São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2006

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Dólar vai a R$ 2,21, e risco-país sobe 7%

Temores de desaceleração nos EUA e sobre governabilidade no Brasil em 2007 afetam mercado; Bolsa de SP recua 1%

Ativos de países emergentes têm queda generalizada; banco central americano vê desaquecimento da economia acima do desejado

Mauricio Lima/France Presse
Operadores no pregão da Bolsa de Mercadorias & Futuros; dólar tem alta de 1,47% e atinge maior valor em mais de dois meses

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Bolsa de Valores de São Paulo até que tentou, mas não conseguiu se recuperar ontem. Com o cenário externo mais adverso e o desconforto causado pelo último escândalo envolvendo o partido do presidente Lula, a Bolsa terminou o pregão com perdas de 1,04%.
A queda de ontem levou o Ibovespa, principal índice da Bolsa, a seu mais baixo nível desde o fim de junho.
Desde sexta-feira, quando eclodiu o escândalo da compra do dossiê contra os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, a Bovespa acumula desvalorização de 3,70%.
Analistas afirmam que a principal preocupação dos investidores é em relação à governabilidade a partir de 2007.
O dólar teve importante valorização de 1,47% ontem e foi a R$ 2,21 -maior valor em pouco mais de dois meses.
"A alta do dólar nos últimos dois dias reflete o desconforto do mercado em relação à cena político-eleitoral", diz Jorge Knauer, gerente de câmbio do banco Prosper. Knauer diz que um ponto importante que a atual crise levanta é o de como será o governo a partir do próximo ano. "O investidor está vislumbrando maiores dificuldades para governar em 2007", afirma Knauer.
Nos Estados Unidos, a notícia desanimadora foi dada pelo braço do Fed (o banco central americano) de Filadélfia, que informou que seu índice de atividade empresarial ficou negativo neste mês, apontando desaquecimento econômico acima do desejado.
O índice Dow Jones caiu 0,69%, e o Nasdaq, 0,67%.
Ontem, o risco-país dos emergentes subiu de forma generalizada. A crise de alguns "hedge funds", com recentes perdas estimadas em alguns bilhões de dólares, tem elevado a aversão ao risco.

Erro
Em outras palavras, grandes investidores começaram a vender de forma mais agressiva ativos de emergentes. Além disso, a preocupação com o fato de o Fed poder ter errado a mão, ao elevar os juros demais e desaquecer em demasia a maior economia do mundo, tem sido mal digerida.
O risco brasileiro saltou 7,02%, a 244 pontos. O mexicano subiu 7,83% (124 pontos), o argentino, 7,14% (a 360 pontos). Fora da América Latina, destaque para as altas do risco da Rússia (+5,50%, a 115 pontos) e da Turquia (+5,58%, a 246 pontos). As crises políticas na Hungria e na Tailândia -que sofreu um golpe militar- têm colaborado para deixar os investidores mais cautelosos em relação aos emergentes.
Na Bolsa brasileira, os estrangeiros venderam forte volume de ações nos últimos dias, segundo operadores.
Os contratos de juros futuros de prazos de mais longos tiveram alta forte na BM&F. O movimento indica preocupação maior com o futuro. No contrato DI que vence daqui a dois anos, a taxa pulou de 13,85% para 14,07%. No contrato com resgate no fim de 2007, a taxa foi de 13,72% para 13,86%.
Diante do cenário menos favorável e da pressão dos investidores para conseguir taxas mais elevadas, o Tesouro vendeu apenas metade dos títulos que ofertou em leilão ontem.
O BC vai realizar hoje leilão de "swap cambial reverso", que tem o efeito de compras de dólares no mercado futuro, o que pode pressionar a cotação da moeda estrangeira.


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