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Título público rende o dobro a estrangeiro
Com queda do dólar e isenção de IR, aplicação de investidor externo dá ganho de 89% desde fevereiro de 2006, ante 42% de brasileiros
Em 2006, investimentos estrangeiros em títulos públicos somaram
US$ 11 bi; neste ano, até agosto, fluxo era de US$ 14 bi
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a queda do dólar e a
isenção de Imposto de Renda
dada pelo governo, as aplicações em títulos públicos feitas
por investidores estrangeiros já
chegam a acumular rentabilidade líquida próxima de 90%
de fevereiro de 2006 para cá,
ultrapassando o já alto retorno
oferecido aos aplicadores brasileiros. Para efeito de comparação, desse mês até setembro
passado, a inflação medida pelo
IPCA ficou em 5,6%.
Os maiores ganhos foram alcançados por papéis de longo
prazo corrigidos pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo), os mais procurados
pelos estrangeiros. Os títulos
atrelados ao índice oficial de inflação com vencimento em
2045 já renderam, em dólar,
89% desde fevereiro do ano
passado -mês em que começou a valer a isenção de IR para
investidores internacionais-,
considerando o fechamento da
última quinta-feira. O investidor nacional que fez a mesma
aplicação ganhou 42% em
reais, já descontado o IR, cuja
alíquota nesses casos varia de
15% a 22,5%, dependendo do
prazo do investimento.
A alta lucratividade das operações dos estrangeiros se explica, em boa parte, pela queda
do dólar. Em fevereiro de 2006,
quando a moeda dos EUA era
cotada a R$ 2,22 (hoje, vale R$
1,80), um título público corrigido pelo IPCA com vencimento
em 2045 era negociado a R$
1.106,08 -o equivalente, à época, a US$ 487,49. A esse preço, o
investidor que pusesse dinheiro no papel receberia, até seu
vencimento, juros de 8,93% ao
ano mais a variação da inflação.
De lá para cá, o grande interesse do mercado nessa aplicação -que garantia uma rentabilidade elevada num momento em que o Banco Central reduzia os juros- provocou uma
valorização nos papéis.
Na última quinta-feira, o
mesmo título era negociado a
R$ 1.661,38. Com a valorização
do real, porém, a cotação em
dólar do papel já havia subido
para US$ 919,36 -equivalente
a juros de 6,23% ao ano. Ou seja, o capital investido pelo estrangeiro dobrou em menos de
dois anos.
Nos títulos prefixados, os ganhos dos estrangeiros nesse
mesmo período também foram
altos. Os papéis com vencimento em 2008 se valorizaram em
64% em dólar, contra um rendimento líquido, em reais, de
26% conseguido pelos investidores nacionais.
No ano passado, os investimentos estrangeiros em títulos
públicos negociados no Brasil
somaram US$ 11 bilhões. Neste
ano, até agosto, o fluxo já estava
em US$ 14 bilhões (alta de
27,3% sobre todo o ano passado). Em fevereiro de 2006, estava em US$ 2,2 bilhões.
Carlos Cintra, gerente de
renda fixa do banco Prosper,
diz que é difícil afirmar se esses
investimentos continuarão
chegando ao Brasil daqui para a
frente, mas ressalta que as aplicações em títulos emitidos pelo
governo continuam "atrativas".
"Quando comparadas aos juros
norte-americanos, por exemplo, as taxas aqui ainda são
muito altas", diz. A taxa Selic
está hoje em 11,25% ao ano, e a
taxa básica dos EUA, em 4,75%.
Novo cenário
Os elevados ganhos ocorridos nos últimos anos, porém,
não vão necessariamente se
prolongar por muito tempo. Isso porque a alta rentabilidade
alcançada desde 2006 reflete,
em boa parte, a expectativa do
mercado, na época, de que o BC
fosse continuar reduzindo os
juros por um bom tempo. Isso
fez muitos aplicadores buscarem títulos públicos que oferecessem alto retorno, o que explica a valorização dos papéis.
Agora, o cenário é um pouco
diferente. Cintra ressalta que a
alta da inflação observada nos
últimos meses e o aumento nas
projeções para o IPCA de 2008
colocam em risco o processo de
queda dos juros. Ao analisar essa situação, na última quarta-feira o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) interrompeu uma série de mais de
dois anos de redução da taxa
Selic, e a dúvida agora é quanto
tempo vai se passar até que esse
processo seja retomado.
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