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Vale do Rio Doce é "monopolista", afirma a presidente do Cade
Empresa recorreu à Justiça para não se desfazer de uma de suas controladas
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica), Elizabeth Farina,
disse ontem que, sem o cumprimento da decisão do órgão, a
Vale do Rio Doce é "hoje literalmente monopolista". Em agosto de 2005, a autarquia determinou à mineradora que vendesse uma de suas controladas,
a Ferteco, ou abrisse mão do
contrato com a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) que
lhe dá direito de compra do minério excedente da siderúrgica.
O Cade tomou tal decisão por
entender que havia concentração excessiva de mercado nas
mãos da Vale desde que companhia adquiriu concorrentes. O
órgão julgou sete atos de concentração de mercado, apurados por Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico) e SDE (Secretaria de Direito Econômico). Descontente, a Vale recorreu à Justiça e o caso
continua sem um desfecho.
"A Vale hoje é, literalmente,
uma monopolista, mas, enquanto o Judiciário não decidir, o Cade não pode fazer nada", disse Farina, na Câmara de
Comércio Americana do Rio de
Janeiro.
Procurada, a Vale do Rio Doce informou, por meio de sua
assessoria de imprensa, que
não iria comentar as declarações da presidente do Cade.
Proferida em agosto de 2005,
a decisão do Cade abriu duas
possibilidades: ou Vale abriria
mão do contrato de preferência
de compra do minério de ferro
da mina Casa de Pedra (de propriedade da CSN) ou venderia a
Ferteco, mineradora adquirida
pela Vale em 2001.
Em 2000, quando a Vale do
Rio Doce e a CSN, então controladas pelos mesmos grupos
econômicos, decidiram descruzar participações acionárias
mútuas ficou acertado que a
mineradora teria o direito à
preferência no minério de Casa
de Pedra. À época, o grupo Vicunha, controlador da CSN,
não dispunha de caixa suficiente para comprar a parte dos demais sócios na siderúrgica e
precisou recorrer ao BNDES.
Segundo Farina, o objetivo
da decisão do Cade foi tentar
manter no país "ao menos uma
mineradora de ferro de classe
mundial", além da Vale. Se não
cair na Justiça, a medida do órgão abre espaço para CSN competir com a Vale ou outra empresa ingressar no setor com a
aquisição da Ferteco.
Farina disse que, na época, o
Cade foi criticado por ser flexível demais com a Vale. "O Cade
adotou uma decisão deixando
para a empresa escolher o que
lhe era menos prejudicial."
Segundo ele, os casos "mais
importantes" julgados pela autarquia vão para o Judiciário, o
que "gera um problema de eficácia da decisão". Isso porque,
muitas vezes, uma solução definitiva leva muito tempo e a decisão perde o sentido econômico, diz. "A única coisa que podemos fazer é acompanhar bem
de perto e conversar com o juiz,
o que a Vale faz também."
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