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RECEITA ORTODOXA
Taxa sobe de 25% para 25,5%, a maior desde maio de 99; instituição visa cumprir nova meta de inflação
Era Lula no BC começa com alta de juros
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na sua primeira reunião após a
posse do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, o Copom (Comitê
de Política Monetária do Banco
Central) elevou ontem os juros
básicos da economia de 25% para
25,5% ao ano.
A taxa está no nível mais elevado desde os 27% fixados em maio
de 1999, quando o país ainda se
recuperava da crise que levou à
maxidesvalorização do real, em
janeiro daquele ano.
A decisão foi tomada com a
concordância dos sete diretores
do BC -todos indicados pelo ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso- e do atual presidente
da instituição, Henrique Meirelles, escolhido por Lula.
Não foi indicada tendência
(viés) para a taxa, o que significa
que ela deve permanecer inalterada até a próxima reunião do Copom, em 18 e 19 de fevereiro.
Para justificar o aumento dos
juros, o BC divulgou a seguinte
nota: "Os indicadores de inflação
mostram sinais de queda. No entanto, o Copom julgou que a convergência das expectativas de inflação para a trajetória das metas
recomenda uma elevação da taxa
Selic para 25,5% ao ano".
Ou seja, mesmo que os índices
de preços anunciados até agora
mostrem que a inflação começa a
recuar, a elevação dos juros ainda
é necessária, avalia-se, para ganhar a confiança do mercado.
O aumento de juros mostra que,
pelo menos no que se refere à
condução da política monetária, a
ortodoxia característica do governo FHC vai prevalecer sobre o discurso adotado por Lula durante a
campanha eleitoral.
O programa de governo do PT
afirmava: "Nosso governo terá
uma atitude ativa no sentido de
buscar a redução das taxas de juros" -que "asfixiam as contas
públicas e o setor empresarial
produtivo".
O texto do programa apresentado durante a campanha difere do
discurso adotado por Henrique
Meirelles. Anteontem, o presidente do Banco Central havia sinalizado um possível aumento
dos juros ao anunciar que a instituição promoveria um ajuste na
meta de inflação deste ano, passando a trabalhar para que a alta
do IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) fique em
8,5% neste ano.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva não se pronunciou sobre a
alta dos juros.
Mais aperto
Segundo a última projeção oficial feita pelo BC, em dezembro, a
inflação chegaria a 9,5% em 2003
-acima, portanto, da nova meta
anunciada anteontem. Quando se
espera uma inflação superior à
meta, a cartilha recomenda um
aumento dos juros.
Meirelles afirmou, anteontem,
que o BC iria usar "os instrumentos necessários" para que a meta
de 8,5% fosse atingida. Esses instrumentos, segundo ele, "podem
envolver qualquer coisa". Além
de juros maiores, o presidente do
BC não descartou a possibilidade
de elevar a meta de superávit primário (economia do governo para o pagamento de juros).
A meta oficial do governo previa uma inflação de 4% neste ano,
com uma margem de tolerância
de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. O BC desistiu
de perseguir essa meta para evitar
um aumento ainda maior dos juros, que levaria o país a uma recessão. Nos últimos dois anos, as
metas de inflação fixadas pelo governo não foram cumpridas.
Nas contas do BC, com uma política monetária calibrada de modo a manter a inflação em 8,5%, é
possível que a economia cresça
2,8% neste ano. Para que a meta
oficial de 4% fosse cumprida, porém, o país entraria em forte recessão, com o PIB (Produto Interno Bruto) recuando 7,3%.
Em 2002, o IPCA registrou alta
de 12,53%. Já o crescimento ficou
em aproximadamente 1,5%, segundo estimativas feitas por bancos e empresas de consultoria. Os
números oficiais do ano passado
ainda não foram divulgados.
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