São Paulo, quarta-feira, 22 de agosto de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O show só acaba quando termina

Há sinais de degelo no crédito, mas custo do dinheiro aumentou e há muitas minas de papel podre para explodir

OS GRANDES bancos americanos ainda pedem, pelo amor de Deus, que o Fed, o banco central dos Estados Unidos, corte a taxa básica de juros (isto é, que corte oficialmente, pois na prática faz sete dias que a média do juro básico tem estado meio ponto percentual abaixo da meta de taxa básica do Fed).
Banqueiros assustados podem estar fazendo apenas lobby para que o Fed facilite a vida deles. Mas pode se tratar também de medo, além da ganância infecciosa. De fato, ainda há o que temer nesse período glacial dos mercados financeiros ricos.
O mercado de "commercial papers" continua congelado, em particular no caso dos "papers" garantidos por títulos lastreados em prestações imobiliárias, de carro, de cartão de crédito e sabe-se mais o quê. Um "commercial paper" é, digamos, uma nota promissória, um empréstimo de curto prazo que oxigena os negócios rotineiros das empresas e põe algum dinheiro dos bancos para rodar. Trata-se de um mercado de mais de US$ 1 trilhão.
Os "commercial papers" estão vencendo e os credores não aceitam renovar o papel, pois não querem emprestar para quem oferece garantias suspeitas -e mesmo quem tem garantias de qualidade não está conseguindo tomar dinheiro.
O tomador de dívida que não consegue rolar seus "commercial papers" tem de pagar e/ou vender suas garantias. E, muitas vezes, essas garantias são "lixo tóxico", CDOs, que são títulos de dívida garantidos por outros títulos de dívida, como aqueles que rendem a prestação imobiliária, MBS (títulos garantidos por hipotecas). Derivativos de crédito como os CDOs ligados a hipotecas podres explodiram os mercados. Vendidos na xepa, caem de preço.
Instituições que detêm esses papéis assim perdem ainda mais dinheiro.
O que se faz com o dinheiro não emprestado? Compram-se títulos do Tesouro americano, sinal de que poucos investidores querem arriscar seu dinheiro no glacial mercado privado de dívida. Quando a procura por títulos públicos cresce, tais papéis pagam menos juros. Os juros dos títulos mais curtos, de um mês e de três meses, recuperaram-se ontem, subindo para a casa dos 3,5% -no início do mês, estavam em 5%.
Também um índice de volatilidade, o VIX, recuou do pico do dia do grande pânico, quinta passada, mas está no mesmo nível dos demais dias de medo daquela mesma semana.
Para completar a sopa de letrinhas de horrores, algumas medidas do custo dos CDS estão num nível três vezes maior que o do início do ano.
Um CDS é um "credit default swap" (seguro de calote, em tradução livre). Na sua versão mais simples, funciona mesmo como um seguro. Uma instituição empresta dinheiro para uma empresa, mas não quer ficar com o risco de crédito. Então, compra proteção de uma outra instituição financeira: paga um prêmio trimestral. Em troca, a instituição cobre a dívida em caso de calote.
Quanto mais calote na praça, mais cara a proteção. Mais cara a proteção, maior o custo de empréstimos. Houve, pois, leves sinais de que o aperto de crédito afrouxou um tico.
Mas, no mínimo, é preciso esperar até o fim da semana para ver se houve degelo de dinheiro. E até os balanços de outubro para ver quem saiu estropiado -se não quebrar antes.


vinit@uol.com.br

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