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ANÁLISE
Meirelles segue a cartilha deixada por Armínio Fraga
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O novo presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles,
seguiu exatamente as coordenadas deixadas, por escrito, por seu
antecessor, Armínio Fraga: aumentar os juros para conter as expectativas inflacionárias. Essa fórmula, no entanto, não funcionou
na última decisão do Copom (Comitê de Política Monetária).
Na ata da reunião de dezembro
do comitê, encerrada no dia 18 do
mês passado, a diretoria do BC foi
muito clara sobre o motivo que a
levou, por unanimidade, a elevar
de 22% para 25% a taxa anual básica de juros da economia.
"Em um ambiente de deterioração de expectativas, inflação ascendente e recuperação da atividade econômica, aumenta-se a
probabilidade de reajustes de preços, o que dificulta a convergência
das expectativas [do mercado"
para um nível mais consistente
com as metas [de inflação"", escreveram os diretores do BC ainda na gestão de Armínio.
"Nesse sentido, o Copom entende que deve elevar as taxas de juros para inibir os reajustes de preços, ajudar a coordenar as expectativas e impedir que a deterioração das expectativas de inflação se
auto-realize. Essa decisão de elevar a taxa de juros permitirá o recuo das expectativas de inflação
em 2003", completaram.
Mas não foi o que ocorreu entre
a última reunião do Copom e a de
ontem. Pelo contrário, a expectativa do mercado para o aumento
de preços neste ano subiu, segundo levantamento realizado pelo
próprio BC, divulgado semanalmente no boletim Focus.
Segundo a pesquisa do BC, no
dia 13 de dezembro (menos de
uma semana antes da reunião do
Copom) a mediana das expectativas do mercado para o IPCA era
de 11% em 2003. Nos três levantamentos seguintes, a mediana permaneceu em 11%. No último dia
10, subiu para 11,23%, e, na semana passada (dia 17), ficou praticamente estável, em 11,19%.
Ou seja, o aumento dos juros
não foi suficiente para permitir "o
recuo das expectativas de inflação
em 2003", como esperava a diretoria do BC.
Diante desse quadro, era razoável imaginar que o Copom agora
pudesse aumentar mais uma vez
os juros, pois as expectativas não
estão condizentes com a meta de
inflação deste ano, ajustada anteontem para 8,5%.
É bom lembrar também que a
última ata não foi escrita por uma
diretoria distinta da que acompanha Meirelles. É exatamente a
mesma que assessorava Armínio.
A elevação dos juros em 0,5
ponto percentual é muito mais
simbólica do que prática, quando
se considera um cenário de taxa
básica em 25% ao ano.
As pessoas não vão reduzir mais
suas compras por conta do impacto desse aumento nas taxas
cobradas no crediário. A decisão
do Copom foi para reforçar que,
embora tenha mudado o governo, a orientação do BC é a mesma.
Pelo menos por enquanto.
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