São Paulo, quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE NOS MERCADOS / RISCOS

Após 5 anos, Lula enfrenta 1ª grande crise econômica

Presidente teme que efeitos da turbulência mundial afetem PAC e investimentos

Planalto tem receio de que investidores privados sejam conservadores; desde 2003, cenário internacional tem sido favorável ao Brasil

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais preocupado nos bastidores do que aparenta em público, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teme que uma recessão nos EUA afete o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
A Folha ouviu no Palácio do Planalto que o PAC, o plano de investimentos em obras de infra-estrutura e energia que o petista julga vital para o êxito do segundo mandato, poderia ficar "manco" no cenário de uma recessão nos EUA.
O receio do presidente é que investidores privados sejam mais conservadores em seus projetos porque ainda não estão claras a duração e a dimensão da atual crise na maior economia do mundo. Mais: investimentos de estatais, como os da Petrobras, também poderiam ser afetados na hipótese de desaceleração mundial.
Dos cerca de R$ 500 bilhões de investimentos do PAC no período 2007-2010, R$ 68 bilhões estão previstos para sair diretamente dos cofres da União. O restante dessa bolada caberia a estatais e a empresas privadas.
Lula e seus principais auxiliares consideram que enfrentam agora o segundo grande teste do governo petista na economia. O primeiro aconteceu em 2003, quando o petista recorreu a um rigor fiscal e monetário maior do que o esperado para conquistar credibilidade do mercado e viabilizar seu governo.
Na prática, é a primeira vez que Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, serão gestores exclusivos de uma crise econômica em cinco anos de poder. Lula espera que a imagem internacional de homem responsável na economia funcione como um escudo neste momento.
Em reuniões na segunda-feira, Lula orientou Mantega a "não piscar". Ou seja: demonstrar tranqüilidade e confiança na capacidade de o Brasil enfrentar uma crise externa. Foi o que fez o próprio presidente na segunda, quando se antecipou às perguntas dos jornalistas e foi logo abordando a crise americana numa espécie de entrevista-pronunciamento no Palácio do Planalto.
Até a semana passada, prevalecia na cúpula do governo a tese de descolamento das economias emergentes em relação aos Estados Unidos. O forte abalo de segunda nos mercados financeiros relativizou essa teoria, acreditam auxiliares do presidente.
Enquanto o Banco Central está mais preocupado com eventual alta inflação neste ano do que um efeito negativo sobre a taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), como revelou ontem a Folha, Lula tem maior receio em relação ao crescimento.
O presidente considera que o aumento de ações na área social foi a marca do primeiro mandato e que, na segunda etapa presidencial, precisa de outra realização: taxas seguidas e significativas de crescimento do PIB. O PAC prevê metas de crescimento anuais de 5% do PIB entre 2008 e 2010, último ano de mandato do petista.

Burocracia e insatisfação
No front interno, Lula se preocupa com a burocracia. Nos bastidores, sua avaliação da performance do PAC é mais pessimista do que a expressada pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no balanço de um ano feito ontem.
O presidente se queixa de que as decisões que toma no Planalto demoram muito a se transformar em obras concretas do PAC. Sua orientação para Dilma e todos os ministros, na primeira reunião da equipe em 2008, será executar os investimentos apesar do prometido corte de R$ 20 bilhões do Orçamento deste ano.


Texto Anterior: Socorro ao mercado reacende discussão sobre "risco moral"
Próximo Texto: Mantega diz que Fed não influencia BC
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.