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LUÍS NASSIF
Partido ao meio
Há várias divisões que
atrapalham o PSDB. A
maior delas é a questão de identidade do projeto econômico. No
início do governo FHC, havia
duas linhas divergentes de pensamento econômico: uma em
torno de Edmar Bacha e Gustavo Franco, que defendia a apreciação e o controle estrito do
câmbio, independentemente do
seu custo fiscal, e a ampla abertura comercial, independentemente de seu impacto sobre a
atividade interna; e outra em
torno de José Serra e do grupo
paulista, com mais ênfase à defesa da empresa nacional.
O grupo carioca impôs seu
modelo no primeiro governo
FHC, no segundo e no primeiro
governo Lula, com Antonio Palocci Filho. Esse modelo demonstrou incapacidade de gerar crescimento. Mesmo que tivesse dado certo, em algum momento, o fato é que se esgotou no
plano econômico e político.
Até o próprio FHC admite os
erros cometidos na política
cambial e no modelo adotado,
com a ressalva de que foram sucessivas crises internacionais
que impediram a correção, o
que não é bem isso, mas não
vem ao caso.
O ponto central é que, com exceção de Tasso Jereissati -por
convicção- e Arthur Virgílio
-por repetição-, praticamente não há mais defensores desse
modelo bizarro dentro do
PSDB.
Os rapapés de Virgílio e Tasso
a Palocci, quando foi depor nas
CPIs, mantêm a herança maldita no ninho tucano, do mesmo
modo que aquele desastre da semana passada, na reunião do
PSDB com o Iedi -em que a
Casa das Garças compareceu
em peso repetindo fórmulas
místicas, sem nenhuma capacidade de evocar um projeto de
país.
O outro dilema é o caso paulista. O governador Geraldo
Alckmin não possui quadros políticos próprios. Tem personalidade fechada e se cerca de poucos aliados íntimos. Nesses seis
anos como governador, não cuidou de criar uma base partidária, de se enfronhar nos problemas nacionais ou de estabelecer
contatos com correligionários
de outros Estados.
Mas tem um trunfo. O prefeito
de São Paulo, José Serra, joga
com uma aposta mortal -não
apenas para ele, como para o
PSDB em São Paulo. Se ganha
as eleições, tem condições de
mudar o país. Se perde, além de
o PSDB perder o Estado e a prefeitura, queima a última grande
liderança tucana no Estado. Ou
seja, é uma aposta alta não apenas dele, como do PSDB paulista.
O mínimo que Serra exige para uma batalha hercúlea é o
consenso no partido. É com isso
que Alckmin joga. Ao negar o
consenso, Alckmin poderá inviabilizar a candidatura Serra.
Candidato, Serra não tem outra alternativa senão vencer; já
Alckmin julga que só tem a ganhar, mesmo perdendo. Derrotado, pensa entrar para a lista
dos ex-candidatos, em condição
de disputar a liderança futura
do partido com Aécio Neves.
Mas enfrenta riscos enormes
também: o de entrar para o índex dos políticos que sacrificaram os interesses do partido em
benefício de seus próprios interesses.
Independentemente dessas
disputas, é hora de o PSDB
inaugurar a discussão econômica de forma clara e direta, assim
como Lula, mostrando que poderá fazer um segundo governo
melhor do que o primeiro. E
exorcizando a herança de FHC.
E-mail:
Luisnassif@uol.com.br
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