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José Genoino, presidente do PT, diz que o partido não está satisfeito; oposicionistas aprovam, mas ironizam
Oposição apóia e PT critica alta dos juros
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
A oposição aprovou e o PT criticou o aumento da taxa de juros
determinado ontem pelo Copom
(Comitê de Política Monetária).
Os políticos, mesmo tendo trocado de lado, mantiveram os papéis
de quando Fernando Henrique
Cardoso, e não Luiz Inácio Lula
da Silva, era o principal inquilino
do Palácio do Planalto.
A decisão do governo de aumentar a taxa de juros caiu como
uma bomba entre os petistas que
esperavam exatamente o contrário do que foi anunciado pelo
Banco Central.
O líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino, foi surpreendido.
"Tem certeza de que aumentaram? Não diminuíram? Bom, não
acho isso bom." Pellegrino disse
que, apesar de respeitar as razões
do governo, o aumento deve ser
temporário. "Se o governo realmente fez isso, tinha seus motivos. Mas acho que esse aumento
deve durar pouco", afirmou.
O presidente do PT, José Genoino, tentou um tom mais moderado: disse que o partido realmente
não está "satisfeito" com o aumento da taxa de juros, mas que
compreende a necessidade do governo de controlar a política econômica e segurar a inflação.
"Hoje [ontem", [o presidente do
BC, Henrique" Meirelles me ligou
e, de forma muito respeitosa, me
explicou a necessidade de aumentar a taxa de juros. O partido não
está satisfeito, mas o PT não vai
criar problemas", disse Genoino.
Segundo ele, Meirelles ligou ainda
para outros petistas.
As críticas mais pesadas partiram do deputado João Batista Oliveira de Araújo, o Babá (PA). Segundo ele, o fato de Meirelles ter
ocupado a presidência do BankBoston e de ainda receber uma
aposentadoria pelo banco internacional torna-o "suspeito" para
gerir o Banco Central.
"Não acho impossível que ele
[Meirelles" forneça informações
privilegiadas do Brasil para o
BankBoston, que tem muitos interesses no nosso país. Tenho certeza disso. Afinal, quem é o patrão
dele? É o BankBoston."
"Essa medida representa uma
continuidade total da política financeira do [ex-ministro da Fazenda" Pedro Malan", afirmou.
O deputado Doutor Rosinha
(PR), que também quis confirmar
a notícia, disse estar "preocupado". "Acho preocupante o fato de
o governo não dar nenhuma sinalização de que irá romper com o
atual modelo financeiro. Lula foi
eleito com a proposta de fazer
mudanças", disse.
Para Doutor Rosinha, o governo tem optado por caminhos
"preocupantes". "O mercado pede a autonomia do Banco Central,
e o governo diz que vai discutir.
Como pode isso? O governo precisa dar um sinal de mudança",
disse o deputado.
Oposição
Para a oposição reunida no
PSDB, PFL e PMDB, que formavam a base de sustentação política
de FHC, tratava-se de ratificar antigas posições. Por isso, todas as
manifestações de aprovação emitidas em geral eram acompanhadas de muita ironia à mudança de
postura do governo.
"Resta saber se o aumento significa um benefício para o capital
especulativo", disse o deputado
Rodrigo Maia (PFL-RJ), referindo-se à crítica que a oposição hoje
no governo fazia quando o Banco
Central aumentava juros.
"Continua tudo como dantes no
quartel de Abrantes. O [ministro
da Fazenda, Antonio" Palocci não
é muito diferente do Pedro Malan", brincou o líder do PFL na
Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PE). "O Palocci está à direita do Malan", afirmou o vice-líder
pefelista, Pauderney Avelino
(AM).
A cobrança mais cáustica talvez
tenha sido do presidente do
PSDB, José Aníbal (SP), partido
de FHC. "É uma até então desconhecida ortodoxia do PT. Antes
tarde do que nunca", disse o tucano paulista. Para Aníbal, "eles"
-como costuma se referir ao governo petista- "finalmente descobriram que havia uma farra fiscal centenária no Brasil e que nós
começamos a pôr isso em ordem
com responsabilidade, ética e
transparência".
PSDB, PFL e PMDB, no entanto,
aprovaram a decisão do Copom.
Para Inocêncio, foi um gesto para
sinalizar que o governo "tem instrumentos para controlar a inflação". O presidente nacional do
PMDB, Michel Temer (SP), disse
que o aumento dos juros por um
governo que antes se opunha à
medida só demonstra que "não
há condições para radicalismos"
na política econômica.
Apesar de ironizar, Inocêncio
disse que aplaudiu a decisão até
porque chegou à beira de um ataque de nervos ao ler ontem que
um dólar custava mais reais do
que pesos argentinos.
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