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São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

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ANÁLISE

Meirelles segue a cartilha deixada por Armínio Fraga

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, seguiu exatamente as coordenadas deixadas, por escrito, por seu antecessor, Armínio Fraga: aumentar os juros para conter as expectativas inflacionárias. Essa fórmula, no entanto, não funcionou na última decisão do Copom (Comitê de Política Monetária).
Na ata da reunião de dezembro do comitê, encerrada no dia 18 do mês passado, a diretoria do BC foi muito clara sobre o motivo que a levou, por unanimidade, a elevar de 22% para 25% a taxa anual básica de juros da economia.
"Em um ambiente de deterioração de expectativas, inflação ascendente e recuperação da atividade econômica, aumenta-se a probabilidade de reajustes de preços, o que dificulta a convergência das expectativas [do mercado" para um nível mais consistente com as metas [de inflação"", escreveram os diretores do BC ainda na gestão de Armínio.
"Nesse sentido, o Copom entende que deve elevar as taxas de juros para inibir os reajustes de preços, ajudar a coordenar as expectativas e impedir que a deterioração das expectativas de inflação se auto-realize. Essa decisão de elevar a taxa de juros permitirá o recuo das expectativas de inflação em 2003", completaram.
Mas não foi o que ocorreu entre a última reunião do Copom e a de ontem. Pelo contrário, a expectativa do mercado para o aumento de preços neste ano subiu, segundo levantamento realizado pelo próprio BC, divulgado semanalmente no boletim Focus.
Segundo a pesquisa do BC, no dia 13 de dezembro (menos de uma semana antes da reunião do Copom) a mediana das expectativas do mercado para o IPCA era de 11% em 2003. Nos três levantamentos seguintes, a mediana permaneceu em 11%. No último dia 10, subiu para 11,23%, e, na semana passada (dia 17), ficou praticamente estável, em 11,19%.
Ou seja, o aumento dos juros não foi suficiente para permitir "o recuo das expectativas de inflação em 2003", como esperava a diretoria do BC.
Diante desse quadro, era razoável imaginar que o Copom agora pudesse aumentar mais uma vez os juros, pois as expectativas não estão condizentes com a meta de inflação deste ano, ajustada anteontem para 8,5%.
É bom lembrar também que a última ata não foi escrita por uma diretoria distinta da que acompanha Meirelles. É exatamente a mesma que assessorava Armínio.
A elevação dos juros em 0,5 ponto percentual é muito mais simbólica do que prática, quando se considera um cenário de taxa básica em 25% ao ano.
As pessoas não vão reduzir mais suas compras por conta do impacto desse aumento nas taxas cobradas no crediário. A decisão do Copom foi para reforçar que, embora tenha mudado o governo, a orientação do BC é a mesma. Pelo menos por enquanto.


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