São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Avaliação menos ruidosa da crise política vinda do exterior provocou virada nos indicadores na sexta

Estrangeiros invertem cenário de queda

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Investidores estrangeiros foram os responsáveis pelo início da virada positiva dos mercados na sexta-feira passada, segundo analistas do mercado financeiro.
O movimento foi ampliado pelas tesourarias de bancos no Brasil, mas a avaliação é que teria vindo de fora uma visão menos ruidosa da crise política gerada pelas denúncias contra o ex-assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz.
No último dia de negócios antes do Carnaval, quando o dólar chegou a ultrapassar os R$ 3, a Bolsa caía 4,1% e o risco-país subia 5,85%, ao bater em 620 pontos, anúncios de instituições financeiras do exterior, como a Pinco, grande administradora de renda fixa, e o JP Morgan, fizeram os ativos inverterem a trajetória.
O dólar fechou em queda de 0,06%, a Bolsa subiu 1,84% e o risco Brasil recuou 0,17%, aos 586 pontos.
Em relatório, o JP Morgan informou aumento da participação de papéis brasileiros em sua carteira de investimentos em países emergentes. Também o Morgan Stanley teria elevado a recomendação de ativos brasileiros. "Foi feita uma leitura mais atenta", diz Marcelo Giufrida (BNP Paribas).
"Os estrangeiros entraram comprando. O fluxo de investimentos continua bom, e o mercado olha preços", diz Júlio Ziegelmann, do BankBoston. Para ele, a avaliação de que não há demanda que pressione muito a inflação também colaborou para a melhora dos ativos. "Ninguém está com muito medo da inflação. Parte dela é sazonal."
"A Bolsa brasileira está barata em relação a outros emergentes, e a economia não mudou. A volatilidade maior não está no câmbio", diz Luís Eduardo Assis, do HSBC.
Para o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, a baixa oscilação da moeda estrangeira demonstra que "o mercado não subestima o peso da melhora dos fundamentos da macroeconomia brasileira".
Os mercados estão mais calmos, mas ainda na expectativa do que vai acontecer no cenário político, segundo Assis.

Crise
Embora com a ressalva de muitos analistas que afirmam não entender nada de política, para parte do mercado financeiro a crise política se encaminha para a saída do ministro José Dirceu, a quem Waldomiro Diniz era ligado.
"A saída do ministro é a melhor opção para brecar a crise, mas a preocupação é quem seria seu substituto", diz Alessandra Ribeiro, analista de mercado da consultoria Tendências.
"Se o ministro Dirceu ficar, ficará se defendendo. A situação da macroeconomia melhorou, mas o governo tem uma agenda a cumprir. Para termos crescimento sustentado, o país precisa de modelos regulatórios, estradas, portos. Não pode ficar paralisado", diz Ziegelmann. "Mas, se vier alguém ruim para o lugar de Dirceu, será pior."
A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que deve ser divulgada na próxima quinta-feira, monopoliza as atenções do mercado nesta semana. O relatório da reunião de janeiro, considerado excessivamente pessimista, foi mal recebido pelos agentes econômicos.
A expectativa é seja menos detalhada, mas mais positiva. "Deve trazer uma visão mais otimista, abrindo espaço para a redução do juro em março", diz Ziegelmann.
"O Copom deve aperfeiçoar a ata desta semana", diz Barros.
"A ata tem se tornado um exercício bizantino de interpretação. Está demasiadamente obscura", afirma Assis.


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