São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

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Brasileiros são 4 dos 10 mais rentáveis

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os quatro maiores bancos brasileiros - Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Unibanco- estão entre os dez mais rentáveis dos Estados Unidos e da América Latina, segundo levantamento da Economática com base nos balanços dos 50 maiores bancos de capital aberto do continente.
BB, Bradesco e Itaú encabeçam o ranking de rentabilidade, perdendo apenas para o North Fork Bancorp, um banco americano de varejo de médio porte. Eles superaram, inclusive, o Citigroup, uma das maiores instituições financeiras do planeta, com US$ 1,472 trilhão em ativos. Juros e "spreads" altos explicam a elevada rentabilidade das instituições brasileiras, segundo analistas.
A Economática calculou a rentabilidade das 50 instituições pesquisadas dividindo o lucro em 12 meses pelo patrimônio líquido nominal no início do período. Os bancos locais calculam sua rentabilidade com base no patrimônio líquido médio.
Pelo critério da Economática, a rentabilidade do Itaú em 2005 foi de 37,6%, a do Bradesco de 36,2%, a do BB de 29,4% e a do Unibanco de 22,7%. A do Citigroup, por exemplo, o décimo colocado, foi de 22,2%.
A alta rentabilidade dos bancos brasileiros é atribuída, pelos analistas, à elevada taxa de juro praticada no país e aos gordos "spreads" bancários. "Spread" é a diferença entre o juro pago pelo banco na captação de recursos e o recebido na concessão de empréstimos.
Para Adriano Seabra, analista da Gap Asset Management, vários fatores influenciam a rentabilidade dos grandes bancos brasileiros. "O principal, sem dúvida, é o fato de terem uma ampla base de clientes, o que lhes permite uma captação barata de recursos", diz.
Ele cita como exemplo a captação por intermédio da caderneta de poupança, que paga TR mais 6% ao ano ao poupador. "O banco pega esse dinheiro sem esforço e aplica a 17% ao ano, em média, que é a taxa do CDI [Certificado de Depósito Interbancário]. Há um "spread" enorme aí", diz o analista.
Edson Carminatti, analista financeiro do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração), diz que a elevada rentabilidade dos bancos decorre do lucro alto. "No Brasil, o resultado dos bancos é bem maior em relação ao que foi investido pelos sócios, ou seja, a seu patrimônio líquido, do que em outros países", diz Carminatti.
O fato de a economia brasileira ter um histórico de instabilidade faz com que os acionistas exijam um retorno maior de seus investimentos, pois o risco de operar no país é maior, segundo ele.

Lucro em dólar
Os dois maiores bancos privados locais -Bradesco e Itaú- também figuram entre as dez instituições que obtiveram o maior lucro líquido em 12 meses, em dólar. O lucro do Bradesco foi de US$ 2,356 bilhões, e o do Itaú, de US$ 2,243 bilhões.
A conversão foi feita pelo dólar Ptax de 31 de dezembro de 2005, num cenário de valorização do real, o que infla os resultados. Ptax é a cotação calculada pelo Banco Central a partir da média das cotações praticadas em todas as operações de câmbio efetuadas em um dia. A Ptax no final do ano estava em R$ 2,340.
"O lucro dos bancos brasileiros é assim alto porque a taxa de juro cobrada nos empréstimos é elevada e ele ainda ganha muito com tarifas", observa Fernando Exel, sócio-diretor da Economática.
De acordo com seus cálculos, o Itaú, por exemplo, ganhou R$ 11 bilhões com a diferença entre os juros pagos na captação de recursos e o recebido na concessão de empréstimos. "Isso equivale a 7% do ativo total do banco, enquanto nos EUA essa relação não passa de 4%", observa Exel.
Os juros altos também garantem importantes ganhos para a tesouraria dos bancos. Segundo Carminatti, do Inepad, nos bancos públicos cerca de 60% da receita com a intermediação financeira vem da aplicação em títulos públicos pela tesouraria. "Isso significa que a tarefa do banco público, hoje, é financiar o governo."


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