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"Doleiros eram indicados pelo banco"
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia a seguir entrevista com o
empresário Luiz Barros de Ulhôa
Cintra Filho, onde ele relata como
enviava ilegalmente dinheiro dos
EUA para o Brasil.
Ele diz ter "interesses pessoais"
em revelar a prática e a sistemática das operações, realizadas entre
1991 e 97. "Talvez isso (a denúncia) possa me ajudar", afirma.
Folha - Como eram as operações
que o sr. diz ter feito usando dinheiro de caixa dois?
Luiz Barros de Ulhôa Cintra Filho
- São operações feitas entre 1991 e
1997. No máximo, cerca de US$
300 mil por ano. Elas nunca foram
declaradas no BC ou na Receita
Federal. Apenas uma delas, de
US$ 202.500,00, foi oficialmente
registrada.
Viajei mais de 50 vezes aos EUA
a negócios desde 1978. Eu tinha a
empresa Web Forms Ltd. e representava na época a Didde Graphic
Co., a Therm-o-Type e a Allied
Gear Co., fabricantes de máquinas gráficas de grande porte para
revistas e formulários comerciais.
Fazia vendas no Brasil dessas empresas americanas e recebia, por
fora, comissões.
Para viabilizar minhas operações, abri uma offshore em Montevidéu (Uruguai), a Maidstone
S.A., cuja contabilidade era feita
por uma empresa denominada
The Winterbotham Trust Company S.A., no Uruguai.
Como a Winterbotham também operava com o BankBoston,
me foi recomendado abrir a conta
em Miami. No escritório de Miami, em Coral Gables, fui atendido
pela senhora Silvia Rosen. A única
exigência para abrir a conta foi
declarar que o dinheiro não era
proveniente de drogas e que eu
não residia nos EUA.
Toda a correspondência era
mantida como "hold mail", para
não ser remetida para o Brasil e
eventualmente ter de ser repassada para a Receita Federal.
Folha - O sr. afirma que o banco
usava doleiros. O sr. os conhecia?
Cintra Filho - A operação era
muito simples. Alguns doleiros
eram indicados pelo Boston e, a
partir de um tempo, comecei a conhecê-los pessoalmente. Tinha
um ali perto da Barão de Itapetininga, outro no edifício Itália (no
centro de São Paulo). Era tudo feito com um simples telefonema.
Não havia códigos especiais.
O departamento no Boston se
dedicava totalmente a esse tipo de
operação. O pessoal abria as contas em seu nome ou no de uma
offshore. Muitos faziam movimentações iguais às minhas.
Folha - Como era a sua relação
com o banco?
Cintra Filho - Os anos foram passando, e acabei tendo uma relação
de amizade com a Silvia, que visitava o Brasil em média cinco ou
seis vezes por ano. Ela me procurava sempre com o intuito de eu
lhe apresentar empresários possuidores de caixa dois para abrir
conta lá com ela.
Além de atender ao Brasil, eles
tinham uma equipe especializada
para cuidar de outros países da
América Latina. Disse que tinham
também um escritório em Nova
York com a mesma finalidade.
Folha - O que o motiva a confessar essas operações ilegais?
Cintra Filho - Li as reportagens
da Folha sobre o inquérito da Polícia Federal contra os bancos e resolvi procurar o jornal. Estou
consciente de correr risco de vida,
pois já sofri ameaças. Mas faço isso pelo bem do Brasil e por interesse próprio. Tenho dez ações na
Justiça em que sou autor e beneficiário, e elas não andam. Talvez
falando com a imprensa, isso possa me ajudar a vir a receber o que
tenho direito.
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