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São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

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Eris, ex-BC, diz que decisão foi uma "infantilidade"

Marisa Cauduro - 15.ago.01/Folha Imagem
O ex-presidente do BC Ibrahim Eris, que critica o Copom


GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris, 58, presidente da Eris Consultores, considerou "uma infantilidade" a decisão do Copom de aumentar os juros de 25% para 25,5%. A seu ver, trata-se de uma decisão que só vai aumentar a dívida pública. "Não precisava desse recado que só vai custar mais caro para os cofres públicos."
Ele acha também que o atual governo tem demonstrado muitas semelhanças com o anterior. "Eles estão tentando ser mais Malan do que o próprio Malan."

Folha - O que o sr. achou da decisão do Copom?
Ibrahim Eris -
O aumento dos juros foi uma decisão infantil do Banco Central. O BC quis dar ao mercado o recado de que será feito o necessário para conter a inflação, mas juros de 25% ou de 25,5% são a mesma coisa. O governo também já deu todos os recados possíveis. Não precisava desse recado que só vai custar mais caro para os cofres públicos.
A decisão acertada seria manter os juros em 25%. Eu não esperava uma redução numa primeira reunião do Copom no governo Lula. Não seria a mensagem correta, dada a pressão inflacionária. O Banco Central tinha três alternativas: baixar substancialmente os juros, aumentar substancialmente os juros ou manter os juros, mas subir a taxa de 25% para 25,5% é brincadeira. Foi uma decisão de criança. Os cofres públicos vão pagar mais caro sobre a dívida pública atual. Infelizmente, a primeira decisão do BC do novo governo foi errada.

Folha - Mas o mercado parece ter reagido bem.
Eris -
Eu não sei o que é mercado. Esse negócio de mercado está ficando abstrato demais para o meu gosto. Os juros têm um papel mais importante do que essa brincadeira entre os bancos e o Banco Central.

Folha - Mas a decisão do BC não significa compromisso com a meta de inflação?
Eris -
Não faz a menor diferença, em termos de inflação, juros de 25% ou de 25,5%. Ninguém vai mudar as expectativas porque os juros subiram de 25% para 25,5%. Amanhã todo mundo vai acordar com as mesmas expectativas de hoje.

Folha - O que o sr. achou da nova meta de inflação?
Eris -
A meta anterior de 6,5% era insustentável, mas acho que a nova de 8,5% também vai ser furada. Duvido que o governo consiga atingir a meta de 8,5%, tanto que já deixou aberta a possibilidade de aumentar essa meta. Para ser sincero, com dois anos de descumprimento de metas e as várias alterações feitas pelo governo, não sei o que vai acontecer se a meta for alterada mais uma vez. O sistema ficará ameaçado.

Folha - Que previsões o sr. faz para este ano?
Eris -
Neste momento é muito difícil fazer qualquer previsão para 2003. As coisas vinham melhor do que o esperado, pelo menos até o início da semana. Nos últimos três dias houve uma reversão do quadro. O dinheiro que entrou no país é de qualidade muito perigosa. Trata-se de um dinheiro de curto prazo e de volume limitado. Não vem muito mais do que veio. O dinheiro sério, obtido através de eurobonds, desse não veio nenhum tostão até agora. O risco Brasil ainda está muito elevado e não permite lançamento de títulos tanto por parte do governo como do setor privado.

Folha - Mas houve uma melhora da economia.
Eris -
As coisas melhoraram, mas isso se deve, em primeiro lugar, ao fato de haver poucos vencimentos no início deste ano. Em segundo lugar, porque alguns fantasmas criados sobre o governo Lula -do tipo calote externo e calote interno- saíram do cenário, e os preços se ajustaram. Isso é bom e ajuda o governo a ajustar um pouco as coisas, mas o balanço de pagamentos do Brasil ainda requer cuidados. Dessa forma, seria um perigo uma valorização excessiva do real. Eu não acharia muito razoável o dólar cair abaixo de R$ 3,20 ou R$ 3,30. Em algumas simulações que fiz, com o dólar nessa faixa, o Brasil geraria superávits de US$ 17 bilhões a US$ 18 bilhões neste ano, o que seria bastante desejável. Um superávit entre US$ 13 bilhões e US$ 14 bilhões seria baixo para 2003.

Folha - O ministro Luiz Fernando Furlan diz que o dólar a R$ 3 não afetaria as exportações.
Eris -
Você não desvaloriza a moeda para o exportador, e sim para quem ainda não exporta. Não adianta dizer que a Sadia estará satisfeita com o dólar a R$ 3. O que eu quero saber é se quem não exporta ainda estará satisfeito com o dólar a R$ 3.

Folha - O sr. acha o governo muito parecido com o anterior?
Eris
- Eles estão tentando ser mais Malan do que o próprio Malan.


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