São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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LUÍS NASSIF

Brasil e EUA, segundo a doutrina Bush

As relações entre Brasil e Estados Unidos dependem de uma melhor compreensão sobre o significado da doutrina Bush para a diplomacia externa norte-americana. Nesta semana chegou às mãos do governo Lula uma análise relevante sobre o tema, que servirá para preparar a estratégia de relacionamento com os EUA.
Os partidos políticos norte-americanos dispõem de verba de aproximadamente US$ 85 milhões por ano para programas internacionais. São recursos orçamentários do Congresso que irrigam um fundo de nome National Endowment for Democracy, dividido equitativamente entre os dois grandes partidos, através de seus institutos -o International Republican Institute e o International Democrat Institute.
Durante anos, os democratas utilizaram o grupo Força Sindical, de Luiz Antonio Medeiros, como canal de ação no Brasil. No campo empresarial, valeram-se de um grupo de empresários reunidos em torno do Centro de Estudos da Livre Empresa (Cele). A ação do IRI no Brasil resultou em um único fruto, o bom relacionamento com o PFL , através da Fundação Petrônio Portella.
O núcleo duro do poder em Washington (National Security Council, Pentágono e Casa Branca) vê o mundo de forma geopolítica e não ideológica. Não há nenhuma identidade com as antigas idéias de prosperidade hemisférica, linha que começou com a política de boa vizinhança da Segunda Guerra, passou pela Aliança para o Progresso e terminou no neoliberalismo da década de 90.
Na sua avaliação, a América do Sul tem dois grandes problemas geopolíticos: Colômbia e Venezuela. A primeira, por causa da forte guerrilha e sua vinculação com o narcotráfico; a segunda, por ter um governo não-confiável administrando o maior fornecedor de petróleo importado para os Estados Unidos.
Em relação ao Brasil, seu objetivo estratégico é não ter um adversário duro, agressivo, nos fóruns internacionais, situação que será facilitada pela vulnerabilidade brasileira na área econômico-financeira.
Segundo esse "paper", a aposta preferencial dos republicanos era na candidatura Roseana, que foi apoiada pelo IRI. Em segundo lugar, na candidatura Lula. Na sua avaliação, se chegasse ao poder, Lula não teria força e apoio das elites internas, e muito menos do mercado financeiro, para tornar o Brasil uma potência regional. Já a candidatura José Serra gozava de enorme antipatia dos republicanos, por sua biografia antiamericana, posições manifestadas contra a Lei de Patentes.
Por outro lado, se Lula fizer um bom trabalho de relações pessoais em Washington, ampliará sua aceitação. Um dos pontos caros à cultura política norte-americana é a origem humilde e operária de Lula, o que o distingue totalmente dos intelectuais revolucionários típicos que os americanos detestam. Os norte-americanos respeitam muito o trabalho e o trabalhador, da mesma forma que não gostam de intelectuais considerados parasitas e desocupados.

Banco do Nordeste
Recebo telefonema do presidente do Banco do Nordeste do Brasil, Byron Queiroz, informando que anteontem o Supremo Tribunal Federal (STF) acabou com mais uma atrevida aventura jurídica contra os cofres públicos.
Um aventureiro tentou transformar uma dívida de US$ 200 mil em uma indenização de R$ 84 milhões, e conseguir a liberação prévia por meio de um mecanismo jurídico denominado de "tutela antecipada". O STF negou.
Declaração de Byron: "Todas as matérias que saíam eram de caráter eminentemente jornalístico. Limitavam-se a descrever o episódio, sem analisar. Seu artigo de janeiro de 1998 foi o único que fez julgamento de valor e impediu que a aventura prosseguisse".
A condenação de que fui alvo em uma ação da Mendes Júnior (três meses de prisão por exercer juízo de valor, e tachar de "aventura" sua pretensão de receber uma indenização de várias vezes o total da obra da Chesf pela correção no atraso em uma das parcelas de pagamento) me deixou desanimado com o exercício do jornalismo neste país.
Mas decisões como a do STF, no caso BNB, ajudam a repor as energias e a comprovar que a luta vale a pena, se a alma não for pequena.

E-mail - lnassif@uol.com.br


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