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Lula buscará reconstruir credibilidade
Se reeleito, presidente vai querer mostrar a investidor compromisso com a responsabilidade fiscal e a redução da dívida pública
Estratégia para reconquistar
confiança passa pela
formação da equipe
econômica de um
eventual segundo mandato
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Por trás do debate sobre os
rumos da política econômica
nos próximos anos está a preocupação do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de, se reeleito, sinalizar ao mercado financeiro que não ficará refém
dos desdobramentos da investigação do dossiê contra tucanos, sem conseguir aprovar
medidas importantes no Congresso que permitam ao país
crescer.
Para isso, avalia-se que é preciso reconstruir a credibilidade
do "novo governo" com investidores e analistas financeiros,
mostrando uma equipe que tenha compromisso com a responsabilidade fiscal no longo
prazo e com a redução da dívida
pública.
Segundo um interlocutor do
governo, se o mercado financeiro acreditar que o tamanho
do endividamento público ante
o total da produção nacional
(Produto Interno Bruto) vai
mesmo recuar do patamar de
50% do PIB, o espaço para queda mais acentuada dos juros estará garantido.
Dessa forma, argumenta, é
possível fortalecer a economia
e criar um ambiente que se
contraponha à turbulências
políticas que possam surgir
num eventual segundo mandato. Lula está convencido de que
as conquistas do lado econômico foram a salvação do governo
nos últimos dois anos, quando
o país foi inundado por denúncias de corrupção. Agora, no caso de ter mais quatro anos pela
frente, ele quer reforçar seu
"arsenal" de defesa porque sabe
que contará com uma oposição
bem mais aguerrida.
Para isso, a primeira condição é garantir taxas de crescimento da economia bem maiores do que a média de 2,5% registrada até agora. A segunda,
tirar o Brasil do topo do ranking dos países que têm as
maiores taxas de juros reais do
planeta. Esses são considerados os pontos fracos da gestão
econômica até agora.
Ninguém duvida, no entanto,
de que a base do modelo econômico será a mesma que vem
desde o governo passado: ajuste fiscal, sistema de metas de
inflação e câmbio flutuante. A
diferença estará nos ajustes
dessas variáveis. E aí começam
as divergências dentro do PT.
Poder
Essa discussão das "correções" possíveis, já travada nos
bastidores do governo, ganha
uma dimensão ainda maior
porque se mistura à disputa pelo controle da equipe econômica. Com isso, mais do que uma
nova proposta econômica, o governo precisará de nomes que
sejam interpretados pelo mercado como pessoas comprometidas com o rumo escolhido.
Lula não quer abrir mão das
conquistas obtidas a duras penas na economia, mas quer ir
além. O atual ministro Guido
Mantega (Fazenda) é visto como alguém que pode fazer a política que o presidente decidir.
O problema, nesse caso, é que
ele não sinaliza algo novo e tem
sua imagem desgastada por ser
considerado "gastador".
Com isso, a opção por uma
ajuste fiscal mais forte ou a decisão de fazer uma reforma ousada da Previdência, por exemplo, exigiria outra pessoa no comando da política econômica,
na avaliação de integrantes do
governo. Além disso, Mantega
tem que enfrentar a resistência
de Antonio Palocci Filho, seu
antecessor no cargo.
Eleito deputado federal por
São Paulo, o ex-ministro vem
atuando nos bastidores pela
substituição de Mantega. Palocci tenta abrir caminho para
o presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, assumir a
pasta e, mais recentemente,
passou a defender também o
nome do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, como outra opção.
Mudança no discurso
A manutenção de Mantega
no cargo exigiria uma mudança
no discurso dele, por exemplo,
com relação à realização de
uma reforma da Previdência,
segundo apurou a Folha. Sem
isso, avaliam, dificilmente os
investidores acreditariam na
tese de que os juros cairão de
forma mais acentuada do que
nas projeções atuais.
Pelas estimativas do mercado, considerando uma inflação
de 4% no ano que vem (abaixo
da meta de 4,5%), o país chegaria ao final de 2007 com juros
reais entre 7% e 8% anuais, o
que significa uma taxa nominal
entre 11% e 12% ao ano. Atualmente, a Selic, fixada mensalmente pelo BC, está em 13,75%
ao ano. Com isso, o espaço para
reduzir a taxa é apertado.
Um corte mais forte da taxa,
já defendido dentro do governo, faria o país se aproximar
das taxas de juros praticadas
em economias em desenvolvimento, que estão crescendo a
taxas bem mais aceleradas do
que o Brasil. O problema é que,
para sustentar esse cenário, é
preciso avançar também no
plano fiscal.
A dificuldade do governo é
encontrar fórmula que viabilize isso sem ter de aumentar o
arrocho nas contas públicas
para não comprometer investimentos na área social. E, aí, novamente, um ponto de alívio
para o governo é a reforma da
Previdência. Mesmo que o impacto de uma mudança no sistema não seja imediato, só a
perspectiva de que ela viria no
médio prazo já seria suficiente
para criar um ambiente positivo, permitindo queda do juro.
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