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Folhainvest
Crise joga a favor de investidor de CDB
Diante do aperto na liquidez, bancos de diferentes portes aceitaram pagar juro maior para captar dinheiro dos clientes
Instituições pagaram
mais de 100% do CDI para clientes com R$ 100 mil;
há um ano, taxa era paga
a quem tinha R$ 1 milhão
TONI SCIARRETTA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise financeira global, que
fez estrago na Bolsa e nos fundos de investimento, jogou a favor dos investidores brasileiros
mais conservadores que aplicam em CDB (Certificado de
Depósito Bancário). Diante do
aperto na liquidez, bancos de
diferentes portes tiveram de
aceitar pagar taxas de juros inéditas para enfrentar a concorrência, captar dinheiro do
cliente e seguir emprestando.
Pela primeira vez, bancos como Bradesco, Itaú, Unibanco,
Santander, Real, HSBC e Banco
do Brasil pagaram taxas acima
de 100% do CDI (juro interbancário) para clientes com recursos da ordem de R$ 100 mil.
Um ano antes, só conseguia essa taxa quem tinha R$ 1 milhão.
Nos CDBs pós-fixados, os
bancos costumam dar uma
porcentagem do CDI para o
cliente, dependendo de prazo,
volume de recursos e histórico
do relacionamento. Nos bancos
de primeira linha, esse percentual nunca chegava a 100%, variando historicamente de 77%
a 95% -com o CDI em 13,5%, o
aplicador levava de 10,395% a
12,825% brutos. Agora, alguns
clientes conseguem até 14%
brutos (104% do CDI) nos bancos de primeira linha.
Como os CDBs são títulos
que pertencem aos bancos, os
riscos dessa aplicação estão diretamente ligados à saúde financeira da instituição.
No ano, até o dia 15, os CDBs
tinham retorno médio acumulado de 11,83%. Para as aplicações acima de R$ 300 mil, a média sobe para 12,93%. Já os fundos DI têm alta de 11,52% e os
de renda fixa, de 12,18%.
E isso sem descontar a taxa
de administração, que varia de
0,5% a 4% ao ano do patrimônio dos fundos. O resultado foi
que os CDBs tiveram em 2008
um de seus anos de maior atratividade. Enquanto a indústria
de fundos perdeu R$ 67,69 bilhões em captação no ano e seu
patrimônio voltou a R$ 1,12 trilhão, o estoque de CDBs dobrou e alcançou inéditos R$
675,7 bilhões.
"Eu falava que o CDB era o
patinho feio dos investimentos;
agora é o cisne branco. Esse foi
o ano do CDB", disse Marcos
Villanova, superintendente de
investimentos do Bradesco.
"Investidores que não tinham acesso a taxas de 100%
do CDI passaram neste ano a
ter essas taxas. A rentabilidade
desse produto sempre esteve
atrelada ao volume de recursos,
e agora diminuiu bastante",
disse Arthur Riedel, superintendente de produtos de tesouraria do Itaú.
Com o renascimento dos
CDBs, os bancos começaram a
sofisticar a oferta de novos produtos, que premiam restrição
de carências e prazos com taxas
maiores.
Um dos novos CDBs mais populares eleva o percentual do
CDI a cada seis meses, com a
mudança da tributação do IR
-que começa em 22,5% em
menos de seis meses e vai até
15% depois de dois anos. Há
ainda CDBs "over" de liquidez
diária e produtos que funcionam como poupança, mas sem
restrições de aniversário, que
lembram investimentos da
época da hiperinflação.
Os bancos também reestruturaram internamente o setor
de captação de investimentos
para minimizar o "ciúme" dos
gestores de fundos, com a concorrência interna pelo dinheiro
do mesmo cliente. No Bradesco, Real e BB, a venda de fundos
e de CDBs está sob comando da
mesma diretoria. No Itaú, Santander e HSBC ainda são departamentos separados.
"Essa competição não tem
mais aqui. A concorrência aumentou, o cliente passou a ser
mais exigente para comparar
taxa e a rentabilidade aumentou", disse Eduardo Jurcevic,
superintendente de investimentos do Real.
"É melhor sair de fundo e ficar no CDB dentro de casa ou
sair do banco e ir para o CDB da
concorrência? Esse é um movimento de mercado", disse Marcus Matos, superintendente de
captação do Santander.
Para Carlos Antonio Decesaro, gerente-executivo de captação do BB, 2009 pode continuar sendo o "ano do CDB", especialmente o primeiro semestre. "Vai depender muito dos
cenários. Neste ano [de crise],
os clientes procuraram conhecer mais os produtos disponíveis no mercado. Houve uma
evolução nas aplicações."
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