São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

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FINANÇAS

Apesar de custo menor de captação, instituições elevam taxas ao consumidor

Banco ignora Selic e eleva margem cobrada nos juros

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para quem está endividado, de nada adiantou, até agora, o Banco Central reduzir os juros básicos da economia. Pesquisa feita pelo próprio BC mostra que os bancos não só não repassaram essa queda aos seus clientes como, em muitos casos, ainda elevaram suas taxas.
Como resultado, cresceu o chamado "spread" bancário, que é a diferença entre os juros que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado financeiro e a taxa cobrada de seus clientes. O custo dos bancos é influenciado, entre outros fatores, pelo comportamento da taxa Selic e pela expectativa que o mercado tem em relação ao seu futuro.
Segundo o levantamento do BC, esse custo de captação caiu oito vezes nos últimos oito meses. Entre dezembro e janeiro, ele passou de 17,1% ao ano para 16,5%, nível mais baixo em quase dois anos.
No mesmo período, porém, os juros nos empréstimos bancários subiram. Na média, a taxa passou de 45,9% ao ano no final de 2005 para 46,1% no começo de 2006.
Nos créditos destinados a empresas, os juros chegaram a cair, mas numa intensidade menor do que a queda do custo de captação: de 31,7% ao ano para 31,3%. Para pessoas físicas, subiram de 59,3% ao ano para 59,7%.
A alta dos juros atingiu quase todas as modalidades de empréstimos, inclusive as mais baratas. Nos empréstimos consignados -em que as parcelas são descontadas diretamente nos salários-, por exemplo, a taxa média subiu de 36,4% ao ano para 37,3%.
No crédito pessoal convencional -sem o desconto em folha-, os juros subiram de 81,3% ao ano para 86,0%.
Ao divulgar os resultados da pesquisa, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, evitou comentar os motivos que levaram ao aumento dos juros no mês passado. "[Os juros] sobem por conta de uma elevação no "spread", tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas."
Na média, o "spread" bancário subiu de 28,8 pontos percentuais em dezembro para 29,6 pontos em janeiro. Isso significa que, dos 46,1% de juros anuais cobrados pelos bancos em janeiro, 29,6 pontos percentuais correspondem ao "spread".
O "spread", por sua vez, serve para cobrir despesas que os bancos têm em suas operações, como gastos com tributos e pagamento de funcionários. Também cobre perdas sofridas com inadimplência e ajuda a compor o lucro.
"O "spread" pode refletir um aumento de margem [de lucro] das instituições financeiras, mas não sei se foi isso que aconteceu [em janeiro]", disse Lopes.
Para Edson Carminatti, analista financeiro do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração), os juros bancários são altos devido ao pequeno volume de crédito existente no país. Em janeiro, segundo o BC, o total de empréstimos oferecidos correspondia a 31% do PIB, enquanto em outros países essa proporção chega a ultrapassar 100%.
Segundo Carminatti, as instituições financeiras cobram juros altos para poder ter uma rentabilidade satisfatória, mesmo a partir de uma carteira de crédito relativamente pequena. Além disso, diz o analista, a falta de concorrência no setor agrava a situação.


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