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São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

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Instituições ganham com títulos e nos empréstimos; para Febraban, medida é boa e dá credibilidade ao BC

Taxa maior rende R$ 1,93 bilhão aos bancos

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova elevação dos juros básicos da economia vai render alguns milhões de reais a mais aos bancos, setor que já registrou lucros recordes no ano passado. Estudo realizado pela ABM Consulting mostra que, se os juros forem mantidos nos atuais 25,5% ao ano, os bancos terão um ganho extra de R$ 1,93 bilhão no ano.
Esse rendimento extraordinário viria de ganhos com títulos públicos atrelados à taxa básica de juros e do aumento do "spread" -diferença entre aquilo que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e o que é cobrado de seus clientes na hora dos empréstimos.
No ano passado, apenas com o retorno dos títulos públicos pós-fixados, estima-se que as instituições financeiras tenham lucrado algo em torno de R$ 25,7 bilhões. Em 2001, os papéis do governo tinham rendido menos, algo em torno de R$ 20 bilhões.
Roberto Troster, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), recebeu a alta dos juros como algo positivo.
"A medida foi boa e ajuda o Banco Central a ganhar credibilidade. O aumento não foi expressivo, mas sinaliza o compromisso do governo com o combate à inflação. A meta de inflação ajustada é viável, e o Banco Central mostrou que está atuando para cumpri-la", diz Troster.
Na opinião de Gabriel Freitas, analista da ABM Consulting, o governo perdeu a oportunidade de mudar, na primeira reunião do Copom do novo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a impressão de que os bancos são os maiores beneficiados pela política monetária do governo.
"Os bancos ganham muito com uma decisão como a de hoje [ontem", pois são os principais detentores dos títulos públicos que seguem a variação dos juros básicos. Com um novo aumento da Selic, o governo deixa a impressão de que seguirá o modelo que tem tido vigência nos últimos anos", afirma Freitas.
Nesse cenário, os bancos viram seu lucro líquido subir de R$ 5,7 bilhões, em 95, para algo em torno de R$ 21,35 bilhões no ano passado, segundo estimativa da ABM.
Os ganhos extras dos bancos representam perdas para o governo, que vê os custos de sua dívida aumentarem. Empresas e pessoas físicas são prejudicadas por passarem a pagar mais caro pelos empréstimos.

Juros reais
Apesar de a taxa básica ter voltado a subir, os juros reais recuaram. Levantamento da consultoria Global Invest mostra que os juros reais diminuíram de 5,8%, em dezembro, para 5,14% agora.
O cálculo da taxa de juro real leva em consideração a taxa básica média dos últimos 12 meses, descontada a inflação registrada no período. Como a inflação das primeiras semanas deste ano é superior à registrada no início de 2002, os juros reais de janeiro ficaram abaixo da taxa de dezembro. Isso mesmo com a Selic em dezembro estando em 25% e agora passando para 25,5% ao ano.

Atividade
Troster diz não acreditar que o aumento de 0,5 ponto percentual da Selic prejudique a atividade econômica.
"No longo prazo, para o país crescer, é necessário juros baixos, mas a inflação também tem de estar baixa. Por isso, a atitude atual [aumento de juros" é boa", diz o economista-chefe da instituição.


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