São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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EM TRANSE

Real fica vulnerável diante da seca de crédito internacional; cotação do dólar sobe e pressiona a inflação

Dependência externa cresce nos anos FHC

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso vai entregar a seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, um país economicamente muito mais vulnerável do que aquele que recebeu no início do seu mandato, há oito anos. Indicadores calculados pelo Banco Central mostram que a vulnerabilidade externa do Brasil aumentou muito de 1995 para cá.
Isso explica vários problemas enfrentados pela economia brasileira atualmente: a dependência do capital estrangeiro leva à disparada do dólar, que, por sua vez, pressiona a inflação. Para combater a alta dos preços, o governo eleva os juros, o que inibe o crescimento econômico.
O governo aponta o resultado recorde da balança comercial como sendo um dos indicadores de que no Brasil, hoje, a vulnerabilidade externa do país já é bem menor do que no passado. A expectativa é que, neste ano, as exportações superem as importações em mais de US$ 12 bilhões (contra US$ 2,6 bilhões em 2001).
Mesmo assim, as exportações ainda são consideradas insuficientes para cobrir os pagamentos da dívida externa. Além disso, as reservas em moeda estrangeira do governo são muito baixas, aumentando a percepção de risco por parte dos investidores.
Em 1995, primeiro ano do governo FHC, o serviço da dívida externa (pagamentos de parcelas da dívida, mais gastos com juros) representava 38,9% das exportações brasileiras. Ou seja, para honrar seus compromissos externos, o Brasil podia contar com 38,9% dos dólares obtidos com as vendas de mercadorias ao exterior. Neste ano, essa proporção subiu para 92,7%.
Hoje, a dívida externa representa 44,2% do PIB (Produto Interno Bruto), contra 27,9% em 1995. Há oito anos, as reservas internacionais eram suficientes para pagar o serviço da dívida por 2,2 anos -hoje, pagam nove meses.
Isso significa que, em momentos de crise, o país dependia menos, em 1995, de dólares originados de empréstimos e investimentos estrangeiros, pois podia usar os recursos obtidos com as exportações para pagar, com folga, suas dívidas.
Neste ano, isso já não aconteceu. O desaquecimento da economia mundial e a especulação que rondou as eleições presidenciais fizeram os estrangeiros fecharem seus cofres para o país.
Como as exportações não eram suficientes para gerar dólares para o pagamento desses compromissos, a cotação da moeda disparou. A desvalorização do real derrubou as importações, que caíram 8,5% entre janeiro e novembro. Ajudou nesse processo a estagnação da economia, que reduziu a procura por importados.
Para enfrentar o problema da vulnerabilidade externa, é preciso que o Brasil consiga elevar suas exportações, para poder, por conta própria, conseguir dólares para honrar seus compromissos sem depender do capital estrangeiro.


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