São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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PREVIDÊNCIA

Após as críticas recebidas, proposta de aumento da contribuição em três pontos percentuais pode ser retirada

Governo já descarta elevar alíquota do INSS

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após as críticas recebidas na semana passada, o governo já descarta levar adiante a proposta de elevar em três pontos percentuais a alíquota de contribuição do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) para pagar a dívida de R$ 12,3 bilhões com os aposentados. A Folha apurou que a proposta "foi rifada", segundo palavras de um dos envolvidos nas negociações.
No sábado, depois de conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Previdência, Amir Lando, divulgou nota oficial na qual afirmava que a proposta não era definitiva e que, "em nenhuma hipótese", os trabalhadores iriam precisar pagar mais para a Previdência.
Estudos do Ministério da Fazenda apontavam que o aumento da contribuição valeria apenas para as empresas. Inicialmente, a proposta foi anunciada com a elevação da alíquota para trabalhadores e patrões como estratégia de negociação.
O objetivo, na verdade, seria chegar a uma proposta final mais amena com o aumento da cobrança apenas para as empresas, que hoje recolhem 20% sobre a folha de pagamento como contribuição previdenciária -para os empregados, as alíquotas vão de 7,65% a 11%, de acordo com a faixa salarial.
A saraivada de críticas contra a medida -várias vindas de integrantes do próprio governo e grande parte do setor produtivo- acabou tornando o aumento da contribuição previdenciária politicamente inviável. Um dos motivos para isso teria sido o "timing" errado para a divulgação da proposta, na opinião de integrantes do governo envolvidos na negociação.

Pai da idéia
A idéia de elevar a contribuição previdenciária partiu do Ministério da Fazenda. A equipe de Lando defendia, por exemplo, o aumento da alíquota da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). A área econômica avaliou que a Cofins já tinha sido majorada -passou de 3% para 7,6% em fevereiro deste ano- e que uma nova elevação causaria mais desgaste para o governo.
No fim de semana, além de conversar com o presidente, Lando falou por telefone com os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Ricardo Berzoini (Trabalho). Berzoini foi um dos que criticaram publicamente a elevação da contribuição previdenciária na última sexta-feira.
Na conversa, Palocci teria dito a Lando que iria publicamente se solidarizar com a Previdência, ao afirmar a importância de buscar uma fonte de financiamento para a dívida. A assessoria do ministro da Fazenda confirmou ontem que Palocci está preocupado com o assunto e deverá comentá-lo nos próximos dias.
Embora a negociação com os aposentados sobre o acordo para o pagamento continue como previsto, a intenção é não focar a discussão em fontes de receita.
Setores do governo avaliam que é melhor ganhar tempo na definição da forma de financiamento da dívida -o que pode levar a proposta de aumento da contribuição previdenciária a ser reapresentada.
Não há pressa porque, para corrigir as aposentadorias e pensões neste ano a partir de julho -como foi proposto para os aposentados-, já há R$ 1 bilhão em recursos no caixa do INSS. Pelos cálculos da área econômica, seria necessário R$ 1,1 bilhão para corrigir os benefícios a partir do segundo semestre.
No entanto, como a correção dependerá de adesão prévia dos aposentados ao acordo do governo, a expectativa é que a despesa efetiva em 2004 acabe sendo menor, pois as adesões serão graduais.
Já o pagamento da dívida -atrasados dos últimos cinco anos- seria parcelado, com a primeira prestação prevista para o ano que vem.
Entre as possibilidades em estudo para financiar o acordo com os aposentados estão medidas na área de arrecadação da dívida ativa da Previdência. O total de débitos com o INSS se aproxima de R$ 200 bilhões. O governo também aguarda sugestões do Congresso para fechar o acordo.
A dívida do governo foi originada em 1994. De março daquele ano a fevereiro de 1997, o INSS calculou indevidamente as aposentadorias. Não foi aplicado o IRSM (Índice de Reajuste do Salário Mínimo) no cálculo do benefício. Além do passivo de R$ 12,3 bilhões, o governo precisará corrigir os benefícios, o que terá um impacto anual de R$ 2,3 bilhões.


Colaborou Sílvia Mugnatto, da Sucursal de Brasília


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