São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2006

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BC prevê saldo externo 79% menor em 2007

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de quatro anos de saldos recordes nas contas externas, o Banco Central já trabalha com um cenário de forte queda no resultado do ano que vem. Em 2007, nas contas do BC, o superávit em transações correntes -que inclui a compra e a venda de bens e serviços com outros países- deve ficar em US$ 2,5 bilhões, 79% menor que o esperado para este ano.
Essa queda se deve, principalmente, ao resultado bem menos expressivo que deve ser atingido pela balança comercial -a projeção para o superávit comercial de 2007 é de US$ 30 bilhões, queda de 27% em relação aos US$ 41 bilhões esperados para 2006.
"Devemos ter uma acomodação bastante significativa das exportações e, ao mesmo tempo, a continuidade do crescimento das importações", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Entre janeiro e agosto deste ano, a balança comercial teve um superávit de US$ 29,684 bilhões. O saldo em transações correntes, por sua vez, ficou em US$ 8,225 bilhões. As transações correntes incluem, além do comércio exterior, a balança de serviços (remessas de lucros, além de gastos com viagens internacionais e despesas com juros da dívida externa, entre outros itens) e as transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa).
Pelas estimativas do BC, as exportações devem crescer só 6% em 2007. Segundo Alexander Xavier, economista-chefe da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), as exportações dependerão dos EUA.
"Ainda há uma certa dúvida em relação ao comportamento da economia americana", disse Xavier. Depois de sucessivos aumentos nos juros, que tinham por objetivo conter a inflação, a economia dos EUA dá sinais de desaceleração, e há dúvidas sobre qual será a intensidade dessa freada. O país é um dos principais destinos das exportações brasileiras.
As importações, por outro lado, refletem o nível de atividade interno: se a economia brasileira crescer mais, a tendência é de importações maiores.
Confirmadas as projeções do BC, as contas externas voltariam a um nível mais próximo ao normalmente observado no Brasil. O país deve encerrar, em 2006, seu quarto ano seguido de superávit em transações correntes, algo que nunca havia acontecido antes. Em geral, os gastos com juros da dívida externa e o volume de importações costumavam manter esse indicador no vermelho.
Há quem defenda que é saudável para uma economia emergente ter déficit em transações correntes, pois isso indicaria que o país está importando máquinas ou pagando juros por empréstimos que ajudariam no seu desenvolvimento.
Por outro lado, esse déficit precisa ser financiado de alguma maneira, por meio da atração de investimentos estrangeiros ou pela obtenção de empréstimos externos. Em épocas de crise global, esse financiamento pode se tornar escasso, deixando o país deficitário em dificuldade.
Para o BC, o superávit nas contas externas representa um "seguro" para proteger o Brasil de crises externas. Xavier diz que a vulnerabilidade do país a essas turbulências se reduziu nos últimos anos. Para ele, hoje em dia os principais obstáculos ao crescimento estão ligados a questões internas, como o alto endividamento do governo.


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