São Paulo, sábado, 23 de março de 2002

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Fundo reprisa erros, afirma Stiglitz

DA REDAÇÃO

O FMI (Fundo Monetário Internacional) está repetindo os erros cometidos na crise da Ásia e piorando a situação da Argentina. A afirmação é de Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2001 e ex-economista-chefe do Banco Mundial.
Em entrevista concedida à agência Reuters em Hanói, Vietnã, Stiglitz disse que a Argentina deveria se concentrar na recuperação da atividade econômica em vez de tentar convencer os mercados financeiros de que seus problemas estão resolvidos. "A preocupação, neste momento, não deveria ser com a inflação, mas sim com o desemprego e o caos social por ele causado."
Stiglitz considerou arriscada a estratégia do Fundo de equilibrar o Orçamento para reconquistar a confiança dos investidores. "O ponto inicial da minha análise é o reconhecimento de que nenhuma atitude tomada pelo governo argentino vai recuperar a confiança do mercado e atrair investimentos no curto prazo. Inevitavelmente os investidores irão esperar para ver o desenrolar da situação", comentou.
Segundo o economista, o uso contínuo pelo FMI de políticas de ajuste que só aumentam a recessão demonstra que o órgão não aprendeu as lições da crise de 1997 na Ásia."Eles estão cometendo os mesmos erros na Argentina", disse. "A recomendação deles para um país em recessão é corte de despesas ou aumento de impostos. Qualquer macroeconomista dirá que estas medidas irão aprofundar a recessão."
Stiglitz disse que o esforço de equilibrar o orçamento pelo aumento de impostos irá falhar. A medida que as pessoas enfrentam dificuldades financeiras e as firmas vão à falência, é mais difícil coletar impostos e a posição fiscal do governo fica mais complicada.
O economista citou o caso da Rússia, que restaurou o crescimento econômico após abandonar as políticas defendidas pelo FMI. Apesar de a Argentina não contar com as receitas de exportação de petróleo que foram essenciais à Rússia, o fundamental do exemplo é que o país ignorou os mercados financeiros. "A Rússia não voltou ao mercado por dois anos, período no qual a desvalorização estimulou a economia. Houve alguma inflação, mas a situação não escapou do controle."
O FMI suspendeu o envio de dinheiro para a Argentina em dezembro, devido ao descontrole dos gastos públicos. Uma missão do FMI visitou o país na semana passada, como primeiro passo pra negociar a aprovação de um novo empréstimo. A missão concluiu que o governo deveria ser mais enfático na redução do gasto público e no esforço para reconquistar a confiança do mercado financeiro.



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