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São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

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José Genoino, presidente do PT, diz que o partido não está satisfeito; oposicionistas aprovam, mas ironizam

Oposição apóia e PT critica alta dos juros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

A oposição aprovou e o PT criticou o aumento da taxa de juros determinado ontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária). Os políticos, mesmo tendo trocado de lado, mantiveram os papéis de quando Fernando Henrique Cardoso, e não Luiz Inácio Lula da Silva, era o principal inquilino do Palácio do Planalto.
A decisão do governo de aumentar a taxa de juros caiu como uma bomba entre os petistas que esperavam exatamente o contrário do que foi anunciado pelo Banco Central.
O líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino, foi surpreendido. "Tem certeza de que aumentaram? Não diminuíram? Bom, não acho isso bom." Pellegrino disse que, apesar de respeitar as razões do governo, o aumento deve ser temporário. "Se o governo realmente fez isso, tinha seus motivos. Mas acho que esse aumento deve durar pouco", afirmou.
O presidente do PT, José Genoino, tentou um tom mais moderado: disse que o partido realmente não está "satisfeito" com o aumento da taxa de juros, mas que compreende a necessidade do governo de controlar a política econômica e segurar a inflação.
"Hoje [ontem", [o presidente do BC, Henrique" Meirelles me ligou e, de forma muito respeitosa, me explicou a necessidade de aumentar a taxa de juros. O partido não está satisfeito, mas o PT não vai criar problemas", disse Genoino. Segundo ele, Meirelles ligou ainda para outros petistas.
As críticas mais pesadas partiram do deputado João Batista Oliveira de Araújo, o Babá (PA). Segundo ele, o fato de Meirelles ter ocupado a presidência do BankBoston e de ainda receber uma aposentadoria pelo banco internacional torna-o "suspeito" para gerir o Banco Central.
"Não acho impossível que ele [Meirelles" forneça informações privilegiadas do Brasil para o BankBoston, que tem muitos interesses no nosso país. Tenho certeza disso. Afinal, quem é o patrão dele? É o BankBoston."
"Essa medida representa uma continuidade total da política financeira do [ex-ministro da Fazenda" Pedro Malan", afirmou.
O deputado Doutor Rosinha (PR), que também quis confirmar a notícia, disse estar "preocupado". "Acho preocupante o fato de o governo não dar nenhuma sinalização de que irá romper com o atual modelo financeiro. Lula foi eleito com a proposta de fazer mudanças", disse.
Para Doutor Rosinha, o governo tem optado por caminhos "preocupantes". "O mercado pede a autonomia do Banco Central, e o governo diz que vai discutir. Como pode isso? O governo precisa dar um sinal de mudança", disse o deputado.

Oposição
Para a oposição reunida no PSDB, PFL e PMDB, que formavam a base de sustentação política de FHC, tratava-se de ratificar antigas posições. Por isso, todas as manifestações de aprovação emitidas em geral eram acompanhadas de muita ironia à mudança de postura do governo.
"Resta saber se o aumento significa um benefício para o capital especulativo", disse o deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ), referindo-se à crítica que a oposição hoje no governo fazia quando o Banco Central aumentava juros.
"Continua tudo como dantes no quartel de Abrantes. O [ministro da Fazenda, Antonio" Palocci não é muito diferente do Pedro Malan", brincou o líder do PFL na Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PE). "O Palocci está à direita do Malan", afirmou o vice-líder pefelista, Pauderney Avelino (AM).
A cobrança mais cáustica talvez tenha sido do presidente do PSDB, José Aníbal (SP), partido de FHC. "É uma até então desconhecida ortodoxia do PT. Antes tarde do que nunca", disse o tucano paulista. Para Aníbal, "eles" -como costuma se referir ao governo petista- "finalmente descobriram que havia uma farra fiscal centenária no Brasil e que nós começamos a pôr isso em ordem com responsabilidade, ética e transparência".
PSDB, PFL e PMDB, no entanto, aprovaram a decisão do Copom. Para Inocêncio, foi um gesto para sinalizar que o governo "tem instrumentos para controlar a inflação". O presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP), disse que o aumento dos juros por um governo que antes se opunha à medida só demonstra que "não há condições para radicalismos" na política econômica.
Apesar de ironizar, Inocêncio disse que aplaudiu a decisão até porque chegou à beira de um ataque de nervos ao ler ontem que um dólar custava mais reais do que pesos argentinos.


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