São Paulo, terça, 23 de março de 1999
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BOLSAS
Alta exagerada da ação de elétrica provocou distorções no mercado futuro e levantou suspeita de manipulação
Lightpar ficará fora do Índice Bovespa

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

A ação ON (com direito a voto) da Lightpar, que causou uma reviravolta no mercado brasileiro após a alta de 2.474% do preço em março, vai sair do índice da Bolsa de Valores de São Paulo, o chamado Índice Bovespa.
É o que sinaliza a primeira prévia da composição do novo índice, que passa a vigorar em maio. A prévia foi divulgada ontem à tarde, oito dias antes do previsto, a pedido do mercado, segundo a Bolsa de Valores de São Paulo.
O índice Bovespa é uma espécie de carteira fictícia que contém, pelo menos teoricamente, as ações mais negociadas no mercado.
Os papéis que fazem parte dessa carteira e seu peso relativo mudam a cada quatro meses. Utiliza-se como base para o cálculo os últimos 12 meses.
No caso da Lightpar ON, a forma de cálculo do índice Bovespa levou a uma distorção. A Lightpar, que tinha papéis da Eletrobrás e força, tornou-se um casco sem conteúdo em reestruturações de setembro de 98. Mas a forma de cálculo do índice encobriu essa mudança.
Com isso, uma empresa com menos de R$ 1 milhão de ações em Bolsa acabou influenciando no índice e mexendo com um mercado de R$ 200 bilhões.
Com uma valorização ainda inexplicada de 2.474% em março, a pequena Lightpar ON acabou puxando para cima o índice Bovespa também na Bolsa de Mercadorias & Futuros.
Desde o dia 16, Lightpar ON está fora da Bolsa, por determinação da Comissão de Valores Mobiliários, que está investigando a existência de "informação privilegiada" por parte de investidores no caso.
Com a Lightpar de fora, os especuladores correram atrás de outros papéis semelhantes, de empresas com pouco capital no mercado. É possível puxar a ação dessas empresas para cima com poucos recursos, pouco mais de R$ 100 mil, e influenciar o Ibovespa futuro.
Mas a primeira prévia do Ibovespa de maio mostra que também essas ações vão ficar de fora do índice: saem Ericsson PN (sem direito a voto), Sharp PN, Acesita PN, Belgo PN, Ceval PN, Cosipa PNB, Emae PN e Unipar PNB.
Para alguns analistas, não há "informação privilegiada" no "caso Lightpar", mas só manipulação de mercado. Os investidores pretendiam ganhar vendendo Índice Bovespa Futuro.
Segundo especialistas, a queda de 2,84% na Bolsa, ontem, pode ser atribuída às novidades no Ibovespa. Sem a Lightpar ON e outras ações de fácil manipulação, o Ibovespa pode perder sua força.

Dívidas em dólar
O presidente da CVM, Francisco da Costa e Silva, disse ontem, em Brasília, que o "caso Lightpar" está sendo tratado como "prioridade" na entidade.
Costa e Silva esteve ontem no Ministério da Fazenda para conversar com o ministro Pedro Malan.
No encontro, segundo o presidente da CVM, foi discutida a possibilidade de a entidade permitir que as empresas com dívidas em dólar diluam em seus balanços o registro das perdas provocadas pela desvalorização cambial em 99.
Costa e Silva afirmou que a CVM anunciará uma decisão sobre o assunto até amanhã. Ele afirmou que a tendência da entidade é aprovar a permissão.


Colaborou a Sucursal de Brasília



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