São Paulo, domingo, 22 de novembro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice POLÍTICA MONETÁRIA BC usa um título híbrido para alongar de novo a dívida pública com juros previamente definidos Mercado espera volta lenta de prefixados
da Reportagem Local e da Redação O Banco Central vai trazer de volta ao mercado a prefixação à dívida interna pública de forma bem gradual. É a opinião dos especialistas ouvidos pela Folha. O Bônus do Banco Central da série A (BBC-A) é a fórmula escolhida para realizar essa operação. O BBC-A é um título de 180 dias híbrido, com taxas prefixadas e pós-fixadas. O primeiro BBC-A, lançado em 1º de outubro, pagava taxas prefixadas por uma semana. Nos leilões seguintes, os papéis passaram a pagar juros prefixados por duas semanas. Na quinta-feira foi vendido, com sucesso, o primeiro BBC-A com juros prefixados por três semanas. Neste mês, esses títulos devem passar a representar 16% do total. Segundo especialistas, o BC deve leiloar, nesta semana e na próxima, BBC-As prefixados ainda em três semanas. Gradativamente, vai ampliar esse prazo, até conseguir espaço para lançar títulos totalmente prefixados. "O BC vai alongar os prazos dos prefixados gradualmente, à medida que o mercado for mostrando mais apetite", diz Joaquim Paulo Kokudai, operador-chefe de renda fixa do Lloyds. Esse apetite depende da confiança de que os juros vão continuar a cair por um prazo mais longo. Em situações de crise, os bancos passam a pedir um prêmio maior do que o BC está disposto a pagar para carregar títulos que pagam um rendimento pré-estabelecido. Temem perder com a alta de juros ou a desvalorização cambial. Eduardo Santalucia, responsável no Brasil pelo private banking do Sudameris, concorda que o alongamento no prazo da dívida prefixada será lento. Segundo ele, o avanço efetivo do ajuste fiscal prometido pelo governo abre espaço para que a queda nos juros continue e para que a confiança dos investidores se restabeleça. Nos últimos anos, lembra Santalucia, o processo de alongamento de prazos com títulos pré foi atropelado por mais de vez. Em 94, após o lançamento do Real, quando os títulos prefixados começaram a deslanchar, veio a crise mexicana. Depois, quando os pré pareciam se firmar, veio a crise asiática, no final de 97. Neste ano, a recente crise russa, a partir de maio. Flávio Bojikian, diretor de renda fixa do BankBoston, observa que o mercado financeiro "está muito cauteloso, com um pé atrás" quanto à trajetória das taxas de juros, de olho no cenário externo e no ajuste fiscal. "O BC não quer atropelos. Vai ampliar a prefixação da dívida da forma que vem reduzindo os juros: de forma gradual", diz Antenor Ramos Leão, analista de investimentos da Corretora Solidez. O BC, desde o dia 12, vem cortando as taxas de juros Selic (nos negócios com títulos públicos do over, o mercado por um dia) anuais em 0,5 ponto percentual por dia. Na sexta-feira, esses juros estavam a 36,50% ao ano. O mercado passou a aceitar títulos prefixados por prazo mais longo porque aposta que essa política será mantida até o final do mês, possivelmente até o final do ano. Os especialistas acreditam que, se a situação dos mercados continuar favorável, os investidores podem voltar a aplicar, já neste ano, em papéis do governo prefixados por um prazo de um mês. Segundo especialistas, o mercado de renda fixa está operando com uma sobra de recursos estimada em R$ 20 bilhões. O BC tem deixado o mercado "líquido", no jargão dos investidores. Esse dinheiro a mais no mercado tende a procurar papéis do governo prefixados, que podem ser mais lucrativos do que os papéis privados. (CRISTIANE PERINI LUCCHESI e GABRIEL J. DE CARVALHO) Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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