São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

A gasolina e o petróleo a US$ 120


Governo não dá sinal de que vá permitir reajuste do preço do combustível. Petróleo já subiu 88% em um ano

FAZ UMA semana, voltou o zunzum do aumento da gasolina. Mas, ao ouvir menção a reajuste, o governo reage como se o autor da questão fosse um enviado da peste. Por ora, o pessoal do governo dá a impressão de que, mesmo com o petróleo a US$ 120, a gasolina fica onde está até o fim de 2008, dado que o ano será dominado pela eleição e pontuado por altas de juros.
No médio prazo, mais um ano e pouco, o prejuízo do controle de preço fica para poucas empresas e para acionistas da Petrobras. O resto do país ganha com o subsídio e com alguma ajuda no controle da inflação. Enfim, a Petrobras não está deixando de produzir e exportar mais devido ao preço controlado da gasolina. Ademais, reajusta outros derivados, como querosene, gás e aqueles que servem para fazer plásticos, indústria que está apanhando.
Mas, caso o preço do petróleo continue além do recorde histórico por mais um ano e pouco, o caldo começa a azedar um tico para a estatal petrolífera, que fica com menos caixa para se expandir e para melhorar a infra-estrutura de produção e distribuição, o que tende a se tornar um prejuízo geral. Mesmo na China, a PetroChina e a Sinopec querem mais compensações do governo por vender combustível barato, a preço controlado (são importadoras líquidas de petróleo, em menor escala também o caso da Petrobras).
Nesta semana, os sauditas enfim disseram, no Fórum Internacional de Energia, que por ora não têm mais de onde tirar petróleo. A Arábia Saudita é o país com maior capacidade de aumentar a produção na Opep. O resto do mundo dispõe de ainda menos capacidade, por ora. Os sauditas dizem que a Opep vai aumentar seu potencial de produção em 5 milhões de barris por dia.
Até 2012. Hum. Segundo a Agência Internacional de Energia, a demanda mundial era de 82,5 milhões de barris por dia em 2004; a oferta era de 83,4 milhões. Em 2007, a demanda foi a 85,8 milhões e empatou com a oferta. Em três anos, a demanda subiu mais de 3 milhões de barris.
Isto é, se o mundo continuar a beber petróleo assim, o óleo extra da Opep "não vai dar pra todo mundo". Desajustes pequenos entre oferta e demanda detonam os preços. Em Nova York, o petróleo estava ontem 88% mais caro que em abril de 2007.
Neste ano, subiu 24%. A inflação e a queda do dólar ajudam a elevar os preços da commodity. Há especuladores na jogada, mas ninguém sabe o quanto pesam no preço. De resto, como perguntava ontem o economista Paul Krugman em artigo no "New York Times" (traduzido nesta Folha), "ok, há especulação, mas onde estão os estoques"? Não há.
Há guerra civil na Nigéria, o maior produtor africano, há o rolo americano no Iraque, rolos no Irã, produção no pico ou declinante na Rússia, no México etc., e falta de capacidade de refino no mundo todo (aliás, por que o mercado de refino não reage ao estímulo de preço?).
Até os EUA consomem menos gasolina, mas os emergentes substituem os americanos com folga. Emergentes emergindo, dólar fraco e caindo (até 2009?), inflação nos EUA largada até 2009 e solta no mundo até não se sabe quando, tudo isso seria, em tese, motivo para o barril ficar ainda mais caro. Mas mercados são imprevisíveis.

vinit@uol.com.br


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