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CONTAS PÚBLICAS
Tesouro, Previdência e Banco Central promovem até agosto aperto maior do que o objetivo para todo o ano
Governo economiza R$ 10 bi a mais que meta
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em oito meses de aperto fiscal, o
governo federal economizou quase R$ 10 bilhões além do que precisava, segundo os cálculos da
própria equipe econômica. Entre
janeiro e agosto, as contas do chamado governo central, que reúne
o Tesouro Nacional, a Previdência Social e o Banco Central, deveriam fechar com uma sobra no
caixa de R$ 39,7 bilhões, cumprindo, assim, as metas definidas
no início do ano.
No entanto, essa economia, que
no jargão do mercado financeiro
é conhecida como superávit primário porque não inclui os gastos
com juros, chegou a R$ 49,355 bilhões, o equivalente a 3,92% da
produção nacional (PIB). Esse valor supera até mesmo a meta fixada para todo o ano: R$ 46,5 bilhões, cerca de 2,38% do PIB.
Em agosto, especificamente, o
superávit primário do governo
central foi de R$ 4,2 bilhões, 23% a
mais do que os R$ 3,46 bilhões registrados no mesmo mês de 2004.
Os resultados deste ano têm sido
puxados pelo aumento das receitas que, segundo o governo, crescem além das expectativas.
A arrecadação com o Imposto
de Renda das empresas (IRPJ) e a
Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL) aumentou 28,9%
nos primeiros oito meses do ano
comparativamente ao mesmo período de 2004.
No entanto, os investimentos
realizados pelos ministérios cresceram apenas 9,5%, totalizando
R$ 4,644 bilhões. A maior parte
desse gasto (R$ 2,8 bilhões), porém, refere-se a despesas contratadas no ano passado, segundo o
Tesouro Nacional.
Os números reforçam os argumentos dos que consideram o
ajuste fiscal elevado. Como o governo central responde pela
maior parte do superávit primário do setor público consolidado,
que inclui ainda a conta de estatais, Estados e municípios, a principal crítica é que o governo vem
promovendo, na prática, um aumento do superávit primário,
sempre negado nos discursos.
Para 2005, a meta do ajuste fiscal consolidado é de R$ 82,96 bilhões, 4,25% do PIB, e o montante
economizado até agosto será divulgado na semana que vem pelo
Banco Central.
O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, rebate essa crítica e diz que nos últimos quatro
meses do ano, a economia gerada
até agora irá se reduzir, convergindo para o valor projetado inicialmente. Nas contas de Levy, isso ocorrerá, em parte, por causa
dos reajustes salariais concedidos
a algumas carreiras, entre elas, a
dos militares, cujo gasto será contabilizado a partir de outubro.
Além disso, ele destaca que tradicionalmente a pressão por gastos é maior no final do ano. Levy
não incluiu nos cálculos o pagamento do reajuste de 15% aos funcionários do Legislativo que foi
vetado pelo presidente, mas o veto foi derrubado no Congresso
Nacional. A polêmica deverá ser
resolvida para Justiça.
Levy lembrou ainda que a expectativa de crescimento das despesas nominais da Previdência no
ano é o dobro do aumento esperado no PIB per capita, uma forma
de medir a riqueza do país estabelecendo uma relação entre a produção e o número de habitantes.
"Enquanto o PIB per capita deve crescer nominalmente 8%, as
despesas da Previdência vão aumentar 17% em 2005. Para um
país com inflação baixa, isso é significativo", destacou o secretário.
"As despesas [do governo federal]
estão evoluindo com dinamismo
e deverão se acelerar", disse.
Ao contrário do ministro Paulo
Bernardo (Planejamento), que
admitiu em audiência pública no
Congresso que os ministérios não
estão conseguindo gastar o dinheiro já liberado, o secretário
considera que a execução orçamentária está "em linha com a
programação".
"Os gastos estão compatíveis
com a liberação programada",
afirmou Levy. Na véspera, Bernardo tinha reconhecido a lentidão na execução do orçamento.
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