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Eris, ex-BC, diz que decisão foi uma "infantilidade"
Marisa Cauduro - 15.ago.01/Folha Imagem
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O ex-presidente do BC Ibrahim Eris, que critica o Copom |
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris, 58, presidente
da Eris Consultores, considerou
"uma infantilidade" a decisão do
Copom de aumentar os juros de
25% para 25,5%. A seu ver, trata-se de uma decisão que só vai aumentar a dívida pública. "Não
precisava desse recado que só vai
custar mais caro para os cofres
públicos."
Ele acha também que o atual governo tem demonstrado muitas
semelhanças com o anterior.
"Eles estão tentando ser mais Malan do que o próprio Malan."
Folha - O que o sr. achou da decisão do Copom?
Ibrahim Eris - O aumento dos juros foi uma decisão infantil do
Banco Central. O BC quis dar ao
mercado o recado de que será feito o necessário para conter a inflação, mas juros de 25% ou de
25,5% são a mesma coisa. O governo também já deu todos os recados possíveis. Não precisava
desse recado que só vai custar
mais caro para os cofres públicos.
A decisão acertada seria manter
os juros em 25%. Eu não esperava
uma redução numa primeira reunião do Copom no governo Lula.
Não seria a mensagem correta,
dada a pressão inflacionária. O
Banco Central tinha três alternativas: baixar substancialmente os
juros, aumentar substancialmente os juros ou manter os juros,
mas subir a taxa de 25% para
25,5% é brincadeira. Foi uma decisão de criança. Os cofres públicos vão pagar mais caro sobre a
dívida pública atual. Infelizmente,
a primeira decisão do BC do novo
governo foi errada.
Folha - Mas o mercado parece ter
reagido bem.
Eris - Eu não sei o que é mercado. Esse negócio de mercado está
ficando abstrato demais para o
meu gosto. Os juros têm um papel
mais importante do que essa
brincadeira entre os bancos e o
Banco Central.
Folha - Mas a decisão do BC não
significa compromisso com a meta
de inflação?
Eris - Não faz a menor diferença,
em termos de inflação, juros de
25% ou de 25,5%. Ninguém vai
mudar as expectativas porque os
juros subiram de 25% para 25,5%.
Amanhã todo mundo vai acordar
com as mesmas expectativas de
hoje.
Folha - O que o sr. achou da nova
meta de inflação?
Eris - A meta anterior de 6,5%
era insustentável, mas acho que a
nova de 8,5% também vai ser furada. Duvido que o governo consiga atingir a meta de 8,5%, tanto
que já deixou aberta a possibilidade de aumentar essa meta. Para
ser sincero, com dois anos de descumprimento de metas e as várias
alterações feitas pelo governo,
não sei o que vai acontecer se a
meta for alterada mais uma vez. O
sistema ficará ameaçado.
Folha - Que previsões o sr. faz para este ano?
Eris - Neste momento é muito
difícil fazer qualquer previsão para 2003. As coisas vinham melhor
do que o esperado, pelo menos
até o início da semana. Nos últimos três dias houve uma reversão
do quadro. O dinheiro que entrou
no país é de qualidade muito perigosa. Trata-se de um dinheiro de
curto prazo e de volume limitado.
Não vem muito mais do que veio.
O dinheiro sério, obtido através
de eurobonds, desse não veio nenhum tostão até agora. O risco
Brasil ainda está muito elevado e
não permite lançamento de títulos tanto por parte do governo como do setor privado.
Folha - Mas houve uma melhora
da economia.
Eris -As coisas melhoraram, mas
isso se deve, em primeiro lugar, ao
fato de haver poucos vencimentos
no início deste ano. Em segundo
lugar, porque alguns fantasmas
criados sobre o governo Lula
-do tipo calote externo e calote
interno- saíram do cenário, e os
preços se ajustaram. Isso é bom e
ajuda o governo a ajustar um
pouco as coisas, mas o balanço de
pagamentos do Brasil ainda requer cuidados. Dessa forma, seria
um perigo uma valorização excessiva do real. Eu não acharia muito
razoável o dólar cair abaixo de
R$ 3,20 ou R$ 3,30. Em algumas
simulações que fiz, com o dólar
nessa faixa, o Brasil geraria superávits de US$ 17 bilhões a US$ 18
bilhões neste ano, o que seria bastante desejável. Um superávit entre US$ 13 bilhões e US$ 14 bilhões
seria baixo para 2003.
Folha - O ministro Luiz Fernando
Furlan diz que o dólar a R$ 3 não
afetaria as exportações.
Eris - Você não desvaloriza a
moeda para o exportador, e sim
para quem ainda não exporta.
Não adianta dizer que a Sadia estará satisfeita com o dólar a R$ 3.
O que eu quero saber é se quem
não exporta ainda estará satisfeito
com o dólar a R$ 3.
Folha - O sr. acha o governo muito
parecido com o anterior?
Eris - Eles estão tentando ser
mais Malan do que o próprio Malan.
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