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FINANÇAS
Apesar de custo menor de captação, instituições elevam taxas ao consumidor
Banco ignora Selic e eleva margem cobrada nos juros
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para quem está endividado, de
nada adiantou, até agora, o Banco
Central reduzir os juros básicos
da economia. Pesquisa feita pelo
próprio BC mostra que os bancos
não só não repassaram essa queda
aos seus clientes como, em muitos
casos, ainda elevaram suas taxas.
Como resultado, cresceu o chamado "spread" bancário, que é a
diferença entre os juros que os
bancos pagam para captar dinheiro no mercado financeiro e a taxa
cobrada de seus clientes. O custo
dos bancos é influenciado, entre
outros fatores, pelo comportamento da taxa Selic e pela expectativa que o mercado tem em relação ao seu futuro.
Segundo o levantamento do BC,
esse custo de captação caiu oito
vezes nos últimos oito meses. Entre dezembro e janeiro, ele passou
de 17,1% ao ano para 16,5%, nível
mais baixo em quase dois anos.
No mesmo período, porém, os
juros nos empréstimos bancários
subiram. Na média, a taxa passou
de 45,9% ao ano no final de 2005
para 46,1% no começo de 2006.
Nos créditos destinados a empresas, os juros chegaram a cair,
mas numa intensidade menor do
que a queda do custo de captação:
de 31,7% ao ano para 31,3%. Para
pessoas físicas, subiram de 59,3%
ao ano para 59,7%.
A alta dos juros atingiu quase
todas as modalidades de empréstimos, inclusive as mais baratas.
Nos empréstimos consignados
-em que as parcelas são descontadas diretamente nos salários-,
por exemplo, a taxa média subiu
de 36,4% ao ano para 37,3%.
No crédito pessoal convencional -sem o desconto em folha-,
os juros subiram de 81,3% ao ano
para 86,0%.
Ao divulgar os resultados da
pesquisa, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, evitou comentar os motivos
que levaram ao aumento dos juros no mês passado. "[Os juros]
sobem por conta de uma elevação
no "spread", tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas."
Na média, o "spread" bancário
subiu de 28,8 pontos percentuais
em dezembro para 29,6 pontos
em janeiro. Isso significa que, dos
46,1% de juros anuais cobrados
pelos bancos em janeiro, 29,6
pontos percentuais correspondem ao "spread".
O "spread", por sua vez, serve
para cobrir despesas que os bancos têm em suas operações, como
gastos com tributos e pagamento
de funcionários. Também cobre
perdas sofridas com inadimplência e ajuda a compor o lucro.
"O "spread" pode refletir um aumento de margem [de lucro] das
instituições financeiras, mas não
sei se foi isso que aconteceu [em
janeiro]", disse Lopes.
Para Edson Carminatti, analista
financeiro do Inepad (Instituto de
Ensino e Pesquisa em Administração), os juros bancários são altos devido ao pequeno volume de
crédito existente no país. Em janeiro, segundo o BC, o total de
empréstimos oferecidos correspondia a 31% do PIB, enquanto
em outros países essa proporção
chega a ultrapassar 100%.
Segundo Carminatti, as instituições financeiras cobram juros altos para poder ter uma rentabilidade satisfatória, mesmo a partir
de uma carteira de crédito relativamente pequena. Além disso, diz
o analista, a falta de concorrência
no setor agrava a situação.
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