São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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CONSUMO

Até setembro, rentabilidade industrial era de 5,4% e a dívida sobre o patrimônio era de 79%, contra 0,8% e 50% no varejo

Indústria deve e lucra mais que o varejo

Tuca Vieira/ Folha Imagem
Movimento de compras de Natal do Shopping Higienópolis, região central de São Paulo


DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria está mais endividada do que o varejo. Mas sua rentabilidade está maior. Dados levantados pela Serasa (Centralização de Serviços Bancários) na semana passada, e cruzados com aqueles obtidos pela Folha na sexta-feira, levam a essa conclusão.
O endividamento em relação ao patrimônio estava em 79% no setor industrial, em setembro deste ano. No comércio, a taxa estava em 50% no período.
A partir de 1997, e durante quatro anos, o endividamento da indústria com os bancos começou a crescer e estabilizou-se na faixa dos 50%. Só repicou em 2002, ao atingir 79%.
No caso do varejo, a situação foi diferente. Desde 2000 essa taxa dispara, de 30% para 42% (2001) até alcançar 50% do patrimônio líquido em 2002. Mas ainda é menor do que a do setor produtivo.
Na prática, débitos em caixa são saudáveis pois são contraídos para fazer investimentos.
Portanto, economistas concordam que dívida alta não é sinônimo de problema à vista. O que precisa ser verificado é se o total de débitos é elevado em relação ao lucro e à geração de receita. Com isso, pode-se verificar se o montante devido é "pagável".
Acontece que os técnicos constataram que os débitos -tanto no comércio quanto na indústria brasileira- têm sido arrastados ano após ano. Sem recursos em caixa, opta-se pelo alongamento de débitos de curto para longo prazo -e o pagamento, basicamente, dos juros das dívidas.
Isso ocorreu, principalmente, após a desvalorização do real em 1999 e 2002. As empresas captaram recursos no exterior em dólar e a desvalorização acabou encarecendo o empréstimo.
Já aquelas companhias de pequeno porte (que não têm dívidas em dólares) sofrem mais com o aumento das taxas de juros -cobradas em empréstimos bancários. Essas taxas sobem cada vez que o governo anuncia aumento na taxa básica (Selic), usada para operações no mercado.
Exemplo: na área de alimentos, em que há vários pequenos varejistas e pequenas indústrias, a taxa de endividamento (financiamento dividido pelo patrimônio) disparou.
No varejo alimentício, a taxa de endividamento passou de 58% em 2001 para 79% em setembro de 2002. Na indústria de alimentos, o endividamento já chega neste ano a 143% do patrimônio.
A questão é manter recursos em caixa para pagá-los. E recursos só existem se há receita elevada e, logo, demanda no mercado interno ou externo. O problema é que não há expectativa de elevação na demanda no primeiro semestre de 2003. E há estimativas de que a cotação do dólar -moeda em que estão grande parte dos débitos das companhias-só cederá lentamente durante o próximo ano, diz a Serasa.
"Sem crescimento econômico não há como resolver essa equação", diz Carlos de Almeida, assessor econômico da Serasa.

Indústria mais rentável
A indústria pode ter uma dívida maior que o varejo. Mas ela teve operações mais rentáveis no ano. Até setembro, a indústria acumulava uma rentabilidade de 5,4%. E o varejo, de apenas 0,8%.
Em 2000, essa taxa no setor industrial chegou a atingir 8,4%, enquanto nas lojas o número não ultrapassava 1,9%. Nesse caso, estão incluídos diversos segmentos (desde siderurgia a produtos agrícolas) e pequenas, médias e grandes companhias. Foram analisados, no total, os balanços de cerca de 3.000 empresas no país. (ADRIANA MATTOS)


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