São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Investigação será centralizada em São Paulo e priorizará executivos da empresa e suas coligadas no país

Administradores da Parmalat são foco da PF

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A investigação da Polícia Federal sobre a Parmalat e suas coligadas e controladas no Brasil será centralizada em São Paulo, priorizará os administradores das empresas e analisará os negócios das companhias e seus executivos provavelmente a partir de 1996.
Em nota divulgada ontem, a PF informou que o Estado de São Paulo foi escolhido para a abertura do inquérito porque é a sede da Parmalat no Brasil. A investigação será nacional, com ênfase também no Paraná e Rio de Janeiro.
A PF afirma que sua primeira ação será pedir à Justiça "a quebra dos sigilos bancário e fiscal da Parmalat, das suas empresas associadas e principais dirigentes".
O delegado nomeado para comandar as investigações é José Nogueira Eupídio, da Divisão de Crimes Financeiros da PF. O policial estava assessorando a CPI do Banestado, comissão instalada em julho de 2003 para investigar crimes de evasão de divisas.
Uma análise da CPI sobre as remessas que as empresas ligadas à Parmalat fizeram para o exterior revelou que, entre 1996 e 2002, o grupo remeteu R$ 1,7 bilhão por meio de contas CC-5 (para não-residentes no país). Desse montante, R$ 583,3 milhões tiveram como destino uma coligada do grupo sediada no Uruguai, a Wishaw. O país é conhecido no mercado como um paraíso fiscal, um dos pontos preferidos para a prática de lavagem de dinheiro.
A idéia é que o delegado Eupídio, conhecedor das informações da CPI, possa comandar com mais desenvoltura uma investigação que, pretende-se, seja conduzida em conjunto com a Receita Federal e o Ministério da Justiça.
No ministério, caberá ao Departamento de Recuperação de Ativos acionar o acordo de cooperação judiciária que o Brasil mantém com a Itália para conseguir informações sobre o caso já coletadas pelas autoridades italianas.
De saída, há fatores que complicam a investigação. As empresas passaram por sucessivas mudanças de razão social, de composição societária e capitanearam inúmeras vendas e aquisições de ativos, o que dificulta o trabalho.
Ao mesmo tempo essas operações são um indício de negócios suspeitos e leva a PF a priorizar a investigação sobre os movimentos dos administradores que passaram pelo grupo.
Um deles é Carlos Monteiro, vice-presidente do Conselho de Administração da Parmalat e que manteve contatos permanentes com a área financeira do grupo na Itália por dez anos.
A Folha esteve ontem na sede da Carital Brasil, empresa que pertenceu à Parmalat e que pode ser investigada por possível envolvimento em fraudes.
Carlos Alberto Padeti, diretor da Carital em São Paulo, disse que a companhia vai ajudar a polícia no que for necessário. E negou acusações de desvio de recursos. "Não estou autorizado a comentar o assunto", disse.

Comissão
A Câmara dos Deputados instalou ontem a comissão especial que acompanhará a crise da multinacional Parmalat.
Os deputados pretendem trabalhar em conjunto com a CPI do Banestado, que teve acesso a documentos e informações sobre a movimentação de contas bancárias da empresa no exterior.
O deputado Waldemir Moka (PMDB-MS), que também dirige a comissão de Agricultura e Política Rural da Casa, presidirá a comissão, que terá 21 integrantes.


Colaboraram Sílvio Navarro, da Sucursal de Brasília, e Adriana Mattos, da Reportagem Local


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