São Paulo, sábado, 23 de março de 2002

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Missão do FMI vai à Argentina no mês que vem

MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY

Num esforço para estancar a desvalorização meteórica do peso, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o governo argentino anunciaram ontem o envio de uma missão oficial do Fundo para Buenos Aires no começo de abril.
O envio da missão dará início às negociações oficiais entre a Argentina e o FMI, suspensas em dezembro passado. O anúncio foi feito depois de um encontro de 90 minutos entre o presidente argentino, Eduardo Duhalde, e o diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler.
Enquanto os dois conversavam num hotel da cidade mexicana de Monterrey, onde ocorre convenção da ONU sobre o financiamento ao desenvolvimento, cambistas vendiam o dólar a 3,10 pesos em Buenos Aires.
"O encontro foi construtivo e amigável", informa o curto comunicado. "Eles instruíram seus colegas para que continuem trabalhando. Espera-se que o FMI vá enviar uma missão negociadora a Buenos Aires no começo de abril."
O presidente argentino e sua equipe tentaram manter tranquilidade, apesar de boatos na Argentina sobre possível feriado bancário na segunda e da demissão do ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov. De cara fechada, o ministro não quis falar sobre o assunto.
A crise argentina monopolizou ontem as conversas em Monterrey. Duhalde fez um "mutirão" diplomático para acelerar o processo de negociações com o Fundo. Convenceu cinco chefes de governo a fazerem apelos pessoais em favor da Argentina ao presidente dos EUA, George W. Bush, durante um encontro privado de cinco horas entre os líderes presentes no México. Como os EUA são os maiores acionistas do Fundo, Bush consegue barrar ou liberar pacotes do FMI.
Os apelos em favor da Argentina foram feitos pelo primeiro-ministro do Canadá, Jean Chrétien, e pelos presidentes do México, Vicente Fox, e do Chile, Ricardo Lagos. De formas distintas, esses chefes de governo mencionaram os esforços feitos pelo atual governo argentino e a urgência do governo Duhalde em receber apoio financeiro do FMI.
O chanceler brasileiro, Celso Lafer, também mencionou a Argentina ao discursar no lugar do presidente Fernando Henrique Cardoso. "A Argentina está fazendo seu melhor em uma situação de extrema dificuldade social e econômica, a fim de estabilizar sua economia. Não existe justificativa para o retardamento no auxílio por parte das instituições internacionais".
Apesar desses apelos, ao menos dois desses líderes confidenciaram a diplomatas que suas preocupações com a Argentina já não se restringem à perspectiva de um acordo com o FMI.
Eles temem que o acordo não seja suficiente para debelar a crise porque seu montante será provavelmente baixo. Fala-se em cerca de US$ 12 bilhões, apenas US$ 3 bilhões a mais que o valor não retirado pela Argentina sob o acordo suspenso em dezembro. Lenicov também manifestou esse mesmo temor a um diplomata latino-americano. Depois do encontro com os líderes de governo, Duhalde daria uma entrevista.



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