São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Furlan inicia ações políticas pelos fármacos

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

A política industrial prometida pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva ainda está em fase de detalhamento, mas o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), começou ontem mesmo a colocá-la em prática em Davos, no encontro anual 2004 do Fórum Econômico Mundial.
Furlan discutiu com executivos do laboratório Merck a possibilidade de a empresa usar o Brasil como plataforma de produção e exportação de "princípios ativos", ou seja, remédios genéricos.
A Merck distribui geograficamente a sua produção de genéricos e é exatamente a área de fármacos uma das que receberão estímulos do governo no âmbito da política industrial. Que estímulos? "Não sei, estão sendo estudados", prefere responder Furlan.
A questão dos fármacos não foi o único assunto em que atuou o ministro, único do governo Lula a estar, até ontem, participando do fórum de Davos (o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, chegaria à noite ou hoje).

Acordo com o Canadá
Furlan ouviu de autoridades canadenses que o novo governo está interessado em criar com o Brasil uma "agenda positiva", jargão clássico da diplomacia para expressar o desejo de deixar de lado contenciosos e enfatizar convergências, o que incluiria um acordo comercial bilateral.
No caso Canadá/Brasil, houve uma traumática disputa comercial pelo mercado de aviões regionais, entre a canadense Bombardier e a brasileira Embraer. Em seguida, o Canadá vetou a importação de carne do Brasil a pretexto de prevenir o mal da vaca louca.
Agora, o novo primeiro-ministro, Paul Martin, prefere colocar o Brasil na lista de prioridades. Furlan diz que a conversa sobre acordo comercial foi mera sondagem, iniciada por Sergio Marchi, embaixador canadense junto à Organização Mundial do Comércio.
Ainda assim, é um passo importante porque o Canadá é o país que mais agressivamente vem defendendo uma Alca (Área de Livre Comércio das Américas) abrangente, ao contrário do Brasil, que prefere uma Alca desidratada e conseguiu um desenho desse porte na Conferência Ministerial de Miami, em novembro.
A aproximação com o Brasil talvez leve em conta a avaliação de Paul Martin de que a meta de 2005 para concluir as negociações da Alca, embora altamente desejável, é praticamente inalcançável.
É sintomático que, ontem, houve, em Davos, um debate sobre acordos regionais ou bilaterais como contraponto ao sistema multilateral representado pela Organização Mundial do Comércio. Nesta, discute-se há dois anos a chamada Agenda Doha de Desenvolvimento, mas sem progressos significativos. Por isso mesmo, até o Japão, que tem apego "quase religioso" ao sistema multilateral, está negociando mais cinco acordos regionais, comentou Ichiro Fujisaki, vice-ministro de Relações Exteriores.
Hoje, cerca de 20 ministros de Comércio, entre eles Furlan, participam de uma reunião informal convocada pelo governo suíço para tentar desbloquear as negociações na OMC. (CR)


Texto Anterior: China é "mina de ouro", vêem especialistas
Próximo Texto: Leite derramado: Administradores da Parmalat são foco da PF
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.