São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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CONSUMO

Rentabilidade é mais baixa e endividamento é o mais alto desde 94; queda das vendas no varejo é a 2ª maior

Comércio registra pior resultado do Real

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O varejo foi ao fundo do poço: em 2002 o setor teve o mais baixo nível de rentabilidade desde o início do Plano Real, em 1994, e bateu o recorde de endividamento com bancos no período. Os dados, nacionais, foram obtidos pela Folha com a Serasa (Centralização de Serviços Bancários), especializada em informações de crédito no país.
Pior: análise de mil balanços de lojas do setor mostra que o comércio no Brasil deve fechar 2002 com retração de 2,6% nas vendas reais (descontada a inflação). Esse é o primeiro número fechado sobre o desempenho do varejo no país no ano. Novos números serão dados pelo IBGE em 2003.
A somatória de três fatores -renda em queda, desemprego em alta e crédito caro por conta dos juros- jogou todas as previsões otimistas na lona.
A queda de 2,6% interrompe três anos consecutivos de bons resultados e é a segunda maior retração desde o início do governo FHC. Redução superior à de 2002 ocorreu apenas em 1996 -quando o tombo foi de 5,8%.
Em relação à rentabilidade, houve forte redução na margem de lucro líquida do setor, que atingiu 0,8% em setembro de 2002 e estava em 1,5% no ano anterior -de janeiro a dezembro de 2001. Esse número registrado até setembro deve se manter, pois não houve recomposição de margem do setor nos últimos meses. Em dezembro de 1994, a taxa estava em 3%, o pico nos anos FHC.
O pior desempenho foi alcançado em dezembro de 1993 (antes do Real), quando a taxa estava em 0,3%. Os números da Serasa têm como base o balanço de mil companhias de varejo no país.
Entre elas, 67,2% são de pequeno porte (até R$ 2 milhões em vendas), 24,7% são médias (de R$ 2 milhões a R$ 50 milhões) e o restante, 8,1%, são grandes (acima de R$ 50 milhões). A amostra inclui de hipermercados a mercearias, varejo eletrônico e postos de combustíveis, entre outros.
Nos anos do Real, o comércio de combustíveis teve a maior perda de rentabilidade. No mercado de revenda de carros e no varejo eletrônico, o cenário também é difícil. "Nada fez as empresas perderem mais rentabilidade do que a pressão da concorrência", diz Marcio Ferreira Torres, gerente de análise de crédito da Serasa.
Com mais empresas no mercado, fica difícil garantir fidelidade do cliente e demanda constante na loja. Logo, as companhias precisam oferecer preços mais atraentes e reduzir margens.
No caso dos eletrônicos, a redução foi de 2,7% em 2001 para 1,2% em setembro de 2002. No comércio de automóveis, a queda foi de 1,6% para 0,6% no período.
Quem vende alimentos perdeu menos dinheiro. A rentabilidade caiu, mas menos do que a média do setor em 2002. Isso é resultado de um processo de substituição.
Isso porque o surto inflacionário fez com que o consumidor mantivesse o número de itens comprados nas lojas. Mas ele optou pelos mais baratos. Resultado: a margem da loja com produtos de maior valor agregado, e mais caros, ficou comprimida em 2002.
"A arma é saber negociar. Sabemos que a indústria está no sufoco, mas bons contratos com grandes volumes ainda é a velha e boa saída para garantir resultado", diz Newton Rocha, da Riachuelo.
A Serasa também forneceu dados sobre endividamento, que disparou nos anos do Real.


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