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VINICIUS TORRES FREIRE
O show só acaba quando termina
Há sinais de degelo no crédito, mas custo do dinheiro aumentou e há muitas minas de papel podre para explodir
OS GRANDES bancos americanos ainda pedem, pelo amor
de Deus, que o Fed, o banco
central dos Estados Unidos, corte a
taxa básica de juros (isto é, que corte
oficialmente, pois na prática faz sete
dias que a média do juro básico tem
estado meio ponto percentual abaixo da meta de taxa básica do Fed).
Banqueiros assustados podem estar fazendo apenas lobby para que o
Fed facilite a vida deles. Mas pode se
tratar também de medo, além da ganância infecciosa. De fato, ainda há o
que temer nesse período glacial dos
mercados financeiros ricos.
O mercado de "commercial papers" continua congelado, em particular no caso dos "papers" garantidos por títulos lastreados em prestações imobiliárias, de carro, de cartão
de crédito e sabe-se mais o quê. Um
"commercial paper" é, digamos,
uma nota promissória, um empréstimo de curto prazo que oxigena os
negócios rotineiros das empresas e
põe algum dinheiro dos bancos para
rodar. Trata-se de um mercado de
mais de US$ 1 trilhão.
Os "commercial papers" estão
vencendo e os credores não aceitam
renovar o papel, pois não querem
emprestar para quem oferece garantias suspeitas -e mesmo quem
tem garantias de qualidade não está
conseguindo tomar dinheiro.
O tomador de dívida que não consegue rolar seus "commercial papers" tem de pagar e/ou vender suas
garantias. E, muitas vezes, essas garantias são "lixo tóxico", CDOs, que
são títulos de dívida garantidos por
outros títulos de dívida, como aqueles que rendem a prestação imobiliária, MBS (títulos garantidos por
hipotecas). Derivativos de crédito
como os CDOs ligados a hipotecas
podres explodiram os mercados.
Vendidos na xepa, caem de preço.
Instituições que detêm esses papéis
assim perdem ainda mais dinheiro.
O que se faz com o dinheiro não
emprestado? Compram-se títulos
do Tesouro americano, sinal de que
poucos investidores querem arriscar seu dinheiro no glacial mercado
privado de dívida. Quando a procura
por títulos públicos cresce, tais papéis pagam menos juros. Os juros
dos títulos mais curtos, de um mês e
de três meses, recuperaram-se ontem, subindo para a casa dos 3,5%
-no início do mês, estavam em 5%.
Também um índice de volatilidade, o VIX, recuou do pico do dia do
grande pânico, quinta passada, mas
está no mesmo nível dos demais dias
de medo daquela mesma semana.
Para completar a sopa de letrinhas
de horrores, algumas medidas do
custo dos CDS estão num nível três
vezes maior que o do início do ano.
Um CDS é um "credit default
swap" (seguro de calote, em tradução livre). Na sua versão mais simples, funciona mesmo como um seguro. Uma instituição empresta dinheiro para uma empresa, mas não
quer ficar com o risco de crédito. Então, compra proteção de uma outra
instituição financeira: paga um prêmio trimestral. Em troca, a instituição cobre a dívida em caso de calote.
Quanto mais calote na praça, mais
cara a proteção. Mais cara a proteção, maior o custo de empréstimos.
Houve, pois, leves sinais de que o
aperto de crédito afrouxou um tico.
Mas, no mínimo, é preciso esperar
até o fim da semana para ver se houve degelo de dinheiro. E até os balanços de outubro para ver quem saiu
estropiado -se não quebrar antes.
vinit@uol.com.br
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