortes na taxa básica de juros nos últimos meses e
reduziu de 60% para 45% a parcela dos depósitos à vista que os
bancos são obrigados a manter
imobilizados no Banco Central.
Dados da Federação do Comércio do Estado de São Paulo ainda
mostram retração nas vendas. A
diferença em relação ao estudo de
Spacov é que os números são
comparados com igual mês de
2002, quando as vendas estavam
em alta, e não com o mês anterior.
"Aparentemente, estamos iniciando a curva ascendente: a inflação parou de subir e, com isso,
o salário real deixou de perder valor e o desemprego teve uma pequena redução, o que aumentou a
massa salarial", diz Fábio Pina, assessor econômico da entidade.
Colaboraram José Alan Dias e
Adriana Mattos, enviados especiais a Campos do Jordão
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