São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2005

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COMÉRCIO EXTERIOR

Valorização do real traz ameaça

Mais micro e pequenas exportam, mas participação nas vendas cai

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O número de micro e pequenas empresas (MPEs) exportadoras aumentou de 5.854 em 1998 para 7.443 em 2004, mas a participação desse segmento no total das vendas do país caiu de 2,6% para 2,3% no mesmo período, segundo levantamento divulgado ontem pelo Sebrae e pela Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior).
A valorização do real ameaça reduzir o número de empresas de pequeno porte que estão conquistando outros mercados, segundo declarou o diretor da Funcex, Fernando Ribeiro.
Um levantamento divulgado em junho pela AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) revelou que essas empresas já começaram a abandonar o mercado externo. Nos cálculos da AEB, entre janeiro e maio deste ano, foram registradas 5.939 pequenas empresas exportadoras. No ano passado, eram 6.510 no mesmo período, o que mostra uma redução de 8,8%.
"Quando o real se valoriza, o número de empresas exportadoras tende a se estabilizar e as pequenas são as primeiras a abandonar o mercado externo", disse Ribeiro. Segundo ele, os grandes exportadores são também grandes importadores e acabam tendo redução de custos, já que as importações ficam mais baratas.
O levantamento do Sebrae revela que os principais produtos de exportação das MPEs são calçados, móveis, madeira e vestuário, itens que requerem matéria-prima nacional.
Para Ribeiro, o próximo levantamento, que deve ser divulgado no fim do ano, deverá acusar os efeitos da desvalorização do dólar, que torna os produtos brasileiros mais caros lá fora e reduz o faturamento de quem exporta.
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, tem alertado sobre os efeitos da valorização do câmbio nas micro e pequenas empresas, por causa do número de empregos que essas empresas representam.
Segundo o Sebrae, as 4,6 milhões de MPEs registradas legalmente são responsáveis por 56% dos empregos formais.
Luiz Carlos Barbosa, diretor do Sebrae, disse que parte da explicação para a queda da participação das micro e pequenas empresas no total das exportações foi o crescimento ainda maior das grandes empresas. Entre 1998 e 2004, as vendas das MPEs para o mercado externo subiram 66,7%, mas as vendas das grandes empresas cresceram 100,2% e as das médias, 65%.
A diferença entre a participação das MPEs no número de empresas que exportam e na receita obtida com exportações revela a concentração de empresas exportadoras no Brasil, onde 500 empresas respondem por 80% do total das vendas em valores.
Em 2004, o país registrou 17.963 exportadoras. Cerca de 85% dos embarques foram feitos pelas 11.976 empresas industriais exportadoras e as MPEs representaram 62% desse total, mas foram responsáveis por apenas 2,3% dos US$ 96 bilhões que o país exportou no ano.
Nos Estados Unidos, as pequenas empresas representam 57% das exportações. Na Itália, o índice cai para 53%, no México, para 50%, e na Índia, para 35%, embora cada país tenha seu próprio método de definir o que é uma pequena empresa.
Segundo Barbosa, a cultura empresarial voltada para o mercado doméstico, as dificuldades burocráticas, os altos custos de financiamento e as dificuldades para obter informações estão entre os principais problemas enfrentados pelas MPEs. Ele afirma, porém, que as políticas públicas voltadas para esse segmento melhoraram nos últimos anos.


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