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RECEITA ORTODOXA
Anne Krueger diz que proposta brasileira de alterar superávit primário não será discutida em reunião
Cálculo fiscal não deve mudar, aponta FMI
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A diretora-gerente interina do
FMI (Fundo Monetário Internacional), Anne Krueger, indicou
ontem, em Washington (EUA),
que não devem ocorrer mudanças no critério adotado pelo Fundo para calcular o superávit primário (receitas menos despesas,
exceto o pagamento de juros) em
países endividados como o Brasil.
A mudança na regra de cálculo é
uma sugestão do Brasil, que quer
retirar da conta de despesas os
gastos com investimentos em infra-estrutura.
Krueger afirmou, no entanto,
que o que o Brasil e outros países
endividados deveriam fazer é
"realocar gastos" e "gerenciar as
atividades do governo a fim de
torná-las mais efetivas".
"O Brasil, por exemplo, onde a
dívida é um problema, tem uma
carga tributária de 33% do PIB.
Claramente, há muitos gastos que
nada têm a ver com [o pagamento
da] dívida e há espaço para realocações. Acho que isso deveria ser
feito", disse Krueger.
A afirmação foi feita durante
entrevista na reunião anual do
FMI. O ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) e o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, chegam hoje a Washington
para o encontro.
Krueger também deixou claro
que a proposta brasileira de alterar o critério para o cálculo de investimentos não fará parte das
discussões dos próximos dias em
que o Fundo estiver reunido.
Segundo a Folha apurou, o FMI
já deu indicações ao governo brasileiro de que não vê com bons
olhos a mudança no critério de
cálculo do superávit primário.
Nos próximos dias, o Fundo deve divulgar o resultado de consultas e de seminário interno sobre o
assunto, que inclusive já foi tema
de conversa entre os presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e
George W. Bush (EUA).
O trabalho deverá cercar o tema
por vários aspectos, mas não implicará mudança na regra atual.
"A questão é: no caso de países
onde a dívida já é suficientemente
alta e onde novos empréstimos
somente tornarão a situação pior,
qual é a decisão apropriada? É
com isso que estamos nos debatendo", disse Krueger.
Ela afirmou também que os investimentos em infra-estrutura
podem gerar um "pouco de crescimento de um lado, mas um custo muito maior de outro" se tiverem impacto sobre a situação macroeconômica.
Parcerias
A diretora-gerente interina do
FMI pôs em dúvida até a sustentabilidade, em termos fiscais, de
projetos de infra-estrutura realizados via PPP (Parcerias Público-Privadas) -modelo perseguido
pelo Brasil.
"O problema é que essas parceiras podem ser muito, muito diferentes", disse Krueger.
Segundo ela, as PPP "acabam ficando no meio do caminho" entre projetos em que ou o governo
ou a iniciativa privada assumem
todo o custo. Ou seja: há dificuldade em determinar quanto do
dinheiro aplicado acaba saindo
do Orçamento, que deveria estar
sob estrito controle.
Krueger afirmou que o FMI está
"fazendo progressos nos estudos"
sobre o assunto e que suas conclusões serão conhecidas "em breve". A diretora-gerente interina
do Fundo afirmou também que
seu "interesse" é que os países endividados equilibrem seus Orçamentos para poder "fechar o foco
em questões sociais, nos investimentos em infra-estrutura e em
outras prioridades".
Na mesma linha, o presidente
do Banco Mundial, James Wolfensohn, afirmou que, mesmo sobre pressões sociais, os países endividados devem "cumprir suas
responsabilidades e obrigações".
"Assim como um país, qualquer
pessoa pode querer deixar de
honrar seu cartão de crédito e
suas dívidas no banco para pagar
por uma educação melhor para o
seu filho", disse. "Mas a regra é
clara: se você quiser continuar no
jogo, é preciso continuar cumprindo as suas obrigações", complementou Wolfensohn.
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