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CRISE NOS MERCADOS / RISCOS
Após 5 anos, Lula enfrenta 1ª grande crise econômica
Presidente teme que efeitos da turbulência mundial afetem PAC e investimentos
Planalto tem receio de que investidores privados sejam conservadores; desde 2003, cenário internacional tem sido favorável ao Brasil
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais preocupado nos bastidores do que aparenta em público, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva teme que uma recessão nos EUA afete o PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento).
A Folha ouviu no Palácio do
Planalto que o PAC, o plano de
investimentos em obras de infra-estrutura e energia que o
petista julga vital para o êxito
do segundo mandato, poderia
ficar "manco" no cenário de
uma recessão nos EUA.
O receio do presidente é que
investidores privados sejam
mais conservadores em seus
projetos porque ainda não estão claras a duração e a dimensão da atual crise na maior economia do mundo. Mais: investimentos de estatais, como os
da Petrobras, também poderiam ser afetados na hipótese
de desaceleração mundial.
Dos cerca de R$ 500 bilhões
de investimentos do PAC no
período 2007-2010, R$ 68 bilhões estão previstos para sair
diretamente dos cofres da
União. O restante dessa bolada
caberia a estatais e a empresas
privadas.
Lula e seus principais auxiliares consideram que enfrentam agora o segundo grande
teste do governo petista na
economia. O primeiro aconteceu em 2003, quando o petista
recorreu a um rigor fiscal e monetário maior do que o esperado para conquistar credibilidade do mercado e viabilizar seu
governo.
Na prática, é a primeira vez
que Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, serão gestores exclusivos de uma crise
econômica em cinco anos de
poder. Lula espera que a imagem internacional de homem
responsável na economia funcione como um escudo neste
momento.
Em reuniões na segunda-feira, Lula orientou Mantega a
"não piscar". Ou seja: demonstrar tranqüilidade e confiança
na capacidade de o Brasil enfrentar uma crise externa. Foi
o que fez o próprio presidente
na segunda, quando se antecipou às perguntas dos jornalistas e foi logo abordando a crise
americana numa espécie de entrevista-pronunciamento no
Palácio do Planalto.
Até a semana passada, prevalecia na cúpula do governo a tese de descolamento das economias emergentes em relação
aos Estados Unidos. O forte
abalo de segunda nos mercados
financeiros relativizou essa
teoria, acreditam auxiliares do
presidente.
Enquanto o Banco Central
está mais preocupado com
eventual alta inflação neste ano
do que um efeito negativo sobre a taxa de crescimento do
PIB (Produto Interno Bruto),
como revelou ontem a Folha,
Lula tem maior receio em relação ao crescimento.
O presidente considera que o
aumento de ações na área social foi a marca do primeiro
mandato e que, na segunda etapa presidencial, precisa de outra realização: taxas seguidas e
significativas de crescimento
do PIB. O PAC prevê metas de
crescimento anuais de 5% do
PIB entre 2008 e 2010, último
ano de mandato do petista.
Burocracia e insatisfação
No front interno, Lula se
preocupa com a burocracia.
Nos bastidores, sua avaliação
da performance do PAC é mais
pessimista do que a expressada
pela ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) no balanço de um
ano feito ontem.
O presidente se queixa de
que as decisões que toma no
Planalto demoram muito a se
transformar em obras concretas do PAC. Sua orientação para
Dilma e todos os ministros, na
primeira reunião da equipe em
2008, será executar os investimentos apesar do prometido
corte de R$ 20 bilhões do Orçamento deste ano.
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