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Para advogados, Zylbersztajn foi truculento, autoritário e fanfarrão
EUNICE NUNES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Truculento, autoritário, desatinado, fanfarrão, prepotente. Esses
foram adjetivos usados por professores de direito e advogados ao
comentar a declaração do diretor-geral da ANP, David Zylbersztajn,
de que quem recorrer à Justiça
contra as medidas de racionamento de energia "vai ganhar de
presente o apagão".
"Uma atitude truculenta, no
mesmo estilo do governo Collor.
As medidas são ilegais. E, quer o
governo queira ou não, no Judiciário, o que acaba prevalecendo é
a legalidade", afirma o advogado
Saulo Ramos, ex-ministro da Justiça do governo Sarney.
"Truculento e autoritário. Ninguém pode ser punido por recorrer à Justiça. Ele que vá ao Supremo com uma ação direta de constitucionalidade para que não pairem dúvidas sobre a legalidade do
pacote", critica Plínio José Marafon, advogado tributarista.
"É um desatino. O diretor da
ANP perdeu a capacidade de raciocinar. Mostra que o governo
está frontalmente contra uma das
principais garantias do Estado de
Direito, que é o recurso ao Judiciário", diz Fábio Konder Comparato, professor titular da Faculdade de Direito da USP.
"Uma manifestação insolente
de um prepotente. Todo cidadão
tem o direito de ir à Justiça, e qualquer governo civilizado tem de
aceitar isso", declara Manoel
Gonçalves Ferreira Filho, também professor titular da USP.
"Ironizar e tentar chantagear os
juízes são métodos ilegítimos e
antidemocráticos", disse o presidente da Associação dos Juízes
Federais do Brasil, Flávio Dino.
"Uma fanfarronice. Mas, quando a União se tornar ré, no curso
do processo, esse tipo de afirmação pode ser qualificada como
coação", diz João Piza, advogado
especialista em direito público.
Comparato salienta que as medidas do governo são ilegais e
nem sequer atendem ao caráter
de urgência necessário para implementá-las por meio de MP.
"Não é urgência. É negligência.
O anúncio do colapso energético
foi feito desde o começo do atual
governo", afirma.
Seguindo o mesmo raciocínio,
Ferreira Filho indaga: "Suponhamos que a população aceite tudo
o que eles querem. Isso nos livra
do apagão? Não. A situação é resultado de incúria, imprevidência
e negligência do governo".
Todos consideram, em tese, o
plano de racionamento de energia
ilegal, mas ponderam que é preciso conhecer o texto da MP que o
institui para definir o que significa
juridicamente a sobretaxa.
Dependendo do destino que for
dado ao dinheiro, ela pode configurar um aumento de tarifa -se
entrar no caixa da empresa concessionária- ou um tributo -se
for para o bolso do governo.
"Se ficar com o governo, pode
chegar a caracterizar um confisco.
Se ficar com a concessionária, fica
evidente o rompimento do princípio da modicidade da tarifa",
sustenta Eros Roberto Grau, também professor titular da USP.
Medida inconstitucional
A seção do Rio da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) vai encaminhar um ofício ao Conselho
Federal da entidade solicitando a
arguição da inconstitucionalidade da medida provisória do racionamento de energia.
A OAB do Rio também anunciou que entrará na Justiça com
uma ação civil pública na tentativa de impedir a cobrança de sobretaxas de até 200% previstas pelo "ministério do apagão". Outro
objetivo da ação é tentar impossibilitar qualquer interrupção no
fornecimento de energia.
Segundo o presidente da OAB-RJ, Octávio Gomes, as medidas ferem a Constituição e o Código de
Defesa do Consumidor.
Sobre a declaração de Zylbersztajn de que os juristas que são
contra o racionamento "vivem
em Marte", Gomes respondeu:
"Se os juízes estavam em Marte, o
governo estava em Saturno, para
deixar a crise chegar no apogeu e,
agora, jogar a culpa no cidadão".
Colaboraram Patrícia Zimmermann, da
Folha Online, em Brasília, e a Sucursal do
Rio
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