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PAPÉIS AVULSOS
Análise de varejo é feita com maior cautela
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
O setor de varejo, uma das sensações da Bolsa no período que se
seguiu à implantação do Plano
Real, está sendo visto com outros
olhos pelos analistas. Olhos mais
cuidadosos e seletivos.
Isso, graças às mudanças no cenário econômico ocorrido no ano
passado, principalmente depois
que a crise asiática respingou no
Brasil em outubro.
Agora, os analistas estão levando
em conta o nicho específico da cadeia varejista e as características
próprias de cada uma delas.
"Antes, tudo era bom em varejo.
Qualquer empresa era uma boa
oportunidade de compra. Agora
não. É preciso selecionar as empresas com uma pinça", diz Fernando Tracanella, analista do
Deutsche Morgan Greenfell.
"Quando o Real foi implantando, vínhamos de um período de
grande demanda reprimida e a estabilização da moeda deu impulso
às vendas do varejo em 95 e 96,
principalmente ao varejo especializado em bens duráveis", diz a
analista sênior Aline De Marco
Prado, da Lloyds Asset Management, completando que isso deu
gás para aos papéis na Bolsa.
A analista diz que desde maio de
97 já eram percebidos sinais de desaquecimento do consumo, principalmente de bens duráveis.
Um estudo realizado pela Economática revela a mudança de
comportamento do setor.
Em 1994, ano de implantação do
Real, o setor de varejo, na época
representado por três empresas na
Bolsa paulista, encerrou o ano
com alta de 138,4%, ante uma alta
bem mais modesta do Ibovespa,
de 14,8% (números foram deflacionados pelo IGP-DI).
Em 1996, enquanto a Bolsa subiu
49,7%, o setor, agora representado por cinco empresas, teve valorização média de 38,8%. Algumas
empresas, no entanto, tiveram alta
muito superior à do Ibovespa naquele ano: Arapuã PN, 126,9%;
Lojas Renner PN, 68,3%; e Pão de
Açúcar PN, 73%.
No ano passado, mesmo com toda a turbulência emanada da Ásia,
a Bolsa subiu 34,7%, mas o setor
(com seis empresas) caiu 27,9%.
Dentro do novo cenário, a comparação entre Arapuã e Pão de
Açúcar é ilustrativa.
Arapuã PN foi o papel que mais
se beneficiou dos bons tempos de
fartura e tem sido o que mais sofre
desde a crise. As ações da empresa
fecharam 97 com perda de 80,2% e
em 98 já acumulam queda de
38,5% (até dia 18 de fevereiro).
Em contrapartida, Pão de Açúcar PN ainda conseguiu fechar
com pequena alta de 4,9% em 97 e
neste ano já acumula valorização
superior a 20%.
O bom desempenho de Pão de
Açúcar é explicado por dois fatores básicos: seu nicho é o preferido
pelos analistas dentro do setor de
varejo e a empresa está em confortável situação operacional e financeira, dizem eles.
"O ano de 98 será favorável para
quem trabalha com alimento.
Quem comercializa bens duráveis
depende muito mais das taxas de
juro", diz Tracanella.
Pão de Açúcar é a única recomendação de compra que o analista tem em varejo. Para o restante, o conselho é "manter". Só não é
"vender" porque os preços caíram
muito, o que barateou os papéis.
A maior cautela dos analistas recai sobre as empresas que dependem do crediário para vender. Para elas, a expectativa é de um primeiro semestre problemático.
Nesse perfil se encaixa a Globex,
controladora da rede Ponto Frio.
Já refletindo o desaquecimento do
consumo e o aumento das taxas de
juro, a empresa apurou um lucro
de R$ 49 milhões em 97, praticamente a metade do registrado em
96.
O que conta pontos a favor de
Globex é a situação financeira sólida da empresa, segundo analistas.
A rede é pouco dependente de empréstimos bancários e, portanto,
não sofreu tanto com a alta dos juros. Em 97, Globex PN perdeu
63,8%, mas neste ano acumula valorização de 29,6% (até dia 18 de
fevereiro).
Em situação menos privilegiada
está a Arapuã. Também dependente do crediário para impulsionar suas vendas, a empresa foi pega no contrapé com a elevação dos
juros, pois tinha um grande endividamento.
Em seu balancete de setembro de
97, o último publicado, o endividamento bancário líquido da empresa (dívidas de curto e longo
prazo menos os recursos em caixa) era de US$ 420 milhões, mais
de duas vezes o seu patrimônio líquido, de US$ 184 milhões.
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