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DECOLAGEM ARRISCADA
Países criticam a deterioração das contas americanas
Cresce a preocupação com
o déficit público dos EUA
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI
O elevado déficit nas contas públicas dos Estados Unidos foi
apontado ontem por ministros de
Estado e economistas, no encontro anual do FMI (Fundo Monetário Internacional), como um dos
principais riscos para a recuperação da economia mundial.
O ministro das Finanças da Alemanha, Hans Eichel, elogiou a retomada do crescimento da economia americana neste ano, mas, ao
se referir ao déficit fiscal dos EUA,
disse que não se pode "ignorar os
riscos" que pesam sobre essa recuperação. "Por isso, o termo
apropriado [para a situação dos
EUA] é otimismo cauteloso."
Segundo Gordon Brown, ministro da Economia do Reino Unido
e presidente do Comitê de Finanças do FMI, os EUA precisam de
uma estratégia para solucionar
seu déficit fiscal, que "tem sustentado a atividade econômica".
Os alertas de Eichel e de Brown
somam-se a preocupações reiteradas sobre o déficit americano
feitos pelo FMI e, ontem, também
pelo Brasil.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse que a "considerável deterioração" das contas
públicas dos EUA pode ter um
efeito adverso para a economia do
país no longo prazo, o que comprometeria a recuperação global.
"Houve uma considerável deterioração da situação fiscal dos Estados Unidos, o que pode ter um
impacto adverso sobre a economia do país no longo prazo, tornando o fortalecimento fiscal no
médio prazo uma alta prioridade.
O crescimento global continua a
ser bastante dependente do desempenho econômico dos Estados Unidos", disse o ministro.
Estimativas do mercado financeiro apontam que o déficit nas
contas públicas do EUA pode
chegar a US$ 480 bilhões em 2004.
O economista Martin Feldstein,
do National Bureau of Economic
Research, fez projeções bastante
otimistas para o crescimento da
economia americana.
Segundo ele, o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA pode aumentar até 5% no acumulado dos
próximos 12 meses.
Mesmo assim, Feldstein disse
que o maior desafio do governo
americano no médio prazo é reduzir o déficit público.
"O principal risco para a economia americana é saber como o governo vai conseguir reduzir o déficit público", disse à Folha Jacob
Frenkel, presidente da Merrill
Lynch International. Mas Frenkel
também frisou que está "relativamente otimista" com a recuperação da economia do país.
Em resposta aos alertas generalizados sobre a economia americana, o secretário do Tesouro dos
EUA, John Snow, sustentou que
seu país continua sendo "o principal motor da reativação da economia mundial".
Snow exortou os países europeus a serem mais agressivos no
corte de juros e indicou que o
crescimento americano alcançará, no segundo semestre, um ritmo de 3,5% a 4%.
Japão
Palocci disse que a recuperação
do Japão ainda é "frágil e incerta",
entre outros motivos por conta
das "vulnerabilidades" dos setores financeiro e corporativo. "As
perspectivas econômicas para a
Europa continuam fracas, tendo
[os países da Zona do Euro] ainda
um longo caminho até chegar à liberalização do comércio e às reformas para flexibilizar o mercado de trabalho", disse.
O ministro também criticou "a
proeminente distorção da política
agrícola protecionista da região".
"O lento progresso das principais potências econômicas em resolver problemas e implementar
políticas há muito tempo recomendadas pelo FMI é muito frustrante", disse ele.
Em seu discurso durante a reunião do Comitê Financeiro e Monetário Internacional, Palocci
usou ainda a palavra desapontamento para se referir aos países
desenvolvidos.
O ministro também cobrou
maior espaço para o peso e a proporção de países em desenvolvimento, como o Brasil, nas decisões do Fundo.
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