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LUÍS NASSIF
BC e pensamento burocrático
O cartesianismo alemão do Banco Central
brasileiro não tem limites. Na
penúltima reunião, o Copom
(Comitê de Política Monetária
do Banco Central) baixou a taxa Selic em um ponto percentual. Chamado ao Palácio do
Planalto para explicar por que
não 1,5 ponto, o presidente do
BC, Henrique Meirelles, alegou
que um ponto de queda seria
aprovado por unanimidade
pelo Copom; 1,5, não, e a falta
de unanimidade poderia provocar tensão nesse modelo de
sensibilidade virginal chamado de mercado. Aqui mesmo se
apontou o ridículo da argumentação.
Desta vez, a taxa caiu 1,5
ponto, e não foi por unanimidade: sete votaram a favor e
dois contra. E o risco-país caiu.
Aí, Meirelles apressou-se a ir à
imprensa declarar que não faz
parte da lógica do Copom a
unanimidade.
Ótimo! E antes? Dois membros do Copom controlavam o
ritmo de queda dos juros, simplesmente recusando-se a garantir a unanimidade da decisão.
O que leva Meirelles, um dia,
a afirmar a necessidade da
unanimidade na votação -segundo reportagem de "O Globo"- e depois a sustentar a
não-necessidade? O despreparo para enfrentar as armadilhas burocrático-técnicas de
sua diretoria.
Não é da índole do burocrata
correr risco. Derrubar as taxas
de juros é condição imperiosa
para o país sair da armadilha
da dívida, é o grande desafio
para a retomada da economia.
Mas implica riscos na transição, enfrentar a transferência
de parte da liquidez da economia para outros centros -por
meio de compra e consequente
pressão sobre o câmbio. É tarefa difícil, mas incontornável, e,
quanto mais demorar, maior o
preço a ser pago.
O burocrata, por definição, é
avesso a riscos. Inventa perigos,
argumentos técnicos para justificar o imobilismo e transferir
o desafio da solução para seus
sucessores -ainda mais em
órgão em que os titulares não
são responsabilizados pelos desastres que cometem sequer
com o mínimo: a perda da reputação.
O grande desafio das corporações tem sido estimular o
empreendedorismo corporativo contra a visão imobilizante
burocrática. Para tal, a empresa tem que dispor de CEO arrojado -e, por tal, se entenda o
sujeito com conhecimento técnico suficiente para ser arrojado sem ser temerário.
A questão da taxa de juros de
equilíbrio é outro tema que
tem permitido jóias de cartesianismo. Primeiro tiram da
cartola a tal taxa de equilíbrio.
Depois vão procurar as relações de causalidade.
Para alguns, os formadores
de preços da economia comparam as taxas de juros de longo
prazo com a inflação esperada;
se ficar abaixo, aumentam preços. Para um segundo grupo, a
questão é que o risco Brasil estaria em 10% ao ano. Com a
taxa interna caindo abaixo do
risco, os investidores adquiririam dólares e transfeririam
sua liquidez para outras praças.
Ontem, um desses técnicos
-que defende a segunda hipótese- apresentou um primor
de raciocínio "cabeça de planilha": a taxa de juros de equilíbrio é de 10% ao ano, porque é
aquela compatível com um superávit primário de 4,25%. Ou
seja, a taxa de equilíbrio é a
máxima taxa que esfola, mas
não mata.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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