São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Em Wall Street, previsão é que títulos brasileiros sigam em depreciação por causa da crise política

Para analistas, turbulência deve continuar

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

Apesar de acreditarem que os fundamentos da economia brasileira seguem sólidos, analistas financeiros de Wall Street estimam que ainda haverá, no curto prazo, turbulência na avaliação dos principais títulos e no risco do país.
Na semana passada, o mercado financeiro atravessou uma semana conturbada, em que repercutiu a crise instalada no Palácio do Planalto com as denúncias de corrupção envolvendo Waldomiro Diniz, ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil).
O risco-país, medido pelo banco JP Morgan e que serve como termômetro da confiança dos investidores estrangeiros nos títulos brasileiros, fechou em 586 pontos na sexta-feira, acumulando alta de cerca de 12% em uma semana.
Entre outros indicadores, a Bolsa acumulou queda no período e o dólar subiu. Analistas ouvidos pela Folha em Nova York, uma das principais praças financeiras do planeta, afirmam que ainda apostam num crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 3,5% ou mais em 2004.
Esse cenário, porém, não é o suficiente para conter os ânimos a curto prazo. A cotação do C-Bond e o nível risco-país brasileiro devem continuar a sofrer oscilações nos próximos dias em decorrência do caso Waldomiro.
"Essa confusão política aumenta a incerteza dos mercados. Uma CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] pode trazer ainda mais nervosismo", diz Gustavo Rangel, analista de mercados emergentes do banco Barclays Capital.
"A curto prazo, mais investigações vão provocar mais incertezas e mais oscilações no mercado. Mas esse debate serve para reforçar a instituição democrática no Brasil. Acreditamos que o Brasil é uma democracia forte", disse Lisa Schineller, economista-chefe da Standard & Poor's.
Para a agência de risco norte-americana, o ambiente político é uma das principais variantes que pesam na concessão de "ratings" (notas de crédito) para os países avaliados. "No momento, entendemos que esse problema político no Brasil está num estágio preliminar. São acusações, algumas especulações, mas nada ainda foi de fato provado", afirmou.
Para Schineller, o escândalo que se formou em torno de Dirceu ainda não é o suficiente para rebaixar o "rating" brasileiro.
Fora da esfera política, porém, os investidores olham atentamente para as perspectivas de crescimento. O Barclays Capital rebaixou a previsão de crescimento do PIB brasileiro neste ano de 4% para 3,5%. A Standard & Poor's mantém a taxa entre 3,5% e 4%. O West LB continua a antever 4%, mas faz uma ressalva que pode rever para baixo a projeção dentro de duas ou três semanas.


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