São Paulo, sábado, 23 de março de 2002

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TELEVISÃO

Família Marinho pretende conseguir recursos para capitalizar a Globo Cabo, que passa por grave crise financeira

Rede Globo põe à venda parte de emissoras

ELVIRA LOBATO
CHICO SANTOS

DA SUCURSAL DO RIO
Para capitalizar a Globo Cabo, que atravessa grave crise financeira, a família Marinho decidiu se desfazer de parte do capital de suas emissoras que integram a Rede Globo de Televisão. A busca de sócios, de acordo com executivos do grupo, está sendo feita em um circuito restrito de empresários que já têm negócios com a família.
Os Marinho têm participação acionária em 32 emissoras de televisão no país. Segundo a Folha apurou, apenas as cinco emissoras que compõem o núcleo central da rede -as de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Recife (PE), que formam a TV Globo Ltda.- estão fora do processo.
A decisão está na contramão da estratégia expansionista empreendida pela Rede Globo nos últimos anos e é fruto da necessidade de fazer caixa na holding Globopar (Globo Participações), para que essa capitalize a Globo Cabo.
A empresa carrega uma dívida superior a R$ 1,5 bilhão e receberá uma injeção de capital de R$ 1 bilhão de parte dos atuais acionistas. Entre ele está o estatal BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que pode colocar até R$ 284 milhões.
De acordo com executivos do grupo, a estratégia da família Marinho é manter uma participação minoritária nas 27 emissoras de televisão que não compõem o núcleo principal da Rede Globo. As participações atuais variam de 50% a 100%.
A família tem 11 emissoras de TV no Estado de São Paulo, oito no Paraná, sete em Minas Gerais, quatro no Rio de Janeiro, uma em Brasília e outra em Recife. Em princípio, serão negociadas as emissoras consideradas internamente como mais estruturadas em seus mercados.
É o caso de três emissoras do interior do Estado de São Paulo -as de São José do Rio Preto, Bauru e São José dos Campos-, conforme informou ontem o "Jornal do Brasil".

Sem políticos
Um dos critérios para a seleção dos sócios é que não sejam políticos. A organização considera que já há grande presença deles entre seus afiliados.
Levantamento recente publicado pela Folha mostrou que a Rede Globo tem 21 afiliadas ligadas a políticos. Entre eles estão dois ex-presidentes da República (Fernando Collor e José Sarney) e três governadores: Roseana Sarney (PFL-MA), Garibaldi Alves (PMDB-RN) e Albano Franco (PSDB-SE).

Emenda
A redução da participação societária em alguns afiliadas vem sendo cogitada pela Globo há alguns meses, mas só ganhou corpo nas últimas semanas.
De acordo com executivos do grupo, a Globo estaria apenas se antecipando no processo de reestruturação do setor que deve ocorrer com a aprovação da emenda constitucional 222, que está em fase final de votação no Congresso.
A emenda constitucional permitirá a participação imediata de pessoas jurídicas de capital nacional no quadro societário de empresas de comunicação. A participação de empresas estrangeiras terá de ser regulamentada por lei complementar.
De acordo com a legislação em vigor, apenas pessoas físicas, brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos podem ser acionistas de emissoras de televisão no país.
A Globo conta que essa restrição cairá por terra dentro de dois meses, com a aprovação final da emenda no Senado.

Concorrentes
Ainda de acordo com executivos do grupo, os compradores potenciais que estão sendo sondados são concessionários de radiodifusão e parceiros da família Marinho em outras emissoras. A possibilidade de venda para grupos concorrentes (SBT, Record e Bandeirantes) é dada como inadmissível.



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