São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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Folhainvest

Crise joga a favor de investidor de CDB

Diante do aperto na liquidez, bancos de diferentes portes aceitaram pagar juro maior para captar dinheiro dos clientes

Instituições pagaram mais de 100% do CDI para clientes com R$ 100 mil; há um ano, taxa era paga a quem tinha R$ 1 milhão

TONI SCIARRETTA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise financeira global, que fez estrago na Bolsa e nos fundos de investimento, jogou a favor dos investidores brasileiros mais conservadores que aplicam em CDB (Certificado de Depósito Bancário). Diante do aperto na liquidez, bancos de diferentes portes tiveram de aceitar pagar taxas de juros inéditas para enfrentar a concorrência, captar dinheiro do cliente e seguir emprestando.
Pela primeira vez, bancos como Bradesco, Itaú, Unibanco, Santander, Real, HSBC e Banco do Brasil pagaram taxas acima de 100% do CDI (juro interbancário) para clientes com recursos da ordem de R$ 100 mil. Um ano antes, só conseguia essa taxa quem tinha R$ 1 milhão.
Nos CDBs pós-fixados, os bancos costumam dar uma porcentagem do CDI para o cliente, dependendo de prazo, volume de recursos e histórico do relacionamento. Nos bancos de primeira linha, esse percentual nunca chegava a 100%, variando historicamente de 77% a 95% -com o CDI em 13,5%, o aplicador levava de 10,395% a 12,825% brutos. Agora, alguns clientes conseguem até 14% brutos (104% do CDI) nos bancos de primeira linha.
Como os CDBs são títulos que pertencem aos bancos, os riscos dessa aplicação estão diretamente ligados à saúde financeira da instituição.
No ano, até o dia 15, os CDBs tinham retorno médio acumulado de 11,83%. Para as aplicações acima de R$ 300 mil, a média sobe para 12,93%. Já os fundos DI têm alta de 11,52% e os de renda fixa, de 12,18%.
E isso sem descontar a taxa de administração, que varia de 0,5% a 4% ao ano do patrimônio dos fundos. O resultado foi que os CDBs tiveram em 2008 um de seus anos de maior atratividade. Enquanto a indústria de fundos perdeu R$ 67,69 bilhões em captação no ano e seu patrimônio voltou a R$ 1,12 trilhão, o estoque de CDBs dobrou e alcançou inéditos R$ 675,7 bilhões.
"Eu falava que o CDB era o patinho feio dos investimentos; agora é o cisne branco. Esse foi o ano do CDB", disse Marcos Villanova, superintendente de investimentos do Bradesco.
"Investidores que não tinham acesso a taxas de 100% do CDI passaram neste ano a ter essas taxas. A rentabilidade desse produto sempre esteve atrelada ao volume de recursos, e agora diminuiu bastante", disse Arthur Riedel, superintendente de produtos de tesouraria do Itaú.
Com o renascimento dos CDBs, os bancos começaram a sofisticar a oferta de novos produtos, que premiam restrição de carências e prazos com taxas maiores.
Um dos novos CDBs mais populares eleva o percentual do CDI a cada seis meses, com a mudança da tributação do IR -que começa em 22,5% em menos de seis meses e vai até 15% depois de dois anos. Há ainda CDBs "over" de liquidez diária e produtos que funcionam como poupança, mas sem restrições de aniversário, que lembram investimentos da época da hiperinflação.
Os bancos também reestruturaram internamente o setor de captação de investimentos para minimizar o "ciúme" dos gestores de fundos, com a concorrência interna pelo dinheiro do mesmo cliente. No Bradesco, Real e BB, a venda de fundos e de CDBs está sob comando da mesma diretoria. No Itaú, Santander e HSBC ainda são departamentos separados.
"Essa competição não tem mais aqui. A concorrência aumentou, o cliente passou a ser mais exigente para comparar taxa e a rentabilidade aumentou", disse Eduardo Jurcevic, superintendente de investimentos do Real.
"É melhor sair de fundo e ficar no CDB dentro de casa ou sair do banco e ir para o CDB da concorrência? Esse é um movimento de mercado", disse Marcus Matos, superintendente de captação do Santander.
Para Carlos Antonio Decesaro, gerente-executivo de captação do BB, 2009 pode continuar sendo o "ano do CDB", especialmente o primeiro semestre. "Vai depender muito dos cenários. Neste ano [de crise], os clientes procuraram conhecer mais os produtos disponíveis no mercado. Houve uma evolução nas aplicações."


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