São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2000


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GUERRA DA CERVEJA
Conteúdo do grampo pode ajudar a explicar suposto suborno no Cade, diz procuradora da República
Fita dá "novo rumo", diz procuradora

Alan Marques - 31.jan.2000/Folha Imagem
A conselheira Hebe Romano, relatora do caso AmBev no Cade


FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

O conteúdo das gravações clandestinas sobre a fusão das cervejarias Brahma, Antarctica e Skol "pode dar um novo rumo às investigações" do caso, segundo disse ontem à Folha a procuradora da República Adriana Brockes.
"Apesar de o grampo ser ilegal", afirmou Brockes, o seu conteúdo poderá ajudar a esclarecer o suposto suborno no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), divulgado por autoridades do governo federal no final de janeiro deste ano e atualmente sendo investigado pela Polícia Federal.
Segundo Brockes, o conteúdo parcial das gravações que a Folha publicou ontem representa "uma novidade" a respeito das pressões e suspeitas no caso da fusão das cervejarias e da constituição da AmBev.
A procuradora disse não estar fazendo juízo de valor, mas considera relevante analisar essas novas informações.
Nos próximos dias, Brockes e o outro procurador da República que acompanha o caso, Osvaldo Barbosa, devem decidir se requisitam cópia das gravações a que a Folha teve acesso.
A fusão das cervejarias Brahma, Antarctica e Skol foi anunciada no ano passado. As três juntas formarão a AmBev. A concretização do negócio depende de o Cade aprovar a operação, pois a nova empresa dominará cerca de 70% do mercado, com um faturamento anual superior a R$ 10 bilhões, o maior do país.

Denúncia de suborno
Em janeiro passado, a conselheira do Cade Hebe Romano, que é a relatora do processo de fusão, disse ter sido informada sobre um caso de suborno na autarquia.
Airton Soares, um advogado que até fevereiro trabalhava para a Associação de Distribuidores da Antarctica (Abradisa), teria dito a Hebe Romano que duas pessoas estariam afirmando ser possível comprar decisões no Cade. Inclusive no caso da AmBev.
O caso foi parar na Polícia Federal. Várias pessoas prestaram depoimentos contraditórios e não há previsão para o final do inquérito.
Agora, com as novas revelações apresentadas ontem pela Folha, os procuradores que cuidam do caso imaginam poder esclarecer um pouco mais o episódio.

Bastidores
Os diálogos aos quais a Folha teve acesso permitem várias interpretações, inclusive a de que pode ter havido alguma ação ilícita no processo de tramitação da fusão das cervejarias. Nessas conversas, os dois interlocutores são favoráveis à criação da AmBev.
Em um desses diálogos, é citado um "médico". Seria alguém responsável por um evento orçado em R$ 250 mil. O tema da conversa é a AmBev.
Uma pessoa pede mais detalhes sobre o médico. Alguém responde tratar-se do "psicossomático" de um conselheiro do Cade.


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