São Paulo, terça, 23 de março de 1999
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LUíS NASSIF

O caso Lightpar

Minoritários da Lightpar procuram a coluna para dar sua versão sobre o episódio de elevação das cotações do papel. Como se sabe, a Eletrobrás transferiu para a Lightpar os direitos de exploração das linhas de transmissão para negócios de telecomunicações -um presente milionário. Com isso, beneficiou minoritários que possuíam 18,5% do capital da empresa.
Minoritários que adquiriram papéis recentemente consideram que as negociações foram feitas, em grande parte, por pequenos investidores, comprando participações mínimas -dada a pouca liquidez do papel.
Afirmam que parte da pressão sobre a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para que paralise os negócios com ações da empresa, se deve aos fundos energéticos (que trabalham apenas com ações do setor elétrico). A comparação de seu desempenho é com o IEE, o índice das empresas elétricas cotadas em Bolsa. Eles trabalham, em geral, com taxas de performance -percentuais sobre o rendimento que superar o IEE. Com o estouro das ações da Lightpar, puxando o IEE, esses fundos ficarão provavelmente os próximos dois anos sem receber nada dos seus investidores.
Em 12 de fevereiro, a Eletrobrás chamou o mercado -mais de 150 pessoas- e apresentou o protocolo de intenções, com estudo de viabilidade. De lá para cá, não surgiu nenhuma informação nova relevante para o mercado.
As compras pesadas teriam começado a ocorrer bem depois da reunião do dia 12, só após o mês de março, descaracterizando a chamada informação privilegiada. Assim, o movimento de compra de ações teria partido de investidores que, tendo acesso às mesmas informações, tiveram mais tino para perceber o potencial do negócio.
Os dados levantados pelo sistema Economática confirmam essa versão. Entre novembro do ano passado e fevereiro deste ano as cotações oscilavam entre R$ 0,58 e R$ 0,70 por lote de mil. A partir do dia 4 de março é que começa a escalada de alta.
Em relação ao volume negociado, em bases quinzenais, de 1º de novembro a 1º de janeiro, a quantidade de títulos negociados oscila entre um mínimo de 71 milhões e um máximo de 242 milhões. A partir da primeira quinzena de março é que as negociações explodem, chegando a 898 milhões de títulos negociados.
Em relação ao volume financeiro, até 1º de março, o volume quinzenal foi de um máximo de R$ 177 mil (segunda quinzena de novembro) ao mínimo de R$ 44 mil (segunda quinzena de dezembro). Na quinzena que antecedeu a reunião, o volume foi de R$ 49 mil e, na quinzena que sucedeu a reunião, de R$ 85 mil. Na primeira quinzena de março, explodiu para R$ 6 milhões.
Investidores podem ter tentado tirar partido da alta da Lightpar para influenciar o Índice Bovespa. Mas não há evidências até agora de que tenha ocorrido vazamento de informações -no sentido de informações relevantes, não adiantadas na reunião do dia 12 de fevereiro.
Alguma pista poderá ser obtida se, de alguns meses para cá, houve compra sistemática de papel por algum grande investidor que, de alguma forma, tenha participado do desenho da nova empresa.
A questão central continua sendo a Eletrobrás explicar adequadamente por que beneficiou a Lightpar com esse presente.

Colheita no campo
A safra brasileira será a melhor dos últimos dez anos. A opinião é de Ricardo Conceição, diretor da Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil.
Em meados do ano passado, com as taxas de juro crescendo, o BB interrompeu os financiamentos com a chamada "63 caipira" -empréstimos em dólares. Nenhuma operação foi feita, a não ser alguma rolagem durante toda a safra. Assim, a maior parte dos custos da safra foi em reais e a receita será em dólares.
A liberação do câmbio melhora substancialmente a receita, por dois motivos. De um lado, por melhorar a receita de exportações. De outro, por dificultar a importação de alimentos -que ficarão mais caros.
Até 94, o setor agrícola foi um desastre. Os anos de 1995 e 1996 foram de arrumação, de renegociação de débitos, ao mesmo tempo em que o câmbio reduzia substancialmente a renda agrícola.
Agora, chegou a hora de a colheita chegar ao campo.

E-mail: lnassif@uol.com.br


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