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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Poupança dos EUA cai para nível dos anos 30 GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
Nesta semana acontece a reunião do Comitê de Política Monetária dos EUA, um evento que para a grande maioria dos analistas
econômicos terminará com o
anúncio de mais uma elevação
nas taxas de juros norte-americanas, dificultando a recuperação
das economias menos desenvolvidas ou "emergentes".
Mas os dados continuam inconclusivos, ainda há economistas
que apresentam razões até surpreendentes para justificar um
cenário de estabilidade nos juros
e continuação do processo de
crescimento dos EUA.
Um desses diagnósticos heterodoxos foi apresentado na semana
passada por William Gale, da
Brookings Institution, em artigo
publicado na "Barron's". Para
Gale, as estatísticas sobre a poupança nos EUA não correspondem à realidade.
Um dos problemas apontados
pela grande maioria dos economistas é a baixa taxa de poupança
dos EUA. Consumindo demais,
os norte-americanos estariam gerando um déficit comercial brutal, provocando um aquecimento
insustentável da economia (risco
de inflação) e comprometendo o
crescimento futuro.
Se esse diagnóstico estiver correto, a elevação das taxas de juros
seria necessária não apenas para
esfriar o consumo e o investimento, mas também para elevar a propensão a poupar entre indivíduos
e empresas.
Os dados oficiais mais recentes,
divulgados no final de julho, indicam uma taxa de poupança negativa nos seis meses anteriores (-0,9% do PIB). É simplesmente o
nível mais baixo de poupança
desde a Grande Depressão. Essa
taxa era de 8% nos anos 60, caiu
para 5% no início da década de 90
e bateu em 0,5% em 1998.
Sem poupança interna, a economia norte-americana depende
de capitais externos. Enquanto o
risco no resto do mundo é alto, os
capitais buscam refúgio nos EUA,
espontaneamente. Mas, segundo
alguns economistas, se o resto do
mundo começar a se recuperar,
atraindo esses capitais, não restará alternativa aos EUA senão elevar os juros para atrair os capitais
(a poupança externa) de volta. Isso poderia gerar novas crises na
periferia, induzindo os capitais
avessos ao risco a ficar nos EUA
mesmo que ocorresse uma nova
redução dos juros. Em suma, o
Fed (banco central dos EUA) estaria desempenhando o papel de
um regulador do crescimento
global, obviamente colocando em
primeiro plano o interesse nacional norte-americano.
Gale argumenta, no entanto,
que os números estão sendo mal
interpretados. Se à poupança dos
indivíduos forem adicionados os
superávits nas contas do governo
e a poupança das empresas, o resultado seria uma poupança nacional nos EUA muito maior do
que se imagina.
Os cálculos de Gale (feitos junto
com John Sabelhaus, do departamento de orçamento do Congresso) indicam uma queda na poupança pessoal a quase zero, mas,
quando se incluem empresas e
outros fatores, a taxa fica em 7%
em 1998. Ou seja, a poupança teria caído, porém menos do que se
imagina, estando agora em nível
mais alto que o indicado pelo governo dos EUA.
Resta saber se os diretores do
Fed têm alguma sensibilidade para esse tipo de argumento. Explicar o vigor da Bolsa de Nova York
a partir de dados de poupança
que incluem ganhos de capital e
outros rendimentos financeiros
das empresas, como sugere Gale,
parece um procedimento muito
próximo de um círculo vicioso.
Ou seja, a Bolsa é vigorosa porque a poupança é maior do que se
imagina, mas a poupança é maior
do que se imagina apenas quando
se leva em conta os ganhos propiciados a empresas e indivíduos
por um mercado acionário forte.
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