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São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Taxa sobe de 25% para 25,5%, a maior desde maio de 99; instituição visa cumprir nova meta de inflação

Era Lula no BC começa com alta de juros

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na sua primeira reunião após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) elevou ontem os juros básicos da economia de 25% para 25,5% ao ano.
A taxa está no nível mais elevado desde os 27% fixados em maio de 1999, quando o país ainda se recuperava da crise que levou à maxidesvalorização do real, em janeiro daquele ano.
A decisão foi tomada com a concordância dos sete diretores do BC -todos indicados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso- e do atual presidente da instituição, Henrique Meirelles, escolhido por Lula.
Não foi indicada tendência (viés) para a taxa, o que significa que ela deve permanecer inalterada até a próxima reunião do Copom, em 18 e 19 de fevereiro.
Para justificar o aumento dos juros, o BC divulgou a seguinte nota: "Os indicadores de inflação mostram sinais de queda. No entanto, o Copom julgou que a convergência das expectativas de inflação para a trajetória das metas recomenda uma elevação da taxa Selic para 25,5% ao ano".
Ou seja, mesmo que os índices de preços anunciados até agora mostrem que a inflação começa a recuar, a elevação dos juros ainda é necessária, avalia-se, para ganhar a confiança do mercado.
O aumento de juros mostra que, pelo menos no que se refere à condução da política monetária, a ortodoxia característica do governo FHC vai prevalecer sobre o discurso adotado por Lula durante a campanha eleitoral.
O programa de governo do PT afirmava: "Nosso governo terá uma atitude ativa no sentido de buscar a redução das taxas de juros" -que "asfixiam as contas públicas e o setor empresarial produtivo".
O texto do programa apresentado durante a campanha difere do discurso adotado por Henrique Meirelles. Anteontem, o presidente do Banco Central havia sinalizado um possível aumento dos juros ao anunciar que a instituição promoveria um ajuste na meta de inflação deste ano, passando a trabalhar para que a alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fique em 8,5% neste ano.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se pronunciou sobre a alta dos juros.

Mais aperto
Segundo a última projeção oficial feita pelo BC, em dezembro, a inflação chegaria a 9,5% em 2003 -acima, portanto, da nova meta anunciada anteontem. Quando se espera uma inflação superior à meta, a cartilha recomenda um aumento dos juros.
Meirelles afirmou, anteontem, que o BC iria usar "os instrumentos necessários" para que a meta de 8,5% fosse atingida. Esses instrumentos, segundo ele, "podem envolver qualquer coisa". Além de juros maiores, o presidente do BC não descartou a possibilidade de elevar a meta de superávit primário (economia do governo para o pagamento de juros).
A meta oficial do governo previa uma inflação de 4% neste ano, com uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. O BC desistiu de perseguir essa meta para evitar um aumento ainda maior dos juros, que levaria o país a uma recessão. Nos últimos dois anos, as metas de inflação fixadas pelo governo não foram cumpridas.
Nas contas do BC, com uma política monetária calibrada de modo a manter a inflação em 8,5%, é possível que a economia cresça 2,8% neste ano. Para que a meta oficial de 4% fosse cumprida, porém, o país entraria em forte recessão, com o PIB (Produto Interno Bruto) recuando 7,3%.
Em 2002, o IPCA registrou alta de 12,53%. Já o crescimento ficou em aproximadamente 1,5%, segundo estimativas feitas por bancos e empresas de consultoria. Os números oficiais do ano passado ainda não foram divulgados.


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